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Elomar estréia ópera sertaneja
SYLVIA COLOMBO
Editora-adjunta interina da Ilustrada
Elomar costuma dizer que seu
público tem um "terceiro ouvido".
Apesar de sabê-lo sensibilizado
pela temática de sua obra e atraído
pela complexidade da sua linguagem, ainda o considera imaturo
para receber e interpretar sua produção operística.
"Vou catequizá-lo aos poucos",
garantiu o compositor baiano, em
entrevista à Folha. O espetáculo
"Cenas Brasileiras", que estréia
hoje no Rio de Janeiro e percorre
algumas capitais do país, reúne
trechos encenados de três óperas
de sua autoria.
Elomar já não faz mais shows somente com seu cancioneiro popular -que marcou a fase mais prolífera de sua carreira, em que percorria o interior do país-, mas o
cotidiano na caatinga e as coisas do
sertão ainda são seu assunto preferido, sempre com a problemática
da fé católica cortando o cenário.
"Meu tema é muito brasileiro, é o
comportamento das pessoas no
sertão, as tramas das óperas são
muito características das pessoas
que vivem lá".
Elomar tem se dedicado a compor árias, galopes estradeiros, antífonas (espécie de cantata, composta de versículos) e concertos.
Numa rara ocasião em que abandona sua fazenda no interior da
Bahia, onde também cria bodes,
carneiros e planta cocos, o músico
vai mostrar "Cenas Brasileiras" em
Curitiba (dias 14 e 15), São Paulo
(18 a 20) Goiânia (dia 24), Belo Horizonte (13 a 15 de novembro) e
Brasília (21 e 22 de novembro).
²
"A Noiva"
A cena "A Noiva", da ópera "Casa de Bonecas", abre o espetáculo.
Faz parte de uma pentalogia que
narra cinco histórias de casamentos fracassados pela morte da noiva ou por causa de traições.
Algo rodriguiano na intriga, tem
a lírica e a caracterização sertaneja.
O peão que viaja para o Sul em
busca de trabalho na construção
civil, a mulher que vive sob a rígida
moral familiar, a loucura causada
pelo desespero frente à miséria.
"Coisas que acontecem muito neste Brasil sertanejo", diz ele.
²
"Dança do Ferrão"
A segunda peça é a cena "Dança
de Ferrão", da ópera "O Retirante", que Elomar diz estar compondo desde os 20 anos. Conta a história de um pequeno fazendeiro que
não consegue pagar suas dívidas
por causa da seca, que mata sua
plantação.
A cena narra seu embate com o
"anjo da morte", que visita a fazenda em que ele vive na noite anterior à chegada dos credores. Com
insônia, o agricultor canta a agitação dos homens e dos animais que
vivem em volta dele: "Eu essa noite
num pudo drumi/c'a tribuzada
dos bode pastô/batê de zaza marrec'ariri/nium dos bicho vivente
parô/qui foi dos are das água e do
chão/rã rapacuia ferrero e rodão/
todos bichim lovô/todos bichim
pagão/mermo iantes da chuva/só o
bicho home não".
²
"A Leitura"
Na última parte, é encenada "A
Leitura", trecho da ópera "A Carta", que fala da saga de uma sertaneja que vem para São Paulo trabalhar para conseguir dinheiro para
seu casamento.
Depois de muito esforço, marca a
data do mesmo para o dia de São
João, quando regressaria para a
terra natal. Na véspera de seu retorno para o sertão, é seduzida pelo filho do patrão.
A "desgraça" chega a seus circunstantes por meio de uma carta,
lida de forma lamuriosa no dia de
festa.
Entre as historietas, Elomar vai
empunhar o violão sertanejo e
cantar suas músicas. "O público
me conhece por causa delas e, com
elas, vou introduzi-lo nas minhas
óperas", diz.
"Afinal, uma ópera é um rosário
de canções emendadas por uma
história", completa.
²
Espetáculo: Cenas Brasileiras
Artista: Elomar
Quando: de hoje a domingo, às 21h
Onde: teatro Carlos Gomes (praça
Tiradentes, tel. 021/232-8701, região central
do Rio)
Quanto: R$ 10
²
Quando: dias 18, 19 e 20 de outubro
Onde: teatro Paulo Eiró (av. Adolfo Pinheiro,
765, Santo Amaro, região sul de São
Paulo,tel. 546-0449)
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