São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2001

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ANÁLISE

Escultor de batidas, o duo agrada a várias tribos do pop

CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje eles são um dos três nomes mais populares da música eletrônica. Nomes como Oasis, Bono Vox e New Order os reverenciam. Já venderam mais de 5 milhões de cópias de seus três álbuns. São dos poucos nomes da música computadorizada que agradam roqueiros xiitas, fãs de indie com franjinhas, rappers, metaleiros, skatistas, surfistas, boys e manos. E inventaram um gênero musical: o big beat.
Os Chemical Brothers não imaginavam que iam chegar tão longe, com certeza. Quando lançaram seu primeiro single em 1992, "Song to the Siren", até usavam o nome de uma dupla que já existia, os Dust Brothers. Os homenageados eram dois produtores de hip hop da Califórnia que, entre outros, trabalharam com Coolio, Beastie Boys e Beck.
Tom Rowlands e Ed Simmons formavam a dupla sampleadora de Manchester, Inglaterra. Universitários com pinta de nerd, gastavam mais tempo com as letrinhas miúdas das contracapas dos discos do que com os livros da faculdade.
Seus primeiros singles fizeram um barulho danado na cena eletrônica e eles logo estavam remixando Prodigy, Primal Scream e Lionrock. O barulho chegou nos ouvidos dos Dust Brothers originais, que vetaram o homônimo. Nasceu então um novo título para os "irmãos", Chemical.
A mudança no nome não afetou a vida dos Chemicals em nada. Sua música de ritmos hip hop ("breakbeats"), timbres rock e ambientação e estrutura eletrônica já causava rebuliço. Escultores caprichosos de batidas, pegam samples e os torcem de modo que um vocal pode virar um violino. Uma vez disseram: "Sampleamos um monte de gente conhecida mas desafiamos alguém a identificar alguma coisa".
Em 94, iniciaram uma histórica residência como DJs numa biboca chamada Heavenly Sunday Social. Instalado em cima de um pub caído de Londres, esse "clube" funcionava domingo à noite e atraía multidões de baladeiros extremistas, para quem toda noite é sábado.

Batidão
Os Chemicals tocavam, além dos seus breakbeats, tecno, punk, Oasis, pop, rap antigo, basicamente "tudo que fosse bom". Foi no Social também que DJs como Jon Carter foram revelados. E carreiras foram ressuscitadas: um tal Norman Cook, em baixa depois de anos de hits em outros tempos, começou a gravar breakbeats com o nome de Fatboy Slim inspirado pelo Social e veja no que deu.
Seu primeiro álbum, "Exit Planet Dust", veio em 95 e vendeu 130 mil cópias no Reino Unido na época de seu lançamento. Com o Social, seus discípulos e agora o álbum, estavam sedimentados um movimento e o novo gênero preconizado por Simmons e Rowlands. A essa nova criatura se chamou de big beat, batidão. Funkeado, eletrônico, agressivo, alucinógeno, sem frescuras, pretensões artísticas ou papo cabeça do terceiro milênio, o big beat foi um dos momentos mais democráticos da música eletrônica.
Só que os Chemical Brothers sempre tiveram uma coleção de discos grande demais para se prender a um estilo só. O primeiro disco é bem big beat mas já há pistas de como no futuro o leque iria se abrir muito. A idéia das participações de vocalistas pop, por exemplo, estreou aqui, com "Life Is Sweet", com Tim Burgess, dos Charlatans.
O segundo álbum, "Dig Your Own Hole", já veio mais ambicioso, atirando em mais direções (e acertando sempre). Trouxe seus primeiros hits internacionais: "Block Rockin" Beats", que ganhou Grammy de melhor instrumental rock; e "Setting Sun", com Noel Gallagher do Oasis no vocal. E o espetacular épico "The Private Psychedelic Reel", com sua cítara lisérgica.
O terceiro se chamou "Surrender". Mais sucessos, como "Hey Boy Hey Girl" e o uso de tons mais brilhantes, mais alegres. Em "Out of Control" contaram com o vocal de Bernard Sumner, do New Order, prova de que seu status pop já era altíssimo.
E foi assim que dois universitários sem a menor inclinação para popstars se tornaram uma das bandas mais importantes da nossa época. Devem continuar assim por um bom tempo.


Camilo Rocha é DJ e jornalista


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