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Fotógrafo dispensa cor "comum"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O domínio da técnica, no caso
da obra de Paulo Pires, faz com
que ele chegue a objetivos bem
definidos: fotografar um varal de
roupas claras em um fundo claro,
mostrar a sombra de uma torneira e as cavidades do muro onde
ela se projeta, revelar os detalhes
de cinza no rosto de um "um personagem da vida", em foto de
1966, e mostrar o reflexo de uma
poça de água.
E ele chega a esses aparentemente simples objetivos onde outros tentam. "Sempre trabalhei
em coisas de precisão e sempre foi
fácil saber até onde posso ir", diz.
Vendo as imagens, não temos a
noção do caminho percorrido,
dos obstáculos que surgiram.
Talvez Paulo Pires tenha conseguido aquilo que muitos almejam: a simplicidade no resultado
final de sua obra. São retratos, formas abstratas, trabalhadores, janelas, paisagens, em fotos, na sua
maioria, das décadas de 50 a 80.
Mas o fotógrafo admite dar
muitas voltas em sua câmara escura para conseguir a cópia definitiva. "É gostoso apanhar da fotografia. Quando ela fica muito
simples, perde o interesse."
Talvez por esse motivo ele mantenha uma distância considerável
das máquinas modernas que dispensam filmes e corrigem os fotógrafos: "Não quis nem pegar uma
máquina digital", diz ele, que não
dispensa sua Leica, uma Pentax
6x6 e o fotômetro manual.
A cor entrou uma vez apenas na
vida de Paulo Pires. "Preparei toda a química e fiz dois filmes.
Olhei, olhei. Aquilo ficou tão comum. Descobri que para ter uma
foto colorida bastava levar o filme
em qualquer esquina de revelação. Com o preto-e-branco faço o
que eu quero", diz ele que ganhou
sua primeira máquina quando tinha dez anos.
Todas as técnicas de laboratório
-solarização, baixo e alto contraste- ganham requinte nas
mãos de Paulo Pires. Nenhum detalhe ótico, químico e mecânico
escapa. Todos os aparelhos são
minuciosamente ajustados. E o
que seria simplesmente uma fotografia técnica ganha a sensibilidade do olhar e a espontaneidade do
fotógrafo.
(FJ)
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