São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Cineasta aborda 2ª Guerra com distanciamento

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Quando Roman Polanski recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em maio último, criticou-se muito a premiação, definida pela imprensa como conservadora. Mas há uma grande injustiça nessa leitura apressada, que ignora a história do cineasta e reduz "O Pianista" a um mero drama hollywoodiano sobre o Holocausto.
Polanski se defronta no filme com duas questões fundamentais. A primeira é como filmar um tema tão dramático. A segunda é como filmar uma história tão pessoal. A leitura apressada confunde conservadorismo com rigor. Queriam o quê? Que Polanski filmasse o Holocausto de trás para frente, para usar um truque em voga? Não há hollywoodianismo em "O Pianista", mas tampouco há truques baratos do cinema que se diz independente.
Polanski sempre declarou ter a vontade de falar sobre sua experiência na Segunda Guerra, mas precisava encontrar uma história que lhe assegurasse distanciamento. Encontrou-a na autobiografia de Wladyslaw Szpilman, pianista que, como ele, sobreviveu à guerra.
"O Pianista" começa narrando o que poucos filmes narraram: a gênese do gueto, o momento em que soldados invadem a casa de uma família judia e dizem: "Vocês não podem mais viver aqui, serão removidos". A violência escala a níveis intoleráveis, mas Roman Polanski é capaz de observar os acontecimentos com objetividade espantosa.
O filme começa assim, com seus momentos de maior dramaticidade. Em seguida, mergulha num anticlímax ao assumir um ponto de vista estranho, sobretudo para um filme sobre o Holocausto: o de um homem que escapou dos campos de concentração e viu a guerra pelas frestas das janelas de seus esconderijos.


Avaliação:     

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Espetáculo: Colégio Santa Cruz proíbe peça com nudez
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.