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Produção cinematográfica do país escapa da recessão com aumento de público e de estréias
A Argentina que vai bem
Para a diretora Lucrecia Martel, premiada em Berlim, "desejo de compartilhar histórias é mais forte do que crises econômicas"
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
Enquanto a economia argentina
se aprofunda na recessão, sua
produção cinematográfica passa
por um dos melhores momentos
da história, com produção crescente, boas críticas, prêmios internacionais e muito público.
No ano passado, estrearam 47
filmes nacionais no país, a maior
quantidade desde 1954 e que está
prestes a ser ultrapassada -neste
ano, já houve 41 estréias.
Dos cinco filmes de maior público deste ano até aqui, três são
argentinos. A comédia dramática
"El Hijo de la Novia", maior êxito
da produção local, passou a barreira de 1 milhão de espectadores
e ultrapassou os 1,05 milhão de espectadores de "Jurassic Park 3",
filme de maior público até então.
O sucesso nas salas de cinema é
reflexo também de um maior reconhecimento internacional, com
diversos prêmios conquistados
em festivais internacionais. "Bolívia", de Adrián Caetano, ganhou,
na semana passada, o prêmio de
melhor filme latino-americano
no Festival de San Sebastián, na
Espanha. Os atores Ricardo Darín
e Gastón Pauls, de "Nove Rainhas", dividiram o prêmio de melhor ator do Festival de Biarritz
(França), no último sábado. A cineasta Lucrecia Martel foi premiada no Festival de Berlim deste
ano por "O Pântano", seu longa
de estréia (leia à pág. E3).
Com o reconhecimento da crítica, os filmes argentinos começam
a romper o obstáculo da falta de
distribuição. O longa "Nove Rainhas", que ficou em cartaz por
quatro meses em São Paulo e teve
mais de 70 mil espectadores, foi
vendido também para quase toda
a América Latina, já levou mais de
100 mil espanhóis aos cinemas e
estréia nos EUA neste mês com
mais de 200 cópias.
"O cinema argentino passa por
um pequeno boom", disse à Folha o cineasta Juan José Campanella, 44, de "El Hijo de la Novia".
"Nos últimos anos vimos o aparecimento de uma nova escola de cinema, com muito cuidado técnico, sem deixar de lado a preocupação com a estética", diz.
Para Fabián Bielinsky, 42, diretor de "Nove Rainhas", o cinema
de massa argentino deixou de ter
conteúdo estritamente comercial.
"Agora há filmes mais pessoais,
mais elaborados e com maior
qualidade, que têm boa aceitação
da crítica e mais público."
Segundo os dados do Sindicato
da Indústria Cinematográfica Argentina (Sica), no ano passado, a
frequência a filmes nacionais
cresceu 10,7%, enquanto o público de cinema em geral havia crescido 4,6%. No ano anterior, o número de espectadores de filmes
nacionais já havia crescido 31,6%,
enquanto as salas de cinema tiveram queda de 1,7% no público.
Apenas os filmes americanos
têm mais público na Argentina
que o cinema nacional. No ano
passado, o público de cinema argentino no país chegou a 6,3 milhões, número mais alto em 15
anos. Em termos de proporção de
espectadores que prestigiam o cinema nacional, os 20% na Argentina só são menores que as porcentagens verificadas nos EUA,
na França, Dinamarca e Itália.
"Sem dúvida, existe uma nova
pujança do cinema nacional",
afirma José Miguel Onaindia, diretor do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa), órgão estatal encarregado de
financiar a produção local.
"O cinema nacional hoje só é
viável com os subsídios, mas não
podemos contar apenas com isso", afirma Octavio Nadal, da Patagonik, produtora de "Nove Rainhas". A empresa é uma associação entre o grupo Clarín, a Telefónica de España e a Buena Vista International, da Disney. Para Nadal, os caminhos são co-produções com a TV, lançamentos em
vídeo e a distribuição no exterior.
Para promover o cinema local
no exterior, o Incaa está abrindo
escritórios de promoção comercial em quatro consulados -Rio,
Madri, Roma e Los Angeles.
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