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Crítica/poesia
Poemas comentados são destaque em nova antologia
ALCIDES VILLAÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A "Antologia Comentada
da Poesia Brasileira do
Século 21" encaminha
duas respostas possíveis para a
pergunta: E a poesia brasileira
de hoje, como vai indo? A primeira é dada pelo painel de
poemas de 70 poetas que estão
produzindo ou produziram até
há pouco; a segunda se faz sob a
forma de um sucinto comentário crítico sobre a obra de cada
um deles. Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha, assumiu
a responsabilidade dupla da escolha e dos comentários, estabelecendo assim, de modo sistemático, um vínculo direto
entre poesia e crítica. São tarefas difíceis e necessárias.
O painel de poetas, que cobre
dos veteraníssimos aos novíssimos (e alguns que nos deixaram há pouco), abarca todas as
tendências mais visíveis da
poesia recente. A largueza do
leque abre as opções, e cada
poeta dá corpo à sua, com o seu
dizer. Assim se vai fazendo a
história, inclusive a da literatura -e não como o evidente
equívoco de "um lançar o olhar
sobre o passado imobilizado",
que o antologista achou necessário recriminar. E que olhar
lança ele sobre a poesia atual,
vista de imediato "como um organismo vivo, em constante
mutação, sujeito a avaliações
no calor da hora, juízos provisórios e apostas"?
Critérios de análise
Por desconfiar de juízos provisórios ou improvisos críticos,
Manuel da Costa Pinto estabeleceu critérios para aproximação e fixação do olhar em tão
múltipla matéria. Assim é que
apresenta e comenta os poetas
localizando-os no espaço e/ou
no tempo de sua geração, dando notícia sobre eventual filiação estética, deduzindo uma
atitude existencial básica e, sobretudo, relevando os procedimentos formais que dão assinatura a cada um. Pois o antologista acredita ser hoje mais ou
menos consensual a idéia de
que "a poesia é um artefato, fruto de um labor textual cuja fatura nada tem a ver com inspiração ou estados de espírito iluminados". Aqui, discordo: da
artesania verbal à expressão da
poesia o caminho é longo, e eu
nunca soube definir exatamente o que ocorre no meio ou depois do fim. Alguém sabe?
Descrição objetiva
O exercício do gosto artístico,
sobretudo diante de tantos e
tão diferentes poetas e poemas,
costuma equilibrar-se no fio de
navalha entre o arbítrio e o motivo. O autor da antologia submeteu-se a essa difícil prova,
buscando descartar idiossincrasias e, na medida do possível, descrever de modo objetivo
as qualidades de cada poeta, incluindo as tensões e a linha de
alcance de sua linguagem pessoal. Muito oportunamente,
Manuel da Costa Pinto apoiou-se, para comentar cada caso,
em imagens ou construções
dos poemas escolhidos, exercitando a leitura crítica em contato atento e estreito com o objeto. É o ponto forte dessa antologia. Como os poetas reunidos
trazem consigo seja a obra já
consagrada, seja a promissora
iniciação, o exercício de uma
relativamente democrática distribuição do espaço do livro fala
muito da disciplina do antologista, visivelmente contido
também nos juízos de valor.
A poesia oferecida incitará
nos leitores as reações agudas
ou distanciadas que o gosto da
formação de cada um manifestará diante dos poemas e dos
comentários. A mim me agradou particularmente a oportunidade de viajar por tantas e tão
distintas vozes da poesia brasileira atual na companhia de um
olhar crítico que se oferece,
com coragem, à crítica do leitor.
ALCIDES VILLAÇA é professor de literatura
brasileira na USP.
ANTOLOGIA COMENTADA DA POESIA BRASILEIRA DO SÉCULO 21
Autor: Manuel da Costa Pinto
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 39,90 (384 págs.)
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