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"O LIVRO DAS ILUSÕES"
Em meio a um novo projeto literário, Paul Auster conta que abandonou o cinema para escrever
"Vou passar o resto do tempo no quarto"
DE NOVA YORK
Leia abaixo a continuação da
entrevista com o escritor Paul
Auster.
(SD)
Folha - O personagem David Zimmer é você?
Paul Auster - Não, tanto que a
certa altura do livro ele destrói o
cinema atual e defende os filmes
mudos e P&B como única expressão válida da arte, e eu não acho
isso. Talvez eu até prefira filmes
mudos a falados, mas é só.
Folha - Até porque você já escreveu e dirigiu três longas ("Cortina
de Fumaça", "Sem Fôlego" e "O
Mistério de Lulu"), não? Vem mais
algum por aí?
Auster - Não, me aposentei do
cinema de vez. Adorei fazer os filmes, mas é impossível se dedicar
como um hobby. Não consigo escrever e filmar ao mesmo tempo,
só que quase enlouqueço quando
não estou escrevendo. Além disso, estou ficando velho, e ainda há
muitos livros que quero fazer, então acho que vou passar o resto do
tempo no meu quarto.
Folha - Quão diferente do primeiro texto que você escreveu terminam seus livros?
Auster - O livro começa com um
ritmo, tenho uma idéia do que vai
ser o arco da história. Mas, assim
que vou escrevendo, as coisas
mudam. Não chamaria esse processo de improviso, mas não está
tudo mapeado quando sento para
escrever. E nunca termina igual.
Folha - Então nem adianta perguntar sobre o romance que você
escreve agora...
Auster - Já escrevi 90 páginas do
novo livro, estou em plena ebulição. Mas você está certo, provavelmente vai mudar muito daqui
para a frente. De qualquer maneira, não iria dizer do que se trata, é
muito cedo. Posso acordar amanhã cedo e jogar tudo fora.
Folha - Isso já aconteceu?
Auster - Algumas vezes, já joguei
fora muitos pedaços de livro,
muitos começos. Às vezes você
trabalha meses e um dia simplesmente percebe que não é bom.
Folha - Em "Ilusões", Zimmer escreve sobre pessoas como Salinger
que a certa altura desistem de escrever. Você pensa nisso?
Auster - Não, não, não, de jeito
nenhum. Só me interesso pelo assunto, fascinante. Outro dia li um
artigo sobre Harper Lee, a autora
de "To Kill a Mockingbird" [que
virou o filme "O Sol É para Todos", 1962]. É o único livro que ela
escreveu, há 40 anos, e nunca
mais. Hoje é uma senhora que vive no subúrbio, vai a jogos de beisebol. Isso me inspirou.
Folha - Um personagem de "Ilusões" destrói um manuscrito para
salvar a musa dele. Você faria isso?
Auster - Se eu tivesse uma musa,
sim [entra na cozinha sua mulher,
a escritora Siri Hustvedt]. A menos que ela seja minha musa. Na
verdade, Siri é muito "amusing"
[um trocadilho com a palavra "divertida", em inglês]. (risos)
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