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ANÁLISE
Escultor de batidas, o duo agrada a várias tribos do pop
CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Hoje eles são um dos três
nomes mais populares da
música eletrônica. Nomes como
Oasis, Bono Vox e New Order os
reverenciam. Já venderam mais
de 5 milhões de cópias de seus três
álbuns. São dos poucos nomes da
música computadorizada que
agradam roqueiros xiitas, fãs de
indie com franjinhas, rappers,
metaleiros, skatistas, surfistas,
boys e manos. E inventaram um
gênero musical: o big beat.
Os Chemical Brothers não imaginavam que iam chegar tão longe, com certeza. Quando lançaram seu primeiro single em 1992,
"Song to the Siren", até usavam o
nome de uma dupla que já existia,
os Dust Brothers. Os homenageados eram dois produtores de hip
hop da Califórnia que, entre outros, trabalharam com Coolio,
Beastie Boys e Beck.
Tom Rowlands e Ed Simmons
formavam a dupla sampleadora
de Manchester, Inglaterra. Universitários com pinta de nerd,
gastavam mais tempo com as letrinhas miúdas das contracapas
dos discos do que com os livros da
faculdade.
Seus primeiros singles fizeram
um barulho danado na cena eletrônica e eles logo estavam remixando Prodigy, Primal Scream e
Lionrock. O barulho chegou nos
ouvidos dos Dust Brothers originais, que vetaram o homônimo.
Nasceu então um novo título para
os "irmãos", Chemical.
A mudança no nome não afetou
a vida dos Chemicals em nada.
Sua música de ritmos hip hop
("breakbeats"), timbres rock e
ambientação e estrutura eletrônica já causava rebuliço. Escultores
caprichosos de batidas, pegam
samples e os torcem de modo que
um vocal pode virar um violino.
Uma vez disseram: "Sampleamos
um monte de gente conhecida
mas desafiamos alguém a identificar alguma coisa".
Em 94, iniciaram uma histórica
residência como DJs numa biboca chamada Heavenly Sunday Social. Instalado em cima de um pub
caído de Londres, esse "clube"
funcionava domingo à noite e
atraía multidões de baladeiros extremistas, para quem toda noite é
sábado.
Batidão
Os Chemicals tocavam, além
dos seus breakbeats, tecno, punk,
Oasis, pop, rap antigo, basicamente "tudo que fosse bom". Foi
no Social também que DJs como
Jon Carter foram revelados. E carreiras foram ressuscitadas: um tal
Norman Cook, em baixa depois
de anos de hits em outros tempos,
começou a gravar breakbeats
com o nome de Fatboy Slim inspirado pelo Social e veja no que deu.
Seu primeiro álbum, "Exit Planet Dust", veio em 95 e vendeu
130 mil cópias no Reino Unido na
época de seu lançamento. Com o
Social, seus discípulos e agora o
álbum, estavam sedimentados
um movimento e o novo gênero
preconizado por Simmons e Rowlands. A essa nova criatura se
chamou de big beat, batidão. Funkeado, eletrônico, agressivo, alucinógeno, sem frescuras, pretensões artísticas ou papo cabeça do
terceiro milênio, o big beat foi um
dos momentos mais democráticos da música eletrônica.
Só que os Chemical Brothers
sempre tiveram uma coleção de
discos grande demais para se
prender a um estilo só. O primeiro disco é bem big beat mas já há
pistas de como no futuro o leque
iria se abrir muito. A idéia das
participações de vocalistas pop,
por exemplo, estreou aqui, com
"Life Is Sweet", com Tim Burgess,
dos Charlatans.
O segundo álbum, "Dig Your
Own Hole", já veio mais ambicioso, atirando em mais direções (e
acertando sempre). Trouxe seus
primeiros hits internacionais:
"Block Rockin" Beats", que ganhou Grammy de melhor instrumental rock; e "Setting Sun", com
Noel Gallagher do Oasis no vocal.
E o espetacular épico "The Private
Psychedelic Reel", com sua cítara
lisérgica.
O terceiro se chamou "Surrender". Mais sucessos, como "Hey
Boy Hey Girl" e o uso de tons mais
brilhantes, mais alegres. Em "Out
of Control" contaram com o vocal
de Bernard Sumner, do New Order, prova de que seu status pop já
era altíssimo.
E foi assim que dois universitários sem a menor inclinação para
popstars se tornaram uma das
bandas mais importantes da nossa época. Devem continuar assim
por um bom tempo.
Camilo Rocha é DJ e jornalista
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