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Guel Arraes ironiza o mundo da TV
Exibido no Festival do Rio, "Romance" faz platéia rir mais do que o diretor gostaria e tem referência à Rede Globo
Jorge Furtado escreveu o roteiro com Arraes, diretor de núcleo da emissora; filme passa na Mostra de SP e estréia em circuito em 14/ 11
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Em seu novo filme, "Romance", o diretor Guel Arraes ("O
Auto da Compadecida", "Lisbela e o Prisioneiro") faz um ensaio sobre a representação dramatúrgica do amor, recheado
de ironias aos cacoetes da TV e
do cinema brasileiros.
Na primeira exibição pública
do longa, anteontem, no Festival do Rio, a platéia riu mais do
que o diretor gostaria.
Antes da sessão, Arraes apresentara o filme como um romance com pitadas de comédia, distinguindo-o de seus trabalhos anteriores, que são comédias com pitadas de romance. "Se vocês rirem muito, vou
ficar bastante preocupado",
disse ele.
Recente pesquisa Datafolha
encomendada pelo Sindicato
dos Distribuidores para mapear os hábitos de consumo de
cinema no país identificou que
comédia é o gênero preferido
do espectador quando se trata
de filmes nacionais.
Não-atores
A platéia que lotou o Cine Palácio, no centro do Rio, para ver
"Romance", riu ruidosamente
de personagens como Orlando
(Vladimir Brichta). Ele é um
ator que ambiciona um papel
num especial de TV a ser rodado no Nordeste, mas descobre
que os testes serão restritos a
não-atores da região -expediente que é voga no cinema
nacional recente.
"Passei anos da minha vida
me formando como ator e vou
perder a melhor chance que tive até agora porque sou ator",
conclui Orlando, que decide,
então, fingir-se de sertanejo,
para se submeter ao teste.
A escalação de Orlando para
o papel termina acrescentando
mais um vértice à relação do casal de protagonistas, formado
pela atriz Ana (Letícia Sabatel-
la) e pelo ator e diretor Pedro
(Wagner Moura). Os dois se
apaixonam durante uma montagem teatral de "Tristão e Isolda", matriz das narrativas do
amor romântico.
O desempenho de Ana na peça chama a atenção de Danilo,
diretor geral de uma emissora
de TV cuja logomarca é prateada e esférica. Danilo é interpretado por José Wilker, com entonação, gestual e tiradas sarcásticas que remetem ao diretor Daniel Filho.
Alçada ao estrelato na novela, Ana vê sua relação com
Pedro entrar em crise. Ele despreza a audiência de TV. Prefere a atenção atenta do restrito
público de teatro a um espectador "que está me vendo por
acaso, entre dois anúncios de
detergente".
É uma escolha que a pragmática produtora Fernanda, vivida por uma Andréa Beltrão decalcada de Paula Lavigne, que
produziu "Romance", é incapaz
de compreender.
"Por que representar para
300 pessoas, se você pode representar para 30 milhões?" é
uma das falas de Fernanda.
O roteiro de "Romance" foi
escrito por Arraes, diretor de
núcleo na Globo ao qual pertencem produções como "A
Grande Família", e por Jorge
Furtado ("O Homem que Copiava", "Saneamento Básico"),
que também realiza trabalhos
para a emissora. O título tem
co-produção da Globo Filmes.
De Glauber a Manga
Resumindo sua trajetória
profissional, anteontem, Arraes disse que, "em meados dos
anos 70, queria fazer cinema
como Glauber Rocha" e que, no
início de sua "vida profissional
na TV Globo", inspirado pelas
chanchadas, "queria fazer comédia como Carlos Manga".
"Romance", segundo o diretor, filia-se "a uma terceira linha de cinema, que corresponde à nouvelle vague, na França,
e, no Brasil, aos filmes de Domingos de Oliveira".
"Romance" estréia em 14/11,
em aproximadamente 70 salas,
segundo o distribuidor Rodrigo
Saturnino Braga (Columbia).
Antes, tem exibição na Mostra
de São Paulo.
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