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Crítica/DVD
"Vá e Veja" leva poesia a cenário de guerra
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
As únicas imagens documentais de "Vá e Veja"
(1985) só aparecem em
seus minutos finais. Embora o
efeito seja notável, esse clássico
do filme de guerra não precisaria recorrer a isso para aumentar a catarse anti-nazista que o
orienta quase desde o início.
Quase, porque a primeira
meia hora do filme trata a Segunda Guerra Mundial de longe, como o evento que leva
crianças e adolescentes a procurar armas e outros objetos de
uso militar escondidos nas
areias brancas de uma aldeia na
Bielo-Rússia (ou Belarus), república soviética invadida pelos alemães, em 1943.
Um deles, Fliora (Aleksei
Kravchenko), encontra um rifle e resolve abandonar a mãe e
as irmãs pequenas para se juntar a guerrilheiros. Inexperiente, não será aceito pelo comandante da milícia, mas experimentará, primeiro acompanhado por uma jovem (Olga
Mironova) e depois sozinho, as
agruras do conflito.
Sua jornada não é propriamente a de um herói, como um
filme hollywoodiano tenderia a
caracterizá-la. Fliora carrega a
dor profunda e a indignação de
ser um sobrevivente em cenário de apocalipse: 628 aldeias
bielo-russas foram queimadas
com seus habitantes pelos nazistas, informa o próprio "Vá e
Veja" (ou "venha e veja", no título em inglês).
Último dos cinco longas dirigidos pelo russo Elem Klimov
(1933-2003), que teve atuação
política expressiva (sobretudo
como secretário da associação
de cineastas do país) nos tempos de URSS, ele se inspira parcialmente em episódios de
guerra vividos por ele e sua família em Volgogrado (na época,
Stalingrado).
A forte estrutura estatal do
cinema soviético, que reunia 39
estúdios espalhados pelas repúblicas, possibilitou que Klimov trabalhasse aqui em escala
de superprodução, sob o guarda-chuva do Mosfilm, em Moscou, e do Belarusfilm, em
Minsk. Não causa surpresa,
portanto, que tenha obtido o
prêmio de melhor filme no Festival de Moscou.
A denúncia de atrocidades
cometidas contra bielo-russos
e a abordagem épica transformaram também "Vá e Veja" em
um grande sucesso de bilheteria na URSS, com cerca de 29
milhões de espectadores ("Titanic", o recordista do mercado
brasileiro em toda a história,
teve 16,3 milhões).
"Estes são tempos difíceis",
diz um personagem. Klimov
não procura maquiá-los, mas
combina poesia ao realismo para acompanhar o efeito da
guerra sobre os sentidos de
Fliora (com destaque para a audição) e seu processo traumático de amadurecimento.
VÁ E VEJA
Direção: Elem Klimov
Distribuidora: Lume
Quanto: R$ 37, em média
Classificação: não indicado a menores
de 12 anos
Avaliação: ótimo
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