São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Guel Arraes ironiza o mundo da TV

Exibido no Festival do Rio, "Romance" faz platéia rir mais do que o diretor gostaria e tem referência à Rede Globo

Jorge Furtado escreveu o roteiro com Arraes, diretor de núcleo da emissora; filme passa na Mostra de SP e estréia em circuito em 14/ 11


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Em seu novo filme, "Romance", o diretor Guel Arraes ("O Auto da Compadecida", "Lisbela e o Prisioneiro") faz um ensaio sobre a representação dramatúrgica do amor, recheado de ironias aos cacoetes da TV e do cinema brasileiros.
Na primeira exibição pública do longa, anteontem, no Festival do Rio, a platéia riu mais do que o diretor gostaria.
Antes da sessão, Arraes apresentara o filme como um romance com pitadas de comédia, distinguindo-o de seus trabalhos anteriores, que são comédias com pitadas de romance. "Se vocês rirem muito, vou ficar bastante preocupado", disse ele.
Recente pesquisa Datafolha encomendada pelo Sindicato dos Distribuidores para mapear os hábitos de consumo de cinema no país identificou que comédia é o gênero preferido do espectador quando se trata de filmes nacionais.

Não-atores
A platéia que lotou o Cine Palácio, no centro do Rio, para ver "Romance", riu ruidosamente de personagens como Orlando (Vladimir Brichta). Ele é um ator que ambiciona um papel num especial de TV a ser rodado no Nordeste, mas descobre que os testes serão restritos a não-atores da região -expediente que é voga no cinema nacional recente.
"Passei anos da minha vida me formando como ator e vou perder a melhor chance que tive até agora porque sou ator", conclui Orlando, que decide, então, fingir-se de sertanejo, para se submeter ao teste.
A escalação de Orlando para o papel termina acrescentando mais um vértice à relação do casal de protagonistas, formado pela atriz Ana (Letícia Sabatel- la) e pelo ator e diretor Pedro (Wagner Moura). Os dois se apaixonam durante uma montagem teatral de "Tristão e Isolda", matriz das narrativas do amor romântico.
O desempenho de Ana na peça chama a atenção de Danilo, diretor geral de uma emissora de TV cuja logomarca é prateada e esférica. Danilo é interpretado por José Wilker, com entonação, gestual e tiradas sarcásticas que remetem ao diretor Daniel Filho.
Alçada ao estrelato na novela, Ana vê sua relação com Pedro entrar em crise. Ele despreza a audiência de TV. Prefere a atenção atenta do restrito público de teatro a um espectador "que está me vendo por acaso, entre dois anúncios de detergente".
É uma escolha que a pragmática produtora Fernanda, vivida por uma Andréa Beltrão decalcada de Paula Lavigne, que produziu "Romance", é incapaz de compreender.
"Por que representar para 300 pessoas, se você pode representar para 30 milhões?" é uma das falas de Fernanda.
O roteiro de "Romance" foi escrito por Arraes, diretor de núcleo na Globo ao qual pertencem produções como "A Grande Família", e por Jorge Furtado ("O Homem que Copiava", "Saneamento Básico"), que também realiza trabalhos para a emissora. O título tem co-produção da Globo Filmes.

De Glauber a Manga
Resumindo sua trajetória profissional, anteontem, Arraes disse que, "em meados dos anos 70, queria fazer cinema como Glauber Rocha" e que, no início de sua "vida profissional na TV Globo", inspirado pelas chanchadas, "queria fazer comédia como Carlos Manga".
"Romance", segundo o diretor, filia-se "a uma terceira linha de cinema, que corresponde à nouvelle vague, na França, e, no Brasil, aos filmes de Domingos de Oliveira".
"Romance" estréia em 14/11, em aproximadamente 70 salas, segundo o distribuidor Rodrigo Saturnino Braga (Columbia). Antes, tem exibição na Mostra de São Paulo.


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