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CRÍTICA
Uma chance rara de ver Escorel
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
Hoje à noite, o canal Brasil
oferece uma rara oportunidade de assistir a um filme de
Eduardo Escorel, que, como muitas produções nacionais, não existe em vídeo e dificilmente ganha
espaço na telinha.
"Ato de Violência" (80), com
Nuno Leal Maia, é baseado na história real de Chico Picadinho, esquartejador de mulheres. Precedido do programa "De Conversa
em Conversa", sobre a situação
carcerária brasileira, o filme do
diretor, que vai lançar documentário sobre o levante comunista
de 35, marca dez anos do massacre do Carandiru.
A ocasião merece ser lembrada.
A aberração deslocou a violência
para o centro dos acontecimentos. Com ela, o Carandiru que no
início do século aparece como
presídio modelo, demonstração
da modernidade da metrópole
emergente, tem seu significado
invertido. O Carandiru torna-se
locus privilegiado de representação da nossa selvageria.
Da instalação conceitual do artista plástico Nuno Ramos ao livro quase etnográfico de Drauzio
Varella, passando pelos aguardados filmes de Paulo Sacramento e
Hector Babenco, o Carandiru hiper-representado ironicamente
finalmente sucumbiu.
Há cerca de 20 anos na mira de
técnicos que, como Julita Lemgruber (que participa do "De
Conversa em Conversa"), por incrível que pareça sabem o que fazer para controlar a violência, o
presídio que se tornou cenário
privilegiado de revoltas e escândalos foi desativado.
Exposto à visitação pública, o
complexo recentemente atraiu a
curiosidade de milhares de cidadãos interessados em testemunhar articulações que usualmente
permanecem nas sombras.
O entrelaçamento de tráfico,
crime, corrupção, desarticulação,
ineficiência, poder paralelo e violência fez do Carandiru metáfora
do Brasil. Há dez anos do massacre, em pleno processo eleitoral,
vale rememorar e cobrar dos candidatos ousadia em projetos, como o das penas alternativas, discutido no programa, que subvertam a espiral da violência.
DE CONVERSA EM CONVERSA e ATO
DE VIOLÊNCIA - Canal Brasil, às 23h e 0h,
respectivamente.
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