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LITERATURA
Ganhou Pulitzer com "As Horas"
Cunningham faz palestra em SP
SHEILA GRECCO
da Redação
Michael Cunningham, 47, um dos
mais importantes
nomes da atual literatura americana,
está no Brasil pela
primeira vez. Após uma passagem pela Feira do Livro de Porto
Alegre, ele faz hoje palestra no
Sesc Vila Mariana, em SP. Depois
dos polêmicos "Uma Casa no Fim
do Mundo" (94) e "Laços de Sangue" (97), o autor conquistou reconhecimento com "As Horas".
Ele ganhou neste ano os dois
mais importantes prêmios literários norte-americanos, o Pulitzer
Prize de ficção e o PEN/Faulkner e
foi sucesso de vendas. "As Horas"
é uma reescritura do clássico de
Virginia Woolf "Mrs. Dalloway".
O romance narra um dia na vida
de três mulheres de diferentes gerações. Cunningham, que já disse
escrever improvisando como a
guitarra de Jimmy Hendrix, investiu em pesquisa e estilo.
Dissecou a obra de Woolf e fez
questão de visitar o pequeno rio
Ouse, onde ela teria se suicidado
aos 59 anos, no sudeste da Inglaterra. "Quando pensava na cena
do suicídio, imaginava um rio
enorme como Mississipi ou o rio
Amazonas, alguma coisa impulsiva", explicou o autor em entrevista à Folha, de Manhattan, antes de
embarcar para o Brasil.
A surpresa com o insignificante
riacho lhe deu a marca precisa do
desespero de Woolf. Essa experiência quase teatral mudou os
rumos de seus escritos. O interesse pela literatura de Woolf surgiu
aos 15 anos, quando era estudante
na Califórnia do Sul.
Uma amiga, mais velha e intelectual, horrorizada de saber que
ele não conhecia a obra da escritora inglesa, ofereceu-lhe um exemplar de "Mrs. Dalloway". "A beleza e a musicalidade me atingiram
de maneira que eu não podia entender ainda àquela época. Todo
leitor tem um primeiro grande livro. Como todos têm a experiência de um primeiro grande beijo".
Woolf dizia que tudo o que se
precisava saber sobre a essência
humana cabia em duas pessoas
tomando café juntas. O autor foi
motivado por este pensamento e
admite que a experiência como
barman o ajudou a extrair o sublime dos fatos mais ordinários.
"Atos comezinhos como comprar flores, trocar beijos, olhares,
fazer um bolo não estão no livro à
toa". O autor escreveu sob a máxima influência de Woolf, mas sem
imitá-la, o que seria um erro.
"Jamais escrevi um livro imaginando uma leitura obrigatória
prévia. Mas se as pessoas se interessarem por descobrir as referências ou redescobrir o trabalho
de Woolf, está feito o tributo".
Cunningham diz não ligar para
prêmios e ter se surpreendido
com o reconhecimento da crítica.
Mesmo assim "As Horas" pode
ser lido como "Mrs. Dalloway"
dos anos 90. O livro de Cunningham questiona as estruturas familiares contemporâneas, a Aids
e as ilusões dos relacionamentos.
Casado há 12 anos com o psiquiatra Ken Corbett, o autor rejeita os rótulos de "escritor dos homossexuais e dos outsiders". "Ser
gay e escrever para gays é panfletário e significaria a morte da arte". Em busca de novas expressões da arte, ele finaliza um roteiro para a Universal Studio.
Palestra: Michael Cunningham
Quando: hoje, às 20h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141,
Vila Mariana; tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: entrada franca
Livro: As Horas
Autor: Michael Cunningham
Tradutora: Beth Vieira
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 21 (182 págs.)
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