São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2001

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CINEMA

Centro Cultural Banco do Brasil de SP apresenta 12 longas e 16 curtas inéditos

Mostra recebe produção portuguesa legendada

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ora, pois: quem diria, a língua em comum parece ser o empecilho para uma melhor aproximação do Brasil com o cinema feito em Portugal. Quem diz é o cineasta João Botelho, 52, um dos mais importantes nomes do novo cinema português, ao lado de João César Monteiro e Pedro Costa.
"Não se conhece o cinema de Portugal no Brasil porque falamos com consoantes e vocês com vogais", ironizou o diretor, pelo telefone, de Lisboa. "Como fomos colonizados pelas telenovelas, entendemos tudo que os brasileiros falam, ao cabo que vocês não entendem nada do que dizemos."
Botelho, que teve um filme exibido no Festival do Rio BR, "Quem És Tu?", terá outra película sua, "Aqui na Terra" (1993), exibida no ciclo "Cinema Português, um Outro Olhar", que começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.
A mostra, com 28 filmes inéditos, é promovida pela Associação Cultural Babushka com patrocínio da BrasilPrev e apoio do Instituto Camões e do Icam (Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimedia).
São 12 longas e 16 curtas, produzidos entre 1977 e 2001. Muitos deles, confirmando o que disse Botelho, legendados em outros idiomas (inglês, francês ou espanhol) -pedido reforçado pelos organizadores no Brasil para os distribuidores portugueses.
"Fiquei furioso quando participei do festival do Rio nos anos 80 e legendaram o meu filme. Depois, ganhei o Tucano e, no discurso de agradecimento, ninguém entendeu nada", ri Botelho.
Segundo o cineasta, apesar de Portugal ter poucos diretores em números absolutos -"cerca de 20", diz-, o cinema feito no país é caracterizado por ser bastante autoral e com extrema liberdade de narrativa.
"Não temos dinheiro para a ação, mas temos tempo para a contemplação", resume.
Um dos representantes mais fortes desse cinema é João César Monteiro, 62, que já exibiu entre nós "A Comédia de Deus" (ganhador do prêmio do júri em Veneza, em 1995) e que apresenta no ciclo "Le Bassin de John Wayne" ("A Bacia de John Wayne"), de 1997 -a propósito, em francês com legendas em espanhol.
Como em quase todos os seus filmes, o próprio Monteiro é o protagonista, e, também como quase sempre, é chamado João de Deus. A história é um delírio a partir de "Inferno", texto do dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912), com forte influência dos surrealistas, como André Breton. De maneira cômica, o personagem de Monteiro parece ter obsessão pelo movimento das cadeiras do ator John Wayne quando caminhava -daí o título exótico.
De Pedro Costa, 43, será exibido "No Quarto de Vanda" (2000), documentário rodado no bairro de Fontainhas, localidade afastada do centro de Lisboa e povoada por imigrantes. A ação se passa quase inteiramente dentro do quarto da protagonista, quebrada pelos encontros dela com as irmãs Zita e Lena Duarte na mercearia da família, ao mesmo tempo em que o cineasta traça um retrato da vida no bairro.
Há apenas um filme co-produzido com o Brasil, "Os Cornos de Cronos" (1991), de José Fonseca e Costa, baseado em um conto de Americo Guerreiro de Souza e que traz o ator brasileiro Carlos Vereza como o protagonista, um escritor que se apaixona por uma jovem dançarina.
Entre os curtas, aparece "CinemaAmor", de 1999, dirigido por Jacinto Lucas Pires, 27, mais conhecido como integrante da nova geração de escritores do país -é contista. O curta conta a história de um funcionário de supermercado cujo amigo, que só fala utilizando citações cinematográficas, está em busca da mulher ideal.
Outro curta é "Menos 9", de Rita Nunes, baseado no livro "Crimes Exemplares", do autor espanhol (de origem alemã) Max Aub, com confissões de assassinatos que o escritor recolheu, em sua maioria, de notícias de jornal durante o exílio no México.


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