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Royer resgata Godard na TV
do enviado a Veneza
"Godard à la Télé: 1960-2000"
("Godard na TV: 1960-2000"), documentário de arquivo de Michel
Royer, resume com graça e contundência mais um paradoxo godardiano. Um dos cineastas mais
críticos da televisão é um personagem televisivo disputado e assíduo.
Jean-Luc Godard tem explorado com raro talento as brechas generosamente oferecidas. A seleção de Royer concentra-se no Godard personagem da TV, e não
nas eventuais produções dele para o meio (sobretudo de pequenos ensaios e comerciais).
A primeira constatação é que,
depois de Hitchcock, Godard talvez tenha sido o cineasta que melhor tenha usado a televisão para
forjar uma "persona pública".
Da primeira entrevista do jovem autor de "Acossado" às mais
recentes aparições em programas
de debates como o de Bernard Pivot, Godard foi progressivamente
forjando o personagem "Godard", agressivo, irônico, provocador, inteligente até o insuportável.
Esse Godard televisivo desequilibra as regras do jogo, usando a
TV contra ela própria. Godard fala muito e bem, mas é ao intervir
ao vivo no próprio processo de
feitura da TV que sua mensagem
se torna mais forte.
É assim que, convidado a comentar as imagens de um telejornal, reclama: "As imagens passam
tão depressa que não tenho tempo para pensar".
Chamado a depor sobre a guerra das Malvinas, não descansa enquanto não leva o âncora a reconhecer que não sabe o que está
acontecendo. Noutras ocasiões,
passa de entrevistado a diretor e
provoca o câmera que burocraticamente registra sua imagem, como a de qualquer outro convidado.
Royer sutilmente subverte a
imagem de Godard de inimigo da
TV. O mesmo Godard que afirma
que "o cinema produz memória;
a TV, o esquecimento" reconhece
mais adiante que "a televisão poderia ser extraordinária". Quando Godard dela se apropria, sempre o é.
(AL)
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