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Detalhe de "Escola Rural" (1952), imagem feita por Paulo Pires, que lança o seu primeiro livro

Enquanto a realidade fotográfica se torna cada vez mais cibernética com seus pixels e outras terminologias digitais, o fotógrafo paulista Paulo Pires abandona sua câmara escura para mostrar em livro, pela primeira vez, parte de sua obra -toda realizada em preto-e-branco.
Conhecido entre fotógrafos amadores e no meio universitário de São Paulo dos anos 80, onde proferia palestras e encantava aspirantes a fotógrafos pela simplicidade com que explicava os efeitos da ótica e da mecânica no resultado de uma fotografia, só agora foram selecionadas de seu vasto arquivo cerca de cem imagens que, além do livro, fizeram parte de uma exposição no Centro Cultural da USP, em São Carlos.
Aos 76 anos, o fotógrafo, que nunca comprou um revelador pronto, construiu seu próprio ampliador e monta e desmonta qualquer máquina que lhe caia na mão, diz: "A fotografia é um passatempo. É a minha pinga".
O resultado desse passatempo é que sua obra é premiada desde a década de 50 em bienais nacionais e internacionais. Remanescente do fotoclubismo no Brasil, ele mesmo fundou em 1959 o Íris Foto Grupo, que até hoje está ativo em São Carlos, cidade onde vive. Funciona como uma confraria onde Pires transmite seus conhecimentos a quem o procura.
O que faltava era organizar, selecionar e editar o material que foi sendo, ao longo dos anos, ampliado para exposições e transformá-lo em livro. Como o fotógrafo tem o hábito de envolver toda a família na fotografia -os netos hoje preparam as químicas usadas por ele-, a primeira seleção de 450 imagens coube a mulher, Nadir.
A partir daí, o material foi entregue a outro fotógrafo, Emidio Luisi, responsável pela publicação do livro. "As fotografias instantaneamente me remeteram a uma idéia do tempo. A questão do tempo presente em todas as imagens. Um tempo parado. A busca do tempo. Não sei que tempo é esse", diz Luisi.
O livro de Paulo Pires é a introdução, o desvelar de uma obra de tonalidades cinzas poucas vezes vista, de apuro técnico levado às últimas conseqüências e de um resultado final tão simples quanto assustador.