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CINEMA
Centro Cultural Banco do Brasil de SP apresenta 12 longas e 16 curtas inéditos
Mostra recebe produção
portuguesa legendada
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ora, pois: quem diria, a língua
em comum parece ser o empecilho para uma melhor aproximação do Brasil com o cinema feito
em Portugal. Quem diz é o cineasta João Botelho, 52, um dos mais
importantes nomes do novo cinema português, ao lado de João César Monteiro e Pedro Costa.
"Não se conhece o cinema de
Portugal no Brasil porque falamos com consoantes e vocês com
vogais", ironizou o diretor, pelo
telefone, de Lisboa. "Como fomos
colonizados pelas telenovelas, entendemos tudo que os brasileiros
falam, ao cabo que vocês não entendem nada do que dizemos."
Botelho, que teve um filme exibido no Festival do Rio BR,
"Quem És Tu?", terá outra película sua, "Aqui na Terra" (1993),
exibida no ciclo "Cinema Português, um Outro Olhar", que começa hoje no Centro Cultural
Banco do Brasil, em São Paulo.
A mostra, com 28 filmes inéditos, é promovida pela Associação
Cultural Babushka com patrocínio da BrasilPrev e apoio do Instituto Camões e do Icam (Instituto
do Cinema, Audiovisual e Multimedia).
São 12 longas e 16 curtas, produzidos entre 1977 e 2001. Muitos
deles, confirmando o que disse
Botelho, legendados em outros
idiomas (inglês, francês ou espanhol) -pedido reforçado pelos
organizadores no Brasil para os
distribuidores portugueses.
"Fiquei furioso quando participei do festival do Rio nos anos 80
e legendaram o meu filme. Depois, ganhei o Tucano e, no discurso de agradecimento, ninguém entendeu nada", ri Botelho.
Segundo o cineasta, apesar de
Portugal ter poucos diretores em
números absolutos -"cerca de
20", diz-, o cinema feito no país
é caracterizado por ser bastante
autoral e com extrema liberdade
de narrativa.
"Não temos dinheiro para a
ação, mas temos tempo para a
contemplação", resume.
Um dos representantes mais
fortes desse cinema é João César
Monteiro, 62, que já exibiu entre
nós "A Comédia de Deus" (ganhador do prêmio do júri em Veneza, em 1995) e que apresenta no
ciclo "Le Bassin de John Wayne"
("A Bacia de John Wayne"), de
1997 -a propósito, em francês
com legendas em espanhol.
Como em quase todos os seus
filmes, o próprio Monteiro é o
protagonista, e, também como
quase sempre, é chamado João de
Deus. A história é um delírio a
partir de "Inferno", texto do dramaturgo sueco August Strindberg
(1849-1912), com forte influência
dos surrealistas, como André Breton. De maneira cômica, o personagem de Monteiro parece ter obsessão pelo movimento das cadeiras do ator John Wayne quando
caminhava -daí o título exótico.
De Pedro Costa, 43, será exibido
"No Quarto de Vanda" (2000),
documentário rodado no bairro
de Fontainhas, localidade afastada do centro de Lisboa e povoada
por imigrantes. A ação se passa
quase inteiramente dentro do
quarto da protagonista, quebrada
pelos encontros dela com as irmãs
Zita e Lena Duarte na mercearia
da família, ao mesmo tempo em
que o cineasta traça um retrato da
vida no bairro.
Há apenas um filme co-produzido com o Brasil, "Os Cornos de
Cronos" (1991), de José Fonseca e
Costa, baseado em um conto de
Americo Guerreiro de Souza e
que traz o ator brasileiro Carlos
Vereza como o protagonista, um
escritor que se apaixona por uma
jovem dançarina.
Entre os curtas, aparece "CinemaAmor", de 1999, dirigido por
Jacinto Lucas Pires, 27, mais conhecido como integrante da nova
geração de escritores do país -é
contista. O curta conta a história
de um funcionário de supermercado cujo amigo, que só fala utilizando citações cinematográficas,
está em busca da mulher ideal.
Outro curta é "Menos 9", de Rita Nunes, baseado no livro "Crimes Exemplares", do autor espanhol (de origem alemã) Max Aub,
com confissões de assassinatos
que o escritor recolheu, em sua
maioria, de notícias de jornal durante o exílio no México.
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