KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Aqueles papéis preenchidos com divagações existenciais que tantas vezes se perdem e amarelam nas gavetas mundo afora podem servir de inspiração para trabalhos criativos. Foi o que ocorreu com a bailarina e coreógrafa Marcia Milhazes, que recolheu seus escritos do tempo em que morou fora do Brasil e os transformou em "Tempo de Verão".
No palco, um trio enigmático dança ao sabor de valsas tradicionais e, segundo a criadora, os corpos carregam o peso das palavras. Peso não seria a melhor palavra, já que a movimentação em cena sugere ondas circulares, tantas vezes leves, suaves, que remetem à introspeção dos gestos.
Al Crisppinn, Ana Amélia Vianna e Pim Bonnprakob, os bailarinos, encontram-se, inesperadamente, em um ambiente desconhecido por eles. Uma espécie de salão de baile vazio é onde vão iniciar o processo de conhecimento.
O único cenário da coreografia é da artista plástica Beatriz Milhares, irmã da coreógrafa. E não está como pano de fundo, "ilumina" de cima o elenco. Trata-se de tipo de lustre feito em madeira, plástico, borracha e outros materiais.
A companhia Marcia Milhazes Dança Contemporânea foi fundada em 1994. Tem como diferencial obras trabalhadas com intensa pesquisa, muitas sob o foco da cultura tradicional brasileira.
Em "Tempo de Verão", as valsas foram esquadrinhadas a fundo e selecionadas pela coreógrafa. Fazem parte da trilha melodias de Francisco Mignone, Lamartine Babo, Zequinha de Abreu, entre outros. Para a bailarina, essas valsas também refletem o estado profundo de pureza que desenvolveu e trabalhou nos palcos após o nascimento do filho Thomaz Camilo.