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Tempo passa em marrom para Secchin
FERNANDO OLIVA
da Redação
O marrom ilustra a memória para Guilherme Secchin. E foi com
essa cor e algumas de suas variações -como sépia, siena e âmbar
queimado- que o artista criou as
telas de "Suíte Brasiliana", em exposição a partir de hoje na galeria
Sesc Paulista.
A série foi toda produzida entre o
ano passado e este, mas parece antiga, muito mais antiga. Não apenas porque Secchin retrata um
Brasil pré-descobrimento, mas
talvez pelas marcas de bolor que se
espalham pelo quadro, pelo tom
esmaecido de suas superfícies, pela
grossa camada de poeira que dificulta nossa visão.
Óbvio que se trata de técnica,
efeitos pertinentes ao tema de sua
pintura (para as partes emboloradas, por exemplo, foi usado fungicida). Mas o resultado, convincente, consegue promover o sutil ressurgimento de um Brasil primitivo
e selvagem.
Sobre as superfícies terrosas,
Secchin aplica pequenas transparências douradas. Dependendo da
posição do espectador e de que como a luz incide sobre a pintura, o
ouro salta aos olhos.
Secchin acredita que a cor da memória se manifesta nesse diálogo,
"como relâmpagos de lembranças
em tons sépia, com o passado refletido em películas douradas".
Na obra "Tratado de Tordesilhas", lê-se a frase: "uma certa
saudade me abate". Além de índios, escravos, marinhas, frutas e
baías, a figuração de Secchin é
composta por textos de sua autoria
e que passeiam aleatoriamente pelos quadros.
Os versos -assim como as cenas
do descobrimento, da baía de Guanabara e do casario de Parati- estão quase sempre perdidos em cenários nebulosos. Foram escritos
com pincel, e algumas passagens,
atingidas pelos borrifos do fungicida, tornaram-se incompreensíveis para o próprio artista.
"Suíte Brasiliana" pode ser vista como se folheia um diário de
viagem. No caso, anotações de um
outro tempo, que já não podem ser
decodificadas por completo. E, de
fato, uma das principais inspirações de Secchin ao produzir a série
foi "Flora Brasiliensis", um dos
livros de viagens do botânico alemão Carl von Martius (1794-1868).
Esta é a primeira individual de
Secchin na cidade. A mostra já esteve no Museu Nacional de Belas
Artes, no centro do Rio, neste ano.
Exposição: Guilherme Secchin - Suíte
Brasiliana
Quando: hoje, a partir das 19h; segunda a
sexta, das 10h às 19h; até 15 de janeiro
Onde: galeria Sesc Paulista (av. Paulista,
119, Cerqueira César, tel. 011/284-2111)
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