São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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"O LIVRO DAS ILUSÕES"

Em meio a um novo projeto literário, Paul Auster conta que abandonou o cinema para escrever

"Vou passar o resto do tempo no quarto"

DE NOVA YORK

Leia abaixo a continuação da entrevista com o escritor Paul Auster. (SD)
 

Folha - O personagem David Zimmer é você?
Paul Auster -
Não, tanto que a certa altura do livro ele destrói o cinema atual e defende os filmes mudos e P&B como única expressão válida da arte, e eu não acho isso. Talvez eu até prefira filmes mudos a falados, mas é só.

Folha - Até porque você já escreveu e dirigiu três longas ("Cortina de Fumaça", "Sem Fôlego" e "O Mistério de Lulu"), não? Vem mais algum por aí?
Auster -
Não, me aposentei do cinema de vez. Adorei fazer os filmes, mas é impossível se dedicar como um hobby. Não consigo escrever e filmar ao mesmo tempo, só que quase enlouqueço quando não estou escrevendo. Além disso, estou ficando velho, e ainda há muitos livros que quero fazer, então acho que vou passar o resto do tempo no meu quarto.

Folha - Quão diferente do primeiro texto que você escreveu terminam seus livros?
Auster -
O livro começa com um ritmo, tenho uma idéia do que vai ser o arco da história. Mas, assim que vou escrevendo, as coisas mudam. Não chamaria esse processo de improviso, mas não está tudo mapeado quando sento para escrever. E nunca termina igual.

Folha - Então nem adianta perguntar sobre o romance que você escreve agora...
Auster -
Já escrevi 90 páginas do novo livro, estou em plena ebulição. Mas você está certo, provavelmente vai mudar muito daqui para a frente. De qualquer maneira, não iria dizer do que se trata, é muito cedo. Posso acordar amanhã cedo e jogar tudo fora.

Folha - Isso já aconteceu?
Auster -
Algumas vezes, já joguei fora muitos pedaços de livro, muitos começos. Às vezes você trabalha meses e um dia simplesmente percebe que não é bom.

Folha - Em "Ilusões", Zimmer escreve sobre pessoas como Salinger que a certa altura desistem de escrever. Você pensa nisso?
Auster -
Não, não, não, de jeito nenhum. Só me interesso pelo assunto, fascinante. Outro dia li um artigo sobre Harper Lee, a autora de "To Kill a Mockingbird" [que virou o filme "O Sol É para Todos", 1962]. É o único livro que ela escreveu, há 40 anos, e nunca mais. Hoje é uma senhora que vive no subúrbio, vai a jogos de beisebol. Isso me inspirou.

Folha - Um personagem de "Ilusões" destrói um manuscrito para salvar a musa dele. Você faria isso?
Auster -
Se eu tivesse uma musa, sim [entra na cozinha sua mulher, a escritora Siri Hustvedt]. A menos que ela seja minha musa. Na verdade, Siri é muito "amusing" [um trocadilho com a palavra "divertida", em inglês]. (risos)


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