|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
"Adorei saber que sou um fenômeno"
Estreante na literatura, Edney Silvestre conquistou o Jabuti e o Prêmio SP, dois dos mais importantes do Brasil
"Se Eu Fechar os Olhos Agora", lançado em 2009, também é um dos favoritos ao prêmio de Livro de Ficção do Ano
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
Reza a lenda que, horas
antes do anúncio do Nobel
de Literatura, anteontem,
não se falava em outra coisa
no mundo literário brasileiro: seria Edney Silvestre o novo ganhador?
A Academia Sueca, que
concede o Nobel, certamente, está longe do poder de
atração do autor, mas, no
Brasil, o jornalista e romancista de primeira viagem é
um ímã de prêmios literários.
Em agosto, Silvestre conquistou o Prêmio São Paulo
de melhor autor estreante pelo romance "Se Eu Fechar os
Olhos Agora". Com ele, faturou R$ 200 mil.
No último dia 2, ganhou o
Jabuti de melhor romance,
prêmio de maior prestígio no
meio literário nacional.
A vitória faz dele automaticamente o favorito ao Jabuti
de Livro do Ano de Ficção.
O resultado sairá em 4 de
novembro. Ganhe mais um
troféu ou não, já é um fenômeno literário, pelo menos
quanto às premiações.
"Fenômeno? Dizem mesmo isso de mim? Adorei saber", afirma, empolgado.
Não foi da noite para o dia,
no entanto, que ele virou um
papa-prêmios.
A primeira tentativa de escrever um romance foi há 20
anos. Para um iniciante, não
era nada tacanho: "Babilônia" seria uma versão anos
1980 de "Três Tristes Tigres",
clássico de Guillermo Cabrera Infante (1929-2005).
Tinha então a certeza de
que faria um bom romance.
Um editor da época, cujo
nome ele não revela, não
pensou da mesma maneira.
Recusou o livro de forma
polida, mas, para Silvestre,
soou como se dissesse que a
história era "uma merda".
"Senti-me um idiota", diz.
Acabou, porém, dando razão ao editor e jogou o romance no lixo.
A segunda tentativa, anos
depois, não precisou de uma
opinião externa: descartou-a
por conta própria.
Teria desistido aí, não fosse uma ideia que não lhe saía
da cabeça: a história de dois
garotos de 12 anos que encontram um cadáver.
Nascia assim "Se Eu Fechar os Olhos Agora", lançado seis anos depois, em 2009.
Ser publicado já era, em si,
um prêmio, mas o começo
não parecia nada promissor.
As primeiras sessões de
lançamento foram, para dizer o mínimo, pífias.
"Tudo começou de verdade com uma crítica elogiosa
que recebi na Folha. Aí começou a repercussão." A razão do sucesso ele não sabe,
mas arrisca uma hipótese.
"Talvez porque o livro seja
um balanço sobre a história
do Brasil. E também uma história policial, em termos. E
também por ser um romance
de formação", divaga.
Silvestre fará 56 anos em
2011. A estreia tardia, na opinião dele, foi fundamental
para amadurecer a criação.
"Mas estou em boa companhia. Cervantes também começou em idade madura na
literatura. Nada mal, não?"
Agora Silvestre prepara
um novo romance. Sobre o livro, adianta apenas que "envolve o sentimento de ser estrangeiro no mundo".
Calcula levar mais uns
quatro anos para concluir a
história. Enquanto isso, diz
não pensar em prêmios, para
não bloquear a escrita.
Mas nem no Nobel?
"Me procure daqui a 20
anos", brinca o papa-prêmios literários.
Texto Anterior: Crítica/Policial: Drama realista e filosófico ecoa mestres da literatura nórdica Próximo Texto: Raio-X: Edney Silvestre Índice | Comunicar Erros
|