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ARTES
Aos 78 anos, paulistana abre "Viagem ao Coração da Matéria", com obras feitas desde 1958, no Instituto Tomie Ohtake
"Olhar" orienta produção de Amélia Toledo
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ao remodelar o espaço em paisagens sensoriais, a artista plástica
Amélia Toledo, 78, dispensa a janela: faz uso da penumbra e de jogos de luzes artificiais que incidem sobre a matéria para explorar cada aspecto orgânico.
"Viagem ao Coração da Matéria", exposição a ser inaugurada
hoje no Instituto Tomie Ohtake,
reúne produções desde 1958. Dessa leitura conjugada, entre matéria e tecnologia industrial, Amélia
Toledo orienta a leitura das obras
a partir do olhar.
"Se você quiser dar uma unidade para o conjunto, encare do
ponto de vista do olhar, que vai
para o teto, para as paredes, para
o chão. Nesse corte dentro do
próprio espaço o olho desvenda o
lugar virtual", diz a artista sobre
as peças que se espelham por todos os lugares.
Imagens disformes de pedras
refletidas em chapas de metal, bolas de plástico transparente com
sabão dentro ou um vídeo com
imagens de pedras, projetado no
chão e no teto, buscam um lirismo sensorial.
Toledo, que chegou a freqüentar no final dos anos 30 o ateliê de
Anita Malfatti e, entre 1943 e 1947,
teve aulas de desenho, pintura e
modelagem com o arquiteto Yoshiya Takaoka, diz que sua postura
diante do "fazer ligado ao corpo,
ao tato e às sensações" é uma herança do arquiteto japonês.
Sua pesquisa artística começou
no final dos anos 50 e, apesar de
ter cruzado diversos movimentos
de arte em mais de meio século de
produção, Toledo afirma que sua
obra se estende em apenas uma linha de pensamento.
"Não trabalho com fases. Desenvolvo séries, durante a vida toda. A gente faz as coisas e depois
encontra os paralelos, mas meu
trabalho é um estímulo meu, interno", observa a artista paulistana, conhecida também pelo seu
diálogo com o urbanismo, por
acabamentos de estações de metrô como a Arcoverde, no Rio
(1996-1998), premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.
Entre as peças expostas, há até
colares de pedras e de prata. "Não
são jóias", diz Toledo sobre o trabalho que desenvolve há 20 anos,
"são esculturas para o corpo".
Com um deles na mão, explica
que a relação de cores do objeto
está diretamente relacionada aos
chacras: "São as cores que vêm do
escuro da terra", diz.
Laboratório vivo
A exposição é parte do segundo
módulo do projeto "Criatividade:
Ação e Pensamento", elaborado
pelo Instituto Tomie Ohtake e patrocinado pela Fundação Carlos
Chagas, que consiste em aulas semanais durante três meses, para
acompanhar o processo criativo
do artista escolhido.
Segundo Agnaldo Farias, 49,
criador do projeto e professor
doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), é
uma tentativa de aproximar o público das escolas de ensino médio
de São Paulo -tanto alunos como professores- da produção
artística contemporânea.
O primeiro projeto, iniciado em
janeiro, teve como fio condutor
Ana Tavares. Para os próximos
módulos, Farias aponta os artistas
Rochelle Costi e Nuno Ramos e
planeja, para cada um, lançar dois
livros: um com o projeto de sua
obra e outro com um relato completo do processo pedagógico. "É
uma contribuição para o ensino
da arte, pensar exposições a partir
da formação intelectual das pessoas", observa Farias.
VIAGEM AO CORAÇÃO DA MATÉRIA.
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria
Lima, 201, entrada pela r. Coropés,
Pinheiros, SP, tel. 0/xx/11/2245-1900).
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a
dom. das 11h às 20h; até 20/2. Quanto:
entrada franca.
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