|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Musical vende o neo-romantismo
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
A Aids foi metáfora para muita
coisa nestes tempos neo-românticos, de reencontro e exacerbação
de religiosidade. Em peças tão diferentes como "Angels in America" e "O Livro de Jó", a imagem
do portador era próxima daquela
de um mediador entre humanidade e sobrenatural -a Aids como provação de fé.
"Rent" tem muito disso, até um
personagem de nome Angel, um
travesti, para a mediação, mas é a
diluição do que antes ainda tinha
certo impacto novidadeiro e crítico. Mais do que as citadas e outras, o musical glamouriza a Aids,
como os românticos glamourizaram a tuberculose.
Morrer aos 20 anos, no musical,
é morrer por amor, a mais bela
das mortes. É estultice, até para os
mais ingênuos, mas é tal a regra
do musical americano. Não espere dele, do gênero, o desmascaramento, o juízo crítico, a não ser
em exceções. O negócio da Broadway é vender sonhos.
"Rent" é um belo de um sonho.
Jovens que se amam num ambiente de boêmia, com arte e sem
dinheiro. "Rent" exige ilusão, auto-engano de seu público. Exige
uma "suspensão de descrença" só
possível a apaixonados.
O modelo é o East Village de
Nova York, e a ambição é fazer
um corte de geração, como
"Hair". Ao contrário de "Hair",
"Rent" não rendeu hits, apesar
das boas canções, como "Seasons
of Love" e "Light My Candle".
É um espetáculo emocionante,
ao menos era assim, com o primeiro elenco nova-iorquino. Mas
não exija dele que levante um espelho para a sociedade: ele antes
apresenta a ela um modelo de atitude, no catálogo de venda do
mercado americano.
Texto Anterior: Rent Próximo Texto: Peça reinaugura teatro e estréia o circuito Broadway no Brasil Índice
|