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DANÇA/CRÍTICA
Em "Onegin", drama emerge no corpo
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Em "Onegin", de John Cranko
(1927-73), todo um repertório de imagens visuais desaba sobre nós, com expressividade própria. Remontado pela primeira
vez no Brasil, o balé de 1965 alia a
linguagem neoclássica a grandes
doses de dramaticidade. A montagem do Balé do Teatro Municipal do Rio é o ponto alto de um
ano de raras produções, um
triunfo técnico e artístico que apaga as turbulências de bastidor.
Baseado no poema de Pushkin
(1799-1837), é um balé da clareza,
estruturado em temas e repetições. Cranko combina e condensa
as ações teatrais, numa coreografia onde cada movimento tem peso próprio; uma dança em espirais, rica de conexões que antecipam ou revelam o caráter do que
se vê. A música de Tchaikovski
(adaptada por Kurt-Heinz Stolze)
foi bem tocada, domingo, pela
Orquestra do Municipal, regida
por Javier Orbe.
"Onegin" é a história de Tatiana
(Ana Botafogo), que vive numa
vila russa em 1820 e se apaixona
pelo forasteiro Onegin (Marcelo
Misalidis). Ele lhe foi apresentado
por Lenski (Vitor Luiz), o noivo
de sua irmã Olga (Roberta Marques). Honra e amizade surgem
de várias perspectivas: não só
uma história, mas seus desdobramentos, pelo olhar de cada um.
Com cortinas que ocultam tanto quanto compõem as cenas, os
cenários criam vários ambientes:
dança dos camponeses; da burguesia; e um elegante baile em São
Petersburgo. As próprias danças
(valsa, mazurca etc.) já dão ritmo
característico às cenas; e os sentimentos paradoxais de Tatiana e
Onegin têm de ser vistos no contexto deste cenário sonoro.
Com Cranko, a linguagem do
balé é sempre pungente. O drama
se expressa nos gestos, mas também na tensão entre os corpos. E
os bailarinos cariocas responderam à altura. Antes da estréia, o
atual diretor do Balé, Richard
Cragun, chegara a pedir demissão. Em cena, a força da dança
prevalece sobre as fragilidades internas da companhia.
Onegin
Onde: Teatro Municipal do Rio (pça.
Floriano, s/nš, tel. 0/xx/21/2262-3935)
Quando: dias 11 e 12/12, às 20h; 13 e
14/12, às 18h
Quanto: de R$ 10 a R$ 30
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