São Paulo, Terça-feira, 09 de Novembro de 1999
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Musical vende o neo-romantismo

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

A Aids foi metáfora para muita coisa nestes tempos neo-românticos, de reencontro e exacerbação de religiosidade. Em peças tão diferentes como "Angels in America" e "O Livro de Jó", a imagem do portador era próxima daquela de um mediador entre humanidade e sobrenatural -a Aids como provação de fé.
"Rent" tem muito disso, até um personagem de nome Angel, um travesti, para a mediação, mas é a diluição do que antes ainda tinha certo impacto novidadeiro e crítico. Mais do que as citadas e outras, o musical glamouriza a Aids, como os românticos glamourizaram a tuberculose.
Morrer aos 20 anos, no musical, é morrer por amor, a mais bela das mortes. É estultice, até para os mais ingênuos, mas é tal a regra do musical americano. Não espere dele, do gênero, o desmascaramento, o juízo crítico, a não ser em exceções. O negócio da Broadway é vender sonhos.
"Rent" é um belo de um sonho. Jovens que se amam num ambiente de boêmia, com arte e sem dinheiro. "Rent" exige ilusão, auto-engano de seu público. Exige uma "suspensão de descrença" só possível a apaixonados.
O modelo é o East Village de Nova York, e a ambição é fazer um corte de geração, como "Hair". Ao contrário de "Hair", "Rent" não rendeu hits, apesar das boas canções, como "Seasons of Love" e "Light My Candle".
É um espetáculo emocionante, ao menos era assim, com o primeiro elenco nova-iorquino. Mas não exija dele que levante um espelho para a sociedade: ele antes apresenta a ela um modelo de atitude, no catálogo de venda do mercado americano.


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