São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2005

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CRÍTICA

Trajetória de lutador soa como conto de fadas

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Baseado na história do ex-campeão James Braddock, ""A Luta pela Esperança" soa como um conto de fadas americano. Mas há uma justificativa para esse tom: a trajetória de Braddock justifica seu apelido de ""Cinderella Man".
Embora tenha como cenário o ringue, o filme trata, no fundo, de família, honra, perseverança e sobrevivência. A história de Braddock, sua mulher e filhos se passa nos anos 30, durante a Grande Depressão.
É quando Braddock vê sua carreira desmoronar ao ser batido pelo campeão mundial dos meios-pesados e ter a sua licença cassada. Impedido de boxear, e após perder todos os bens, sua rotina se torna um espelho do cotidiano dos milhões de americanos que tinham como maior ambição a sobrevivência. Por meio de bicos, auxílio do governo e de amigos, o orgulhoso ex-pugilista luta para alimentar a família.
É aí que sua vida sofre uma virada. Ao ser chamado de última hora para servir de ""escada" para um pesado promissor, o massacra, o que culmina em uma disputa de título contra o favoritíssimo Max Baer.
Braddock entrou para a história como o autor da maior zebra de todos os tempos -feito que foi superado apenas nos anos 90, quando o azarão ""Buster" Douglas pôs Mike Tyson na lona. Era dono de um dos piores cartéis de um futuro campeão (44 vitórias, 23 derrotas e 4 empates) ao pegar Baer.
Como em todo conto de fadas é necessário um vilão, os roteiristas erraram ao retratar Baer e cometeram injustiça histórica. É na passagem em que o campeão afirma que consolará a mulher de Braddock depois de matá-lo -alusão ao fato de um rival de Baer ter morrido após o castigo que recebeu no ringue. Baer ficou conhecido como playboy, mais interessado em festas. No entanto, seria incapaz de tais atos de crueldade. Tal liberdade não é novidade em filmes do gênero. ""Hurricane, o Furacão", por exemplo, dá a entender que Rubin Carter só não foi campeão porque foi roubado.
A recriação de época é perfeita: os pequenos ginásios, o Madison Square Garden (o templo do boxe), os programas (publicações promocionais vendidas nos combates) etc.
Mas quem for ao cinema esperando outro ""Menina de Ouro" sairá decepcionado. ""A Luta" é edificante, mais leve e não tão denso dramaticamente, apesar das cenas de miséria. Como bônus, quem assistir ao filme verá o veterano treinador Angelo Dundee, 82, que dirigiu Muhammad Ali, Carmen Basilio, Maguila, entre outros. Sua presença serve como uma ""ponte" entre o presente e a era representada no filme.


A Luta pela Esperança
Cinderella Man
   
Direção:
Ron Howard
Produção: EUA, 2005
Com: Russell Crowe, Renée Zellweger
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Lar Center e circuito



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