São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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CINEMA

Os diretores Eduardo Escorel e José Joffily acompanham a trajetória de seis candidatos a vereador no Rio de Janeiro

Documentário aborda o fascínio pela política

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"Vocação do Poder" desafia as probabilidades mais negativas. O que esperar de um documentário sobre política em tempos de tão absoluto descrédito, e que ainda por cima se detém em sua ponta considerada menos "nobre" (as campanhas eleitorais para a Câmara de Vereadores)? Os mais céticos decretariam logo: nada. Mas "Vocação do Poder" oferece uma grata surpresa. Não se trata apenas de um documento sobre o dia-a-dia de uma campanha eleitoral -o filme é uma obra envolvente, capaz de seduzir o espectador sem forçar a barra e, assim, gerar interesse genuíno pelos seis personagens que a câmera segue em sua luta por votos.
O lançamento de "Vocação do Poder" no meio do turbilhão dos escândalos políticos pode gerar expectativas falsas. O documentário não é nem pretende ser uma reportagem investigativa em torno das origens do dinheiro das campanhas. O interesse de Eduardo Escorel e José Joffily, que assinam juntos a direção, é outro.
Do lado de Escorel, "Vocação do Poder" mantém forte coerência com toda sua trajetória de documentarista, que sempre teve a política como centro. Para Joffily, o filme representa a continuidade da linha iniciada em "O Chamado de Deus" (2000), sobre a descoberta da vocação religiosa entre jovens brasileiros.
"Vocação" reúne, portanto, dois pontos de vista complementares: às abordagens de questões políticas tradicionais somou-se o interesse pelo desejo que leva as pessoas a investir em uma carreira não-convencional. Os seis personagens são marinheiros de primeira viagem, a maior parte deles jovens entre 20 e 30 anos -com exceção da pastora evangélica Márcia Teixeira, 45-, todos empreendendo pela primeira vez a maratona de uma campanha, com níveis variados de envolvimento, garra e expectativa.
A primeira idéia interessante, portanto, é a de mostrar que há jovens interessados em política, exceções que desafiam o senso comum, contra o clichê da juventude despolitizada. Isso permite que o estranhamento inicial dê lugar a uma identificação e ao envolvimento gradual do espectador no processo da campanha eleitoral. Não há como segurar a curiosidade para saber quais dos personagens do filme serão eleitos.
O segundo ponto interessante está na própria escolha dos candidatos, que representam partidos políticos e regiões diferentes do Rio, mas nem por isso perdem sua singularidade para se tornarem meros símbolos representativos. Esse aspecto se deve ao olhar lançado pelos documentaristas, que evita julgamentos e, ao mesmo tempo, não busca o inalcançável "olhar isento". Há um ponto de vista, mas também há uma abertura aos caminhos que cada campanha tomará -e é esse aspecto que guia o documentário, até a apuração dos votos.


Vocação do Poder
   
Direção: Eduardo Escorel e José Joffily
Produção: Brasil, 2005
Quando: em cartaz a partir de hoje no Espaço Unibanco 2


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