São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2010

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"Adorei saber que sou um fenômeno"

Estreante na literatura, Edney Silvestre conquistou o Jabuti e o Prêmio SP, dois dos mais importantes do Brasil

"Se Eu Fechar os Olhos Agora", lançado em 2009, também é um dos favoritos ao prêmio de Livro de Ficção do Ano

MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Reza a lenda que, horas antes do anúncio do Nobel de Literatura, anteontem, não se falava em outra coisa no mundo literário brasileiro: seria Edney Silvestre o novo ganhador?
A Academia Sueca, que concede o Nobel, certamente, está longe do poder de atração do autor, mas, no Brasil, o jornalista e romancista de primeira viagem é um ímã de prêmios literários.
Em agosto, Silvestre conquistou o Prêmio São Paulo de melhor autor estreante pelo romance "Se Eu Fechar os Olhos Agora". Com ele, faturou R$ 200 mil.
No último dia 2, ganhou o Jabuti de melhor romance, prêmio de maior prestígio no meio literário nacional.
A vitória faz dele automaticamente o favorito ao Jabuti de Livro do Ano de Ficção.
O resultado sairá em 4 de novembro. Ganhe mais um troféu ou não, já é um fenômeno literário, pelo menos quanto às premiações.
"Fenômeno? Dizem mesmo isso de mim? Adorei saber", afirma, empolgado.
Não foi da noite para o dia, no entanto, que ele virou um papa-prêmios.
A primeira tentativa de escrever um romance foi há 20 anos. Para um iniciante, não era nada tacanho: "Babilônia" seria uma versão anos 1980 de "Três Tristes Tigres", clássico de Guillermo Cabrera Infante (1929-2005).
Tinha então a certeza de que faria um bom romance.
Um editor da época, cujo nome ele não revela, não pensou da mesma maneira.
Recusou o livro de forma polida, mas, para Silvestre, soou como se dissesse que a história era "uma merda". "Senti-me um idiota", diz.
Acabou, porém, dando razão ao editor e jogou o romance no lixo.
A segunda tentativa, anos depois, não precisou de uma opinião externa: descartou-a por conta própria.
Teria desistido aí, não fosse uma ideia que não lhe saía da cabeça: a história de dois garotos de 12 anos que encontram um cadáver.
Nascia assim "Se Eu Fechar os Olhos Agora", lançado seis anos depois, em 2009. Ser publicado já era, em si, um prêmio, mas o começo não parecia nada promissor.
As primeiras sessões de lançamento foram, para dizer o mínimo, pífias.
"Tudo começou de verdade com uma crítica elogiosa que recebi na Folha. Aí começou a repercussão." A razão do sucesso ele não sabe, mas arrisca uma hipótese.
"Talvez porque o livro seja um balanço sobre a história do Brasil. E também uma história policial, em termos. E também por ser um romance de formação", divaga.
Silvestre fará 56 anos em 2011. A estreia tardia, na opinião dele, foi fundamental para amadurecer a criação. "Mas estou em boa companhia. Cervantes também começou em idade madura na literatura. Nada mal, não?"
Agora Silvestre prepara um novo romance. Sobre o livro, adianta apenas que "envolve o sentimento de ser estrangeiro no mundo".
Calcula levar mais uns quatro anos para concluir a história. Enquanto isso, diz não pensar em prêmios, para não bloquear a escrita.
Mas nem no Nobel?
"Me procure daqui a 20 anos", brinca o papa-prêmios literários.


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