INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"O Capitão Corelli" é um militar italiano que, durante a Segunda Guerra, ocupa uma ilha grega com grande simpatia e passa a maior parte do tempo cantando "La Donna È Mobile" junto com seus comandados. A parte restante do tempo ele dedica a paquerar Penélope Cruz, aliás Pelagia.
No mais, por que haveria de ser diferente? Na visão de John Madden, diretor da coisa, a guerra é uma festa permanente, cheia de música e amores. Ou quase isso. Há os partisans. Entre eles, o pescador Mandras (Christian Bale).
Pobre Mandras! Enquanto está na guerra, na Albânia, enfrentando os italianos, sua noiva Pelagia está confraternizando com o inimigo, com Corelli, mais precisamente. Ao voltar, integra-se aos partisans, mas não se sabe se por amor à pátria ou por dor de corno -a segunda razão é a que parece pesar mais.
Nisso estamos, fazendo o possível e o impossível para não pegar no sono, quando a guerra tem uma reviravolta. Mussollini é deposto. Os alemães tomam o comando na Grécia.
É quando Corelli decide parar com a cantoria e se tornar herói, ao se recusar a depor as armas -por desconfiança dos alemães, por simpatia pelos gregos, por preferir Verdi a Wagner ou, aquilo que é mais provável, por amor a Pelagia. Ou, como diz o outro: fala sério!
Se "O Capitão Corelli" dura intermináveis 130 minutos, não é certamente porque necessita de todo esse tempo para compor a inacreditável xaropada que desfila na tela. Nem para mostrar italianos, gregos e alemães como seres ridículos.
O mais provável é que precisasse de tanto tempo para fazer um inventário dos clichês cinematográficos das mais variadas épocas, dos mais diversos gêneros. Nesse sentido, "Corelli" não deixa de ser uma aula de cinema.

O Capitão Corelli
Captain Corelli's Mandolin
 
Direção: John Madden
Produção: EUA/França/ Inglaterra, 2001
Com: Nicolas Cage, Penélope Cruz
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Morumbi, Tamboré e circuito