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BIA ABRAMO
"Ugly Betty" é exemplo da eficiência americana
Série é caricata, previsível, piegas... e viciante; qualidade mínima faz o espectador voltar e voltar
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POR QUE funcionam tão bem os
seriados americanos? A cada
nova leva que estréia por aqui
na TV por assinatura, a eficiência
das séries impressiona. Não que sejam todos "bons" -na verdade, essa
leva é toda mais ou menos mediana;
não há entre eles nenhum "House",
por exemplo-, mas a maioria deles é
bastante competente.
"Ugly Betty", que estreou há coisa
de pouco mais de um mês no canal
por assinatura Sony, é um desses casos clássicos de eficiência. Baseada
numa telenovela colombiana de
enorme sucesso, "Betty, a Feia", a série foi um enorme sucesso na TV
americana. Ganhou o público, prêmios importantes da TV (Globo de
Ouro de melhor série cômica da TV,
um Globo de Ouro e um Emmy para
a protagonista, America Ferrera) e
virou referência na cultura pop.
A série não tem nada de mais nem
de menos, a não ser o acerto de atender à enorme comunidade hispânica
dos EUA.
A personagem principal, Betty, é
"feia", mas doce, inteligente e bacana. Torna-se assistente de Daniel
Meade, o diretor de redação playboy
e mulherengo da revista de moda
mais prestigiosa de Nova York. Em
Manhattan, na revista, todos são lindos, magros e ruins, e não engolem a
ingênua Betty. Em Queens, onde
mora Betty com o pai, a irmã e um
sobrinho, reinam a solidariedade, a
simplicidade, mas todos são inapelavelmente cafonas.
Betty, essa heroína às avessas,
vai abrir caminho à base de sinceridade e, é claro, simpatia -e, além
disso, combater o mal, personificado
pela editora elegante, temperamental e autoritária, no estilo "O Diabo
Veste Prada".
É caricato, é previsível, é piegas, é
edificante... e, ao mesmo tempo, viciante. Essa capacidade de viciar está diretamente ligada a essa eficiência -há uma qualidade mínima,
uma competência de produção que
faz o espectador voltar e voltar, mesmo que não ache especialmente interessante aquilo que está vendo.
Além disso, mesmo de forma caricata, há algo que se pode chamar de
sensibilidade cultural -pensando
aqui a cultura no sentido mais amplo
possível- que torna, digamos, a representação muito verossímil.
Em "Ugly Betty", por exemplo, essa sensibilidade se expressa na exploração sádica dos contrastes entre
o mundo da beleza -e da riqueza, é
claro, porque está associado ao alto
consumo de moda, cosméticos e da
medicina- e da pobreza à americana -onde se consome também, e
muito, mas aquilo que engorda,
enfeia e transforma os pobres
em "perdedores".
biabramo.tv@uol.com.br
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