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POLÍTICA CULTURAL
Proposta de Weffort de taxar filmes foi descartada por produtores, distribuidores e exibidores no Rio
Mercado vê erro em taxa do "lixo cultural'
PATRICIA DECIA
enviada especial ao Rio
Um projeto equivocado e retrógrado. Assim produtores e distribuidores avaliaram a proposta do
ministro da Cultura, Francisco
Weffort, de taxação do "lixo cultural" cinematográfico, descartada
em reunião realizada na última
sexta-feira, no Rio.
O aumento da tributação sobre
filmes importados, com o objetivo
de conseguir mais espaço para o cinema nacional, foi formulado a
partir de um "erro técnico", segundo o produtor Luiz Carlos Barreto.
"Houve uma controvérsia em
torno dos números e teremos de
reexaminá-los antes de qualquer
medida", disse o ministro.
Essa é a segunda vez em seu mandato que Weffort é obrigado a voltar atrás em propostas protecionistas para a produção cultural
brasileira, baseadas em informações incompletas.
Caso semelhante aconteceu no
final de 1996, quando o ministro
incentivou a taxação de fonogramas estrangeiros, com o objetivo
de proteger a música nacional.
Na época, verificou-se que a música brasileira popular é majoritária em vendas e execução, e a "Lei
da Música" acabou por ser descartada pelo governo.
Desta vez, o ministério tinha em
mãos um relatório produzido pelos exibidores referente ao ano de
1997. Segundo o documento, dos
356 filmes exibidos no país, 103 tiveram público menor que 10 mil
espectadores.
Pela análise do MinC, isso mostrava que grande parte desses filmes são "lixo cultural", ou seja,
chegaram ao país por causa de
uma prática habitual, mas jamais
admitida pelo mercado. Eles viriam numa espécie de pacote,
acompanhando a compra de títulos de sucesso, como "Titanic".
Para que esses filmes entrem no
país, têm de ser registrados e pagar
uma taxa de R$ 1.025.
O projeto de Weffort propunha
um aumento desse valor, que seria
discutido com representantes da
área, obrigando os importadores a
refletir melhor na hora de realizar
uma compra.
²
"A Enguia"
O primeiro argumento contra a
proposta é que, sob o mesmo guarda-chuva do "lixo cultural", estão
filmes de arte, independentes, relançamentos e títulos exibidos em
mostras cinematográficas. A taxação atingiria indiscriminadamente
essa variedade.
Weffort havia sugerido que os filmes de arte poderiam ser facilmente identificados -e protegidos- pelo próprio ministério, recebendo a isenção da taxa.
Uma prova de que a diferenciação não é simples ocorreu na própria reunião de sexta.
Durante a discussão em cima de
uma lista de filmes, representantes
do ministério pensaram que "A
Enguia", do diretor japonês Shohei
Imamura, premiado no festival de
Cannes em 1997, fosse um filme
pornográfico.
Para Rodrigo Saturnino Braga,
gerente-geral da distribuidora Columbia, a discussão remete à época
em que a Embrafilme era acusada
de financiar pornochanchada.
"Não se pode pegar uma lista de títulos e dizer que é lixo cultural sem
nem sequer assistir ao filme. Eu repudio a figura do lixo cultural."
Braga diverge ainda da interpretação dos números.
Segundo ele, cerca de 100 dos 385
filmes não foram importados em
1997 -teriam sido lançados no
ano anterior, 1996, e continuado
em exibição ou relançados.
De acordo com a avaliação do
distribuidor, que provocou a revisão dos números pelo ministro,
apenas 54 filmes importados e lançados em 1997 ficaram abaixo dos
10 mil espectadores.
A maioria deles teria sido exibida
em tradicionais salas de filmes de
arte.
²
Vídeo e TV
Outro argumento é que a medida vê o mercado audiovisual como
há 20 anos, deixando de lado o vídeo, a TV paga e a TV aberta. A taxa deveria ser paga para a exibição
da obra em cada um desses meios,
o que não acontece atualmente.
Barreto também afirma que uma
solução para aumentar recursos é
combater a evasão do pagamento.
Moacir Oliveira, secretário do
Audiovisual do MinC, diz que a sonegação do registro em vídeo já foi
detectada, mas não serão tomadas
medidas por enquanto.
"Estamos tentando encontrar
um solução que abranja todos os
setores", afirma o secretário.
Também participaram da reunião Anibal Massaíni, Leonardo
Monteiro de Barros e Mariza Leão,
representando os produtores, Iôna
Macedo, representando os exibidores, Adalberto Macedo, Adhemar de Oliveira e Roberto Darze,
representando os distribuidores.
Os membros da comissão deverão reunir-se agora com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Levarão a ele o pedido de criação de um fundo para financiar a
comercialização dos filmes. O governo teria de entrar com R$ 10 milhões, provenientes da dotação orçamentária, para iniciar o fundo.
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