UOL


São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANÇA/CRÍTICA

Em "Onegin", drama emerge no corpo

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Em "Onegin", de John Cranko (1927-73), todo um repertório de imagens visuais desaba sobre nós, com expressividade própria. Remontado pela primeira vez no Brasil, o balé de 1965 alia a linguagem neoclássica a grandes doses de dramaticidade. A montagem do Balé do Teatro Municipal do Rio é o ponto alto de um ano de raras produções, um triunfo técnico e artístico que apaga as turbulências de bastidor.
Baseado no poema de Pushkin (1799-1837), é um balé da clareza, estruturado em temas e repetições. Cranko combina e condensa as ações teatrais, numa coreografia onde cada movimento tem peso próprio; uma dança em espirais, rica de conexões que antecipam ou revelam o caráter do que se vê. A música de Tchaikovski (adaptada por Kurt-Heinz Stolze) foi bem tocada, domingo, pela Orquestra do Municipal, regida por Javier Orbe.
"Onegin" é a história de Tatiana (Ana Botafogo), que vive numa vila russa em 1820 e se apaixona pelo forasteiro Onegin (Marcelo Misalidis). Ele lhe foi apresentado por Lenski (Vitor Luiz), o noivo de sua irmã Olga (Roberta Marques). Honra e amizade surgem de várias perspectivas: não só uma história, mas seus desdobramentos, pelo olhar de cada um.
Com cortinas que ocultam tanto quanto compõem as cenas, os cenários criam vários ambientes: dança dos camponeses; da burguesia; e um elegante baile em São Petersburgo. As próprias danças (valsa, mazurca etc.) já dão ritmo característico às cenas; e os sentimentos paradoxais de Tatiana e Onegin têm de ser vistos no contexto deste cenário sonoro.
Com Cranko, a linguagem do balé é sempre pungente. O drama se expressa nos gestos, mas também na tensão entre os corpos. E os bailarinos cariocas responderam à altura. Antes da estréia, o atual diretor do Balé, Richard Cragun, chegara a pedir demissão. Em cena, a força da dança prevalece sobre as fragilidades internas da companhia.


Onegin
    
Onde: Teatro Municipal do Rio (pça. Floriano, s/nš, tel. 0/xx/21/2262-3935) Quando: dias 11 e 12/12, às 20h; 13 e 14/12, às 18h Quanto: de R$ 10 a R$ 30



Texto Anterior: Comentário: Uma carreira sempre fiel ao ensaio
Próximo Texto: Documentário: "Música Libre" explora os sons do Haiti
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.