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Ex-Miss Canadá, iraniana lança CD com viés politico
Nascida em Teerã, Nazanin radicou-se no Canadá,
onde é comparada a Angelina Jolie pelo engajamento
Com 28 anos, a cantora integrou a Força Aérea, estudou relações internacionais e ciências políticas e criou uma ONG
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Canadá pode ter, qualquer
dia desses, uma primeira-ministra linda, bem-humorada e
inteligente. A cantora iraniana
Nazanin Afshin-Jam, 28, não
descarta a hipótese de se candidatar ao posto e já ensaia discursos em seu primeiro CD,
"Someday", lançado há dois
meses. Chamada de "a nova
Angelina Jolie" na América do
Norte, Nazanin compõe letras
que falam da situação política
mundial e tenta chamar a atenção para problemas sociais.
Foi assim que ela se tornou a
queridinha do momento. Nazanin, porém, não é só uma mulher bonita e cheia de boas intenções. Cadete da Força Aérea
Canadense, ela fez faculdades
de relações internacionais e de
ciências políticas, especializou-se em Paris e abriu uma ONG
para ajudar crianças e jovens
que vivem no corredor da morte iraniano, a "Stop Children
Executions", que já conseguiu
uma libertação.
Há quatro anos, tornou-se
Miss Canadá e descobriu que,
assim, chamava mais atenção
para sua luta. Era o empurrãozinho que faltava para se lançar
cantora, já que sempre gostou
de música. Interessada em ritmos espanhóis e árabes, é fã de
Shakira e Manu Chao.
Nesta entrevista à Folha, por
e-mail, ela fala sobre seu primeiro trabalho fonográfico e
conta a história da sua família,
que precisou deixar o Irã quando tinha um ano e, no Canadá,
a ensinou a falar persa.
FOLHA - Seu primeiro CD, "Someday", tem letras politizadas e até
canção persa. Cantar é uma forma
de fazer com que as pessoas pensem
no que acontece hoje no mundo?
NAZANIN AFSHIN-JAM - Tento usar
a música como um veículo para
promover mudanças e fazer
justiça social, mas nem todas as
músicas têm conteúdo político.
Algumas são sobre o amor e até
mesmo sobre Deus.
FOLHA - Por que você gravou uma
música em persa?
NAZANIN - Eu canto "Goleh
Sang", que é uma música de
amor tradicional persa. Quis
incluir essa canção para homenagear a minha cultura.
FOLHA - "Someday", a música, fala
sobre o momento em que o Irã foi
submetido às leis islâmicas e sobre
"encontrar um caminho" algum dia.
Que caminho é esse?
NAZANIN - Na música "Someday", eu tento dar esperança às
pessoas que estão oprimidas
pelo regime islâmico no Irã. Eu
canto "nós encontraremos um
caminho". O caminho, eu acho,
será quando a comunidade internacional se unir e condenar
as autoridades iranianas por
violarem brutalmente os direitos humanos. Os iranianos querem liberdade, eles são reprimidos, presos, torturados e,
muitas vezes, executados.
FOLHA - No clipe dessa música você aparece fazendo um discurso como se fosse chefe de Estado. Você
pensa em seguir a carreira política?
NAZANIN - Sou formada em
ciências políticas e relações internacionais e considerava, na
época da faculdade, seguir carreira na área diplomática ou em
entidades de desenvolvimento
social. Porém, percebi que as
pessoas dão mais atenção ao
que dizem estrelas do esporte e
celebridades. Foi então que entrei nos concursos. Ganhei o
Miss Canadá e fiquei em segundo lugar no Miss Mundo. Com
isso, pude viajar e falar sobre os
problemas sociais. Muitas pessoas começaram a escutar o
que dizia. Um partido canadense sugeriu que eu concorresse
às eleições. Não penso nisso
agora, porque não quero desviar meu trabalho com luta por
direitos humanos, mas não descarto essa possibilidade. Quem
sabe não posso concorrer ao
cargo de primeira-ministra?
FOLHA - Você criou a ONG "Stop
Children Executions" para salvar
menores do corredor da morte. No
site da entidade, diz que há 75 deles
aguardando a execução no Irã. O
que essas crianças e jovens fizeram?
NAZANIN - No Irã, eles consideram "transgressões" uma série
de coisas que aqui, no Ocidente,
não são. Por exemplo, há dois
anos, dois adolescentes foram
enforcados porque estavam engajados no movimento homossexual. Muitos dos menores
que estão no corredor da morte
são acusados de assassinatos,
mas eles alegam autodefesa.
Grande parte foi terrivelmente
abusada sexualmente e matou
seu agressor por não agüentar
mais a situação. A ONG foi criada para informar as pessoas sobre esses menores. O Irã é o
único país do mundo que oficialmente executa adolescentes. Estamos tentando pressionar as autoridades e circulamos
um abaixo-assinado no site
(www.stopchildexecutions.com) contra isso.
FOLHA - Você ajudou a salvar da
morte Nazanin Mahabad Fatehi, 19,
condenada no ano passado por matar seu estuprador. Isso seria possível se você não fosse conhecida?
NAZANIN - Eu acredito no poder das pessoas e em como elas
podem fazer a diferença. Você
não precisa ser uma miss para
ajudar os outros. Mas é claro
que o título me ajudou a atrair a
atenção para o assunto.
FOLHA - Seu pai foi torturado no
Irã. O que ele fez?
NAZANIN - Meu pai era gerente
do hotel Sheraton no Irã e permitia que houvesse música e
bebidas alcoólicas para os hóspedes quando isso foi proibido
pelas leis islâmicas. Eles prenderam meu pai, o torturaram e
queriam matá-lo. Milagrosamente, foi libertado, mas o horror daqueles dias ainda assombra nossa família. No dia em
que foi solto, ele não podia andar. Quando melhorou um
pouco, voou para a Espanha e
fomos dois meses depois. Após
um ano, nos mudamos para o
Canadá, onde estamos até hoje.
FOLHA - Você já voltou ao Irã?
NAZANIN - Não. É um sonho,
mas acho que seria perigoso,
por causa das minhas ações.
FOLHA - O que acha de ser chamada de "a nova Angelina Jolie"?
NAZANIN - É uma honra. Eu
respeito o fato de ela usar sua
fama para atrair a atenção para
assuntos que mostram atrocidades contra os direitos humanos. Porém, obtive minha licença para pilotar avião antes
dela, quando tinha 16 anos...
Por outro lado, ainda não encontrei um segundo Brad Pitt...
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