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CRÍTICA
Álbum fecha um ciclo
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Radio Bemba Sound
System", nome do projeto
e do mais recente disco de Manu
Chao, é a terceira peça da trilogia
traçada pelo músico franco-espanhol. Cem por cento gravado ao
vivo, em uma turnê -melhor seria dizer andança- que se iniciou
no México, em março de 2000,
passou por Colômbia, Brasil, Argentina, Europa, América do
Norte e Japão, onde se encerrou
em julho deste ano, "Radio Bemba Sound System" é justamente a
versão combo dos dois trabalhos
prévios de Chao, "Clandestino" e
"Próxima Estação: Esperança".
Inquieto como seu próprio
mentor, "Radio Bemba Sound
System" é, portanto, um disco difícil de apreender. São 29 músicas,
distribuídas em 64 minutos de
reggae, ska, rumba, salsa e rock.
Não que não sejam familiares: estão ali as clássicas "Bienvenida a
Tijuana", "Por Onde Saldra el
Sol?", "Que Paso, que Paso", mas,
com raríssimas exceções, diferentes -e enfraquecidas- em relação a suas versões de estúdio.
Pouco importaria, entretanto, a
moldura se o quadro que Chao
continuasse a pintar ainda fosse o
das causas zapatistas, da denúncia
da miséria e da celebração dos
costumes de seus "hermanos"
sul-americanos. Paradoxalmente,
o que "Radio Bemba Sound
System" acaba evocando é a imagem de um circo itinerante, de
paisagens exóticas e sons pitorescos da velha América Latina arquetípica, dócil e divertida como
a querem os países do Norte.
O lamento sertanejo de "Por el
Suelo" ganha ares progressivos,
levada hipnotizante que acaba
por encobrir a própria música
-aqui, a história de indigentes.
Com suas colagens, loops e
sampleadores, Chao sempre buscou formas alternativas de globalizar seus anseios. Em inglês, francês, castelhano ou português, o
recado é um só, justiça social. Todavia a espetacular caravana de
"Radio Buemba" deve ter esquecido essa identidade em um lugar
entre Sarajevo e Bogotá.
Radio Bemba Sound System
Artista: Manu Chao
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 25, em média
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