São Paulo, terça, 9 de dezembro de 1997.




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Tempo passa em marrom para Secchin

FERNANDO OLIVA
da Redação

O marrom ilustra a memória para Guilherme Secchin. E foi com essa cor e algumas de suas variações -como sépia, siena e âmbar queimado- que o artista criou as telas de "Suíte Brasiliana", em exposição a partir de hoje na galeria Sesc Paulista.
A série foi toda produzida entre o ano passado e este, mas parece antiga, muito mais antiga. Não apenas porque Secchin retrata um Brasil pré-descobrimento, mas talvez pelas marcas de bolor que se espalham pelo quadro, pelo tom esmaecido de suas superfícies, pela grossa camada de poeira que dificulta nossa visão.
Óbvio que se trata de técnica, efeitos pertinentes ao tema de sua pintura (para as partes emboloradas, por exemplo, foi usado fungicida). Mas o resultado, convincente, consegue promover o sutil ressurgimento de um Brasil primitivo e selvagem.
Sobre as superfícies terrosas, Secchin aplica pequenas transparências douradas. Dependendo da posição do espectador e de que como a luz incide sobre a pintura, o ouro salta aos olhos.
Secchin acredita que a cor da memória se manifesta nesse diálogo, "como relâmpagos de lembranças em tons sépia, com o passado refletido em películas douradas".
Na obra "Tratado de Tordesilhas", lê-se a frase: "uma certa saudade me abate". Além de índios, escravos, marinhas, frutas e baías, a figuração de Secchin é composta por textos de sua autoria e que passeiam aleatoriamente pelos quadros.
Os versos -assim como as cenas do descobrimento, da baía de Guanabara e do casario de Parati- estão quase sempre perdidos em cenários nebulosos. Foram escritos com pincel, e algumas passagens, atingidas pelos borrifos do fungicida, tornaram-se incompreensíveis para o próprio artista.
"Suíte Brasiliana" pode ser vista como se folheia um diário de viagem. No caso, anotações de um outro tempo, que já não podem ser decodificadas por completo. E, de fato, uma das principais inspirações de Secchin ao produzir a série foi "Flora Brasiliensis", um dos livros de viagens do botânico alemão Carl von Martius (1794-1868).
Esta é a primeira individual de Secchin na cidade. A mostra já esteve no Museu Nacional de Belas Artes, no centro do Rio, neste ano.

Exposição: Guilherme Secchin - Suíte Brasiliana Quando: hoje, a partir das 19h; segunda a sexta, das 10h às 19h; até 15 de janeiro Onde: galeria Sesc Paulista (av. Paulista, 119, Cerqueira César, tel. 011/284-2111)


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