São Paulo, quarta, 9 de setembro de 1998

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E a cor dançou com Oiticica


Artista plástico de vanguarda, com obras em exposições no Brasil e no exterior, Hélio Oiticica (1937-1980) participa da próxima Bienal com trabalhos que mostram como a cor ganhou espaço e movimento


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Com criações inovadoras -como bólides, parangolés e penetráveis- o artista plástico carioca Hélio Oiticica (1937-1980) construiu, em 25 anos de carreira, não apenas uma obra, mas um novo vocabulário de formas, sensações e atitudes para a produção artística contemporânea brasileira (leia quadro ao lado).
Atualmente, é difícil encontrar uma mostra de peso que gire em torno de questões estéticas levantadas nos anos 50 e 60 que não conte com uma obra do artista.
Oiticica, que já mostrou seu valor na mostra Documenta de Kassel (Alemanha) no ano passado, tem espaço privilegiado na Bienal, em outubro, além de comparecer em mostras em São Paulo, no Rio e em Barcelona (leia quadro ao lado).
Oiticica tratou, com absoluta originalidade, de questões relevantes para a discussão da arte contemporânea, como a relação do público com a obra, a participação do espectador, a autoria do trabalho, o status de obra de arte.
Criou uma arte que transita entre performance, arte ambiental, política ou conceitual, sem se prender a qualquer classificação. A obra deveria deixar de ser objeto do desejo para ser artífice de todas as experiências sensoriais humanas.
Seu objetivo era criar uma arte de vanguarda genuinamente brasileira, mas que incorporasse elementos estrangeiros e que competisse com movimentos internacionais.
"Para a criação de uma verdadeira cultura brasileira, característica e forte, expressiva ao menos, essa herança maldita européia e americana terá que ser absorvida, antropofagicamente, pela negra e índia de nossa terra", escreveu Oiticica em 1968, em texto sobre "Tropicália", projeto ambiental que inspirou e batizou o movimento tropicalista e que será remontado na Bienal. O projeto entra no segmento que o curador Paulo Herkenhoff chama de "trajetória da cor" na arte brasileira.
Ao contrário dos artistas concretistas, que trabalhavam a cor como elemento submisso às linhas e às formas geométricas, já em seus primeiros trabalhos, os metaesquemas, Oiticica dá à cor independência de expressão.
A relação da cor com o meio se intensifica nas obras seguintes, como monocromáticos e relevos espaciais, e passa a envolver definitivamente o espectador em bólides, penetráveis e parangolés.
Nesses últimos, a cor ganha, além de espaço, uma dinâmica, já que devem ser usados pelos espectadores-participantes.



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