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Crítica/"Bastardos Inglórios"
Longa diverte e inscreve diretor entre os grandes
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Toda vez que Quentin
Tarantino toma da câmera, o cinema se lembra de que é, também, uma festa. O espectador se dá conta
disso antes de se completar o
primeiro minuto de projeção
de "Bastardos Inglórios".
Sabemos que o filme vai nos
falar de coisas da Segunda
Guerra, mas que não terá muito
a ver com a história dela.
Estamos na França ocupada
pelos nazistas. Após uma brilhante introdução (um coronel
busca uma família judia numa
propriedade rural), nos vemos
diante do grupo de soldados
(todos judeus), que, tendo à
frente um tenente da América
profunda, tal como celebrizado
pelo cinema de guerra, dispõe-se a exterminar o maior número possível de nazistas e aterrorizar o próprio Hitler.
"Bastardos..." não se impõe
pela história que narra -sua
"falsidade" salta aos olhos-
mas pela capacidade de criar, a
cada sequência, um cinema de
segundo nível, sem permitir
(pelo contrário) que o espectador perca, nem por um instante, o prazer de estar no cinema.
O que significa, no caso, a expressão "segundo nível"? É, antes de tudo, que o cineasta, ao
contar sua história, não procura criar nem nos coloca diante
de nenhum tipo de "ilusão".
O fantástico tenente que
Brad Pitt cria, por exemplo, não
é um oficial saído do exército,
mas de 1.001 filmes em que
americanos intrépidos, puros,
um tanto inocentes e grosseiros se lançam a suas missões.
Porque, se não presta nenhuma reverência à "verdade histórica", Tarantino mergulha
com paixão na história do cinema, para nos lembrar que estamos diante de uma apaixonante fantasia, tão real quanto, digamos, os "faroestes spaghetti"
que os italianos produziam algumas décadas atrás, em que
não eram mais inspirados pela
saga da conquista do Oeste mas
pela própria saga do faroeste,
pelos sonhos e mitos que o cinema soube criar.
Assim, em vez de tentar compor um Hitler "verossímil",
"Bastardos..." busca, simplesmente, criar um Hitler cômico.
Um atentado à história? Não,
apenas a lembrança daquilo
que Chaplin um dia descobriu e
Ernst Lubitsch desenvolveu.
O diretor faz um cinema irrepreensivelmente moderno, que
a cada sequência parece reavivar todas as reflexões que Godard ousou um dia fazer. Com
"Bastardos...", Tarantino inscreve-se de vez entre os grandes cineastas da história.
BASTARDOS INGLÓRIOS
Direção: Quentin Tarantino
Com: Brad Pitt, Christoph Waltz
Produção: EUA/Alemanha, 2009
Onde: a partir de hoje no Bristol,
HSBC Belas Artes e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: ótimo
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