DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das primeiras bandas a usar a internet como arma e crescer exponencialmente, o Arctic Monkeys exalava juventude em seu primeiro disco, "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not", de 2006. Neste "Humbug", o terceiro, a banda inglesa torna-se adulta -mas sem ficar careta.
Músicas sobre garotas em pistas de dança, letras centradas no estilo de vida "working class", o pub como centro do mundo. A vida de garotos normais de 20 anos estava em "Whatever People..." e em "Favourite Worst Nightmare", o segundo álbum.
Mas Alex Turner, principal letrista e vocalista do Arctic Monkeys, não é mais um garoto "normal" -é um cara de 23 anos que vendeu mais de três milhões de cópias de seus dois primeiros discos.
Para não soar falso, para não cair na mesmice, Turner tornou-se menos direto e confessional nas letras, e a música da banda ganhou peso e toques psicodélicos. Se nos dois primeiros discos o AM teve a ajuda na produção de James Ford (uma das metades do eletrônico Simian Mobile Disco), em "Humbug" eles chamaram Josh Homme, vocalista e guitarrista da roqueira Queens of the Stone Age. Homme trabalhou em sete faixas; Ford, em apenas três.
As guitarras agudas e quebradas, características da banda, permanecem no centro das músicas, mas com acento mais agressivo e pesado. "My Propeller" cheira a anos 1970, à fase mais colorida do Led Zeppelin; "Secret Door" nos ganha com a cadência incansável do vocal de Turner.
Poucas bandas no rock têm a coragem de mudar de direção de um disco para outro; o Arctic Monkeys muda de música a música -ou, uma mesma música parece se dividir em duas, três. "Potion Approaching" e "Pretty Visitors", por exemplo, são rápidas, lentas, pesadas... uma polifonia em menos de quatro minutos (cada uma).
"Cornerstone" é uma balada que vem (ainda bem) com quase nada de açúcar; é seguida pela tensa e não mais rápida "Dance Little Liar" -dupla que faz o AM parecer uma banda com anos de estrada. (THIAGO NEY)