São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

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Elomar estréia ópera sertaneja

SYLVIA COLOMBO
Editora-adjunta interina da Ilustrada

Elomar costuma dizer que seu público tem um "terceiro ouvido". Apesar de sabê-lo sensibilizado pela temática de sua obra e atraído pela complexidade da sua linguagem, ainda o considera imaturo para receber e interpretar sua produção operística.
"Vou catequizá-lo aos poucos", garantiu o compositor baiano, em entrevista à Folha. O espetáculo "Cenas Brasileiras", que estréia hoje no Rio de Janeiro e percorre algumas capitais do país, reúne trechos encenados de três óperas de sua autoria.
Elomar já não faz mais shows somente com seu cancioneiro popular -que marcou a fase mais prolífera de sua carreira, em que percorria o interior do país-, mas o cotidiano na caatinga e as coisas do sertão ainda são seu assunto preferido, sempre com a problemática da fé católica cortando o cenário. "Meu tema é muito brasileiro, é o comportamento das pessoas no sertão, as tramas das óperas são muito características das pessoas que vivem lá".
Elomar tem se dedicado a compor árias, galopes estradeiros, antífonas (espécie de cantata, composta de versículos) e concertos.
Numa rara ocasião em que abandona sua fazenda no interior da Bahia, onde também cria bodes, carneiros e planta cocos, o músico vai mostrar "Cenas Brasileiras" em Curitiba (dias 14 e 15), São Paulo (18 a 20) Goiânia (dia 24), Belo Horizonte (13 a 15 de novembro) e Brasília (21 e 22 de novembro).
² "A Noiva"
A cena "A Noiva", da ópera "Casa de Bonecas", abre o espetáculo. Faz parte de uma pentalogia que narra cinco histórias de casamentos fracassados pela morte da noiva ou por causa de traições.
Algo rodriguiano na intriga, tem a lírica e a caracterização sertaneja. O peão que viaja para o Sul em busca de trabalho na construção civil, a mulher que vive sob a rígida moral familiar, a loucura causada pelo desespero frente à miséria. "Coisas que acontecem muito neste Brasil sertanejo", diz ele.
² "Dança do Ferrão"
A segunda peça é a cena "Dança de Ferrão", da ópera "O Retirante", que Elomar diz estar compondo desde os 20 anos. Conta a história de um pequeno fazendeiro que não consegue pagar suas dívidas por causa da seca, que mata sua plantação.
A cena narra seu embate com o "anjo da morte", que visita a fazenda em que ele vive na noite anterior à chegada dos credores. Com insônia, o agricultor canta a agitação dos homens e dos animais que vivem em volta dele: "Eu essa noite num pudo drumi/c'a tribuzada dos bode pastô/batê de zaza marrec'ariri/nium dos bicho vivente parô/qui foi dos are das água e do chão/rã rapacuia ferrero e rodão/ todos bichim lovô/todos bichim pagão/mermo iantes da chuva/só o bicho home não".
² "A Leitura"
Na última parte, é encenada "A Leitura", trecho da ópera "A Carta", que fala da saga de uma sertaneja que vem para São Paulo trabalhar para conseguir dinheiro para seu casamento.
Depois de muito esforço, marca a data do mesmo para o dia de São João, quando regressaria para a terra natal. Na véspera de seu retorno para o sertão, é seduzida pelo filho do patrão.
A "desgraça" chega a seus circunstantes por meio de uma carta, lida de forma lamuriosa no dia de festa.
Entre as historietas, Elomar vai empunhar o violão sertanejo e cantar suas músicas. "O público me conhece por causa delas e, com elas, vou introduzi-lo nas minhas óperas", diz.
"Afinal, uma ópera é um rosário de canções emendadas por uma história", completa.
²
Espetáculo: Cenas Brasileiras Artista: Elomar Quando: de hoje a domingo, às 21h Onde: teatro Carlos Gomes (praça Tiradentes, tel. 021/232-8701, região central do Rio) Quanto: R$ 10 ²


Quando: dias 18, 19 e 20 de outubro Onde: teatro Paulo Eiró (av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro, região sul de São Paulo,tel. 546-0449)


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