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Livros - Crítica/novela policial
Garcia-Roza investiga elite carioca
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
O hoje já prolífero escritor carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza torna a
exercitar os músculos literários
em sua especialidade, o thriller
psicológico ou psicanalítico,
desta vez na companhia de seu
detetive favorito, o delegado
Espinosa, da 12ª DP em Copacabana.
Espinosa é um policial atípico. Fã de Coetzee e de Faulkner, gosta de vasculhar livrarias
antes de entrevistar os suspeitos. Neste romance, está às voltas com o assassinato de um
sem-teto perneta conhecido
pelo codinome de Magro. Seria
um crime de somenos se não
envolvesse uns figurões da burguesia carioca e não apresentasse traços intrigantes.
Para começar, ninguém conhece o sujeito. Além disso,
ninguém ouviu o único tiro,
certeiro, disparado no coração
do indigente. Intriga Espinosa
a desproporção entre "a vítima,
desprezível, e o crime, cometido com eficiência".
O homicídio ocorre numa
madrugada chuvosa, na ladeira
que sai da rua Tonelero. A vizinhança é abastada. Numa casa
próxima, o proprietário dá um
jantar para celebrar a reforma
recém-concluída. É justamente
o arquiteto encarregado das
obras quem primeiro chega ao
local do crime. Duas semanas
depois, a mulher dele, uma psicanalista, aparece morta, nua,
no divã de seu consultório.
Nos romances de Garcia-Roza, o espaço é elemento essencial, não só por desvendar ao
leitor o cenário da zona sul carioca, mas principalmente porque esse ambiente fornece pistas sobre o comportamento dos
personagens e a estrutura do
romance.
Em "Berenice Procura", seu
livro anterior, a trama inclui
um túnel localizado no interior
de um dos morros de Copa.
Agora temos essa íngreme ladeira, que termina num beco
sem saída em cujo trecho para
retorno de veículos é encontrado o corpo do sem-teto.
É nessa ladeira que, aos 13
anos, Espinosa passeava de bicicleta com os amigos. Na época, o alto do morro, de onde se
avistava a cidade, representava
o ápice da "aventura" para os
garotos, "o máximo de ousadia
na descoberta de novas terras".
Paralelamente, o enredo encerra um conflito de infância entre
o assassino (cidadão de Copacabana, como Espinosa) e o suposto assassinado.
O auge da aventura equivale
igualmente a um ponto impossível de ser ultrapassado, a partir do qual só resta retroceder.
Não apenas o sem-teto e seu assassino se acham num beco
sem saída mas também Espinosa. O fato de o impasse
abranger uma diferença de
classes e uma fusão entre sexo e
morte constitui um prato cheio
para psicanalistas e sociólogos.
E para críticos literários. Espinosa compara o enigma que o
aflige ao tormento causado por
um bando de formigas em seu
apartamento. Em "Um Copo de
Cólera", de Raduan Nassar, as
formigas comem a cerca viva da
propriedade do protagonista,
deflagrando o conflito. Os padrões narrativos, como os becos, podem seguir por meandros misteriosos.
ESPINOSA SEM SAÍDA
Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 34 (216 págs.)
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