São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2004

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ARTES

Aos 78 anos, paulistana abre "Viagem ao Coração da Matéria", com obras feitas desde 1958, no Instituto Tomie Ohtake

"Olhar" orienta produção de Amélia Toledo

LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ao remodelar o espaço em paisagens sensoriais, a artista plástica Amélia Toledo, 78, dispensa a janela: faz uso da penumbra e de jogos de luzes artificiais que incidem sobre a matéria para explorar cada aspecto orgânico.
"Viagem ao Coração da Matéria", exposição a ser inaugurada hoje no Instituto Tomie Ohtake, reúne produções desde 1958. Dessa leitura conjugada, entre matéria e tecnologia industrial, Amélia Toledo orienta a leitura das obras a partir do olhar.
"Se você quiser dar uma unidade para o conjunto, encare do ponto de vista do olhar, que vai para o teto, para as paredes, para o chão. Nesse corte dentro do próprio espaço o olho desvenda o lugar virtual", diz a artista sobre as peças que se espelham por todos os lugares.
Imagens disformes de pedras refletidas em chapas de metal, bolas de plástico transparente com sabão dentro ou um vídeo com imagens de pedras, projetado no chão e no teto, buscam um lirismo sensorial.
Toledo, que chegou a freqüentar no final dos anos 30 o ateliê de Anita Malfatti e, entre 1943 e 1947, teve aulas de desenho, pintura e modelagem com o arquiteto Yoshiya Takaoka, diz que sua postura diante do "fazer ligado ao corpo, ao tato e às sensações" é uma herança do arquiteto japonês.
Sua pesquisa artística começou no final dos anos 50 e, apesar de ter cruzado diversos movimentos de arte em mais de meio século de produção, Toledo afirma que sua obra se estende em apenas uma linha de pensamento.
"Não trabalho com fases. Desenvolvo séries, durante a vida toda. A gente faz as coisas e depois encontra os paralelos, mas meu trabalho é um estímulo meu, interno", observa a artista paulistana, conhecida também pelo seu diálogo com o urbanismo, por acabamentos de estações de metrô como a Arcoverde, no Rio (1996-1998), premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.
Entre as peças expostas, há até colares de pedras e de prata. "Não são jóias", diz Toledo sobre o trabalho que desenvolve há 20 anos, "são esculturas para o corpo". Com um deles na mão, explica que a relação de cores do objeto está diretamente relacionada aos chacras: "São as cores que vêm do escuro da terra", diz.

Laboratório vivo
A exposição é parte do segundo módulo do projeto "Criatividade: Ação e Pensamento", elaborado pelo Instituto Tomie Ohtake e patrocinado pela Fundação Carlos Chagas, que consiste em aulas semanais durante três meses, para acompanhar o processo criativo do artista escolhido.
Segundo Agnaldo Farias, 49, criador do projeto e professor doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), é uma tentativa de aproximar o público das escolas de ensino médio de São Paulo -tanto alunos como professores- da produção artística contemporânea.
O primeiro projeto, iniciado em janeiro, teve como fio condutor Ana Tavares. Para os próximos módulos, Farias aponta os artistas Rochelle Costi e Nuno Ramos e planeja, para cada um, lançar dois livros: um com o projeto de sua obra e outro com um relato completo do processo pedagógico. "É uma contribuição para o ensino da arte, pensar exposições a partir da formação intelectual das pessoas", observa Farias.


VIAGEM AO CORAÇÃO DA MATÉRIA. Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, entrada pela r. Coropés, Pinheiros, SP, tel. 0/xx/11/2245-1900). Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a dom. das 11h às 20h; até 20/2. Quanto: entrada franca.


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