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LITERATURA POP
Livro "A Noite dos Cangaceiros Mortos-Vivos" trata desde corrupção até tráfico de armas
"Pulp fiction" nacional apela para quadrinhos
DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO
No mesmo dia em que o símbolo do capitalismo mundial caía
diante do olhar atônito de milhões de telespectadores, em 11 de
setembro, saía das gráficas o primeiro manual da "revolução cangaceirista" no Brasil. Seu principal objetivo: destruir por completo a capital federal do país.
"Entendo aquela cidade como
um símbolo do stalinismo opressor, planejada meticulosamente
para reduzir qualquer forma de
manifestação popular à nada",
afirma Edson Aran, 38, redator-chefe da revista "VIP", ex-frequentador do Madame Satã e autor de "A Noite dos Cangaceiros
Mortos-Vivos".
"Brasília nasceu sebastianista.
Foi feita para abrigar um iluminado qualquer. Lá, no meio do cerrado, cercado por prédios futuristas cafonas, o Grande Líder botaria ordem no caos", completa o
personagem Ermenegildo Pinto,
38, ex-bancário, líder do Comando Armado Revolucionário dos
Cangaceiros Mortos-Vivos e protagonista do livro.
Dom Sebastião
As opiniões de Aran e de seu
personagem se confundem assim
mesmo. Lançada pela editora Nova Alexandria, a obra é uma visão
politicamente incorreta da tese do
jornalista, para quem, numa herança direta dos portugueses, o
brasileiro estaria ainda à espera
da volta do rei dom Sebastião para que pudesse ver alguma coisa
mudar.
No livro, Edson Aran vira de
ponta-cabeça esse mote quando
dá ao protagonista dois desastrosos aliados -um sósia de Raul
Seixas e um índio mato-grossense- na tentativa de instituir uma
"República Cangaceirista do Brasil" e provar ao país inteiro que
"só um autêntico cangaceiro pode
se dar bem nessa tal de nova economia".
Usando e, por vezes, abusando
dos clichês-pastelão e do binômio
sexo-drogas, Aran constrói uma
narrativa ao mesmo tempo realista (temas como tráfico internacional de armas e corrupção política
foram pinçados diretamente das
páginas de jornais) e surrealista
-ao descrever, por exemplo,
uma convenção de milhares de
sósias de Raul Seixas, em Parati,
ou um quebra-pau protagonizado por artistas plásticos "mudernos", no bairro paulistano da Vila
Madalena.
Filme barato
"Queria que o livro parecesse
um filme de ação barato. Pensava
em atrair um público adolescente,
que praticamente não lê", defende Aran, que escreveu também a
obra "Aqui Jaz - O Livro dos Epitáfios" (Ática). Para tanto, buscou
agora a ajuda do ilustrador Rogério Nunes com a intenção de dar
um visual "mais HQ" à aventura.
Iconoclasta até o osso, não poupa brancos, negros, vermelhos ou
amarelos. Em uma passagem de
nem duas páginas, contam-se
mais de 30 palavrões.
"Definitivamente não é algo para um leitor de James Joyce. Não
quero isso. Tem gente demais fazendo literatura séria neste país",
o escritor alfineta.
Questionado a respeito da mórbida semelhança entre os acontecimentos de sua história -que
tem um avião sequestrado ameaçando explodir sobre a praça dos
Três Poderes- e os atentados às
torres gêmeas de Nova York,
Aran diz: "Essa era uma idéia antiga minha. Como se comportaria
alguém que tivesse a vontade e os
meios de fazer uma maluquice
dessas?".
A NOITE DOS CANGACEIROS MORTOS-VIVOS. De: Edson Aran. Editora: Nova Alexandria. Quanto: R$ 23 (196 págs.).
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