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Cantor e compositor lança o terceiro CD, sai da gravadora Virgin e patrocina projeto de cantores de rua em Barcelona
Manu Chao em busca de liberdade
MARTA BARBOSA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA
Na semana de lançamento do
seu terceiro CD, "Radio Bemba
Sound System", o francês Manu
Chao reservou duas noites para
tocar. Não em show promocional
ou coisa do gênero, mas como DJ,
sua atual diversão favorita.
A aventura nos pick-ups aconteceu no antigo e esfumaçado
Puerto Hurraca, bar no distante
bairro de Poble Nou, numa Barcelona que turista nenhum se
atreve a conhecer.
Chao tocou por quase quatro
horas: reggae, ska e breakbeat,
com direito a "Garota Nacional",
do Skank. Nas caixas não se ouviu
um sampler sequer de alguma de
suas canções. Nada raro para um
cantor que prefere ser identificado como um músico de rua que
deu certo, rejeita rótulo de estrela
pop e se prepara para dar o ponto
final no contrato com a Virgin, segundo ele, "em busca de mais liberdade para o seu trabalho".
"Radio Bemba Sound System"
é, então, seu último disco sob o
comando da gravadora, que também deve ganhar versão em DVD
até o final deste ano. Chao é artista
da Virgin desde quando era o líder da divertidíssima Mano Negra e percorria portos da América
do Sul num grande navio com outros tantos artistas franceses.
Aos 41 anos, ele agora quer sossego. Não está rompendo nada. O
contrato previa mesmo três discos de sua carreira solo. "Clandestino" (1998) e "Próxima Estação:
Esperança" (2001) foram os primeiros. O fim da trilogia não podia ser menos festivo. "Radio
Bemba Sound System", nome de
sua banda, foi gravado ao vivo no
ano passado em Paris. São 29 faixas e 64 minutos de alvoroço musical. O produtor é o mesmo dos
dois primeiros trabalhos, Renaud
Letang. E não faltam as já tradicionais interferências radiofônicas e a voz do líder zapatista subcomandante Marcos.
A maioria é música já bem conhecida, como "Clandestino" e
"Minha Galera". Outras ele toma
emprestado do Mano Negra
("Casa Babylon", "King Kong Five"). Mas nada está igual. "Bienvenida a Tijuana" ganha duas versões, as duas modificadas da original. "Uma para escutar, outra
para dançar", diz.
Se existe uma música que resume o novo disco, é "Radio Bemba", desta vez com uma batida incansável entre o punk rock e o frenético ska. Todas as canções estão
fundidas e confundidas por samplers, num tom intenso de balbúrdia da primeira à última faixa. "É
a prova de como aperfeiçoamos
ao vivo esta fusão de músicas,
com o uso de samplers."
A idéia do terceiro disco ser gravado ao vivo já estava nos planos
de Chao. O objetivo, explica ele,
era deixar registrada "a qualidade
incrível da banda que esteve junta
durante três anos". Foram 120
shows em 39 países, do Brasil à
Letônia, da Croácia ao Japão.
Francês filho de espanhóis, Oscar Tramon (seu nome verdadeiro) mantém todas as referências
latinas em seu novo trabalho, com
toques de rumba em meio a batidas eletrônicas. E até faz lembrar
do início de sua carreira, quando
assinava trilha sonora para apresentações de circo e tocava para
uma trupe que fazia acrobacias.
Músicos de rua
Encerrado o projeto de rodar o
mundo fazendo show e agora sem
a Virgin, o cantor está envolvido
em um trabalho em defesa dos
músicos de rua de Barcelona. Deu
entrevista coletiva, coisa rara em
sua carreira, para reclamar da
ação da polícia espanhola contra
os artistas "callejeros" e bancou a
produção de um disco desses ainda anônimos.
"Hoje um músico de rua recebe
tratamento pior da polícia do que
muitos ladrões. É mais perigoso
sacar um violão que uma arma",
afirma ele. "La Colifata" é o primeiro volume de uma série em
benefício à música de rua. Os 21
autores podem ser escutados nas
esquinas de Barcelona e, para a
maioria, esse é o primeiro trabalho de estúdio.
A influência de Manu Chao é
mais que clara. Além da sua voz
em algumas faixas, o disco obedece à mesma cartilha do cantor,
usando, por exemplo, os efeitos
radiofônicos, desta vez trazidos
de um programa de rádio realizado por pacientes de um hospital
psiquiátrico. Aliás, o nome do álbum é o mesmo do programa.
O difícil será conseguir um desses discos, 3.000 cópias ao todo, já
que eles não serão vendidos em
lojas. A recomendação é consegui-los por meio de "seu músico
de rua favorito", tarefa quase impossível para quem não mora em
Barcelona. Mas, na falta, tem "Radio Bemba Sound System", que
sai este mês no Brasil.
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