São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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BIA ABRAMO

"Ugly Betty" é exemplo da eficiência americana


Série é caricata, previsível, piegas... e viciante; qualidade mínima faz o espectador voltar e voltar

POR QUE funcionam tão bem os seriados americanos? A cada nova leva que estréia por aqui na TV por assinatura, a eficiência das séries impressiona. Não que sejam todos "bons" -na verdade, essa leva é toda mais ou menos mediana; não há entre eles nenhum "House", por exemplo-, mas a maioria deles é bastante competente.
"Ugly Betty", que estreou há coisa de pouco mais de um mês no canal por assinatura Sony, é um desses casos clássicos de eficiência. Baseada numa telenovela colombiana de enorme sucesso, "Betty, a Feia", a série foi um enorme sucesso na TV americana. Ganhou o público, prêmios importantes da TV (Globo de Ouro de melhor série cômica da TV, um Globo de Ouro e um Emmy para a protagonista, America Ferrera) e virou referência na cultura pop.
A série não tem nada de mais nem de menos, a não ser o acerto de atender à enorme comunidade hispânica dos EUA.
A personagem principal, Betty, é "feia", mas doce, inteligente e bacana. Torna-se assistente de Daniel Meade, o diretor de redação playboy e mulherengo da revista de moda mais prestigiosa de Nova York. Em Manhattan, na revista, todos são lindos, magros e ruins, e não engolem a ingênua Betty. Em Queens, onde mora Betty com o pai, a irmã e um sobrinho, reinam a solidariedade, a simplicidade, mas todos são inapelavelmente cafonas.
Betty, essa heroína às avessas, vai abrir caminho à base de sinceridade e, é claro, simpatia -e, além disso, combater o mal, personificado pela editora elegante, temperamental e autoritária, no estilo "O Diabo Veste Prada".
É caricato, é previsível, é piegas, é edificante... e, ao mesmo tempo, viciante. Essa capacidade de viciar está diretamente ligada a essa eficiência -há uma qualidade mínima, uma competência de produção que faz o espectador voltar e voltar, mesmo que não ache especialmente interessante aquilo que está vendo.
Além disso, mesmo de forma caricata, há algo que se pode chamar de sensibilidade cultural -pensando aqui a cultura no sentido mais amplo possível- que torna, digamos, a representação muito verossímil.
Em "Ugly Betty", por exemplo, essa sensibilidade se expressa na exploração sádica dos contrastes entre o mundo da beleza -e da riqueza, é claro, porque está associado ao alto consumo de moda, cosméticos e da medicina- e da pobreza à americana -onde se consome também, e muito, mas aquilo que engorda, enfeia e transforma os pobres em "perdedores".

biabramo.tv@uol.com.br


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