São Paulo, segunda, 9 de novembro de 1998

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Toda Nudez Será Castigada

da Equipe de Articulistas


"Toda Nudez Será Castigada" é um raro exemplo brasileiro de unanimidade de crítica e público.
Em sua época, o filme foi tirado de cartaz pela censura -que não engoliu seu final transgressivo-, mas voltou aos cinemas depois de conquistar o Urso de Prata no Festival de Berlim.
A história -extraída da peça teatral homônima de Nelson Rodrigues- diz respeito a Herculano (Paulo Porto), viúvo carola e reprimido que se apaixona pela prostituta Geni (interpretada pela atriz Darlene Glória).
Tudo se complica quando o jovem filho de Herculano, Serginho (Paulo Sacks), que é ainda mais moralista que o pai, também se envolve com Geni.
O filme salta para um plano quase fantástico quando Serginho vai parar na cadeia e lá é currado pelo "ladrão boliviano", um dos personagens mais memoráveis do universo rodrigueano, embora apareça pouco e não fale nada.
Nunca o cinema conseguiu traduzir com tanta felicidade os paradoxos que animavam a dramaturgia rodrigueana: a degradação e a santidade, a castidade e a pornografia, o grotesco e o sublime, o trágico e o cômico.
Tudo isso está condensado na interpretação luminosa de Darlene Glória, sob a música dilacerante de Astor Piazzola.
François Truffaut dizia que "o papel do diretor de cinema é mostrar mulheres bonitas fazendo coisas bonitas".
Jabor fez diferente: mostrou mulheres bonitas (Darlene Glória, Adriana Prieto, Sônia Braga, Vera Fischer, Fernanda Torres) fazendo coisas terríveis. Foi assim que criou um cinema forte e inconfundível. (JGC)


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