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MULTIMÍDIA
Sociólogo abre projeto de entrevistas com pensadores e cientistas
Ciberespaço de Pierre Lévy toma forma na televisão
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Uma nova tentativa de colocar
pensamento na televisão está em
curso. O sociólogo francês Pierre
Lévy, considerado um dos mais
otimistas teóricos da ciberespaço,
inaugura "As Formas do Saber",
projeto que pretende transformar
depoimentos de pensadores e
cientistas, simultaneamente, em
programa de TV, livro e CD-ROM.
Professor do Departamento de
Hipermídia da Universidade Paris-8, autor de livros como "As
Tecnologias da Inteligência" (Editora 34) e "O Que É Virtual", Lévy
falou para as câmeras da produtora Franmi, que banca o projeto,
por 12 horas, durante quatro dias.
Como cenário, tinha os galpões
de uma fábrica de armas brancas
desativada, construída no século
19 na fazenda Ipanema -área de
preservação ambiental-, em Sorocaba (87 km a oeste de SP).
O local foi escolhido justamente
por evocar uma forma anacrônica
de tecnologia, afirma o antropólogo e videoartista Kiko Goifman,
que assina a direção de arte junto
com Jurandir Muller.
Sempre de terno, apesar do calor
acima dos 30, Lévy enfrentou a
bateria de perguntas preparadas
por Max Alvim, diretor-geral do
programa, Rogério Costa, professor em pós-graduação na PUC-SP
e consultor de conteúdo, Nelma
Salomão, diretora de jornalismo
da Franmi, e Florestan Fernandes
Jr., jornalista e apresentador de
"As Formas do Saber".
Quatro grandes temas nortearam a conversa, que será transformada em quatro programas de televisão de uma hora cada.
No primeiro deles, Lévy fala sobre a "entidade" tecnologia. Depois, discute mudanças no sistema
educacional com o advento da rede de computadores. Partindo dessa concepção sobre a educação, o
sociólogo analisa as relações de
trabalho. Por fim, arte e sentimentos humanos fecham o círculo.
Durante a entrevista, era visível a
preocupação da equipe de "As Formas do Saber - Encontro com Pierre Lévy" com o esclarecimento de
conceitos importantes na obra do
autor, como inteligência coletiva, e
com a aproximação das idéias discutidas à realidade de um país do
Terceiro Mundo, caso do Brasil.
Apesar de não terem sido vendidos a nenhuma emissora, os programas já estão entrando em processo de edição. Segundo Max Alvim, a Franmi investiu cerca de R$
300 mil na realização, com patrocínio via incentivo fiscal. "É mais fácil vender o produto já pronto. Estamos negociando com emissoras
a cabo e abertas. É possível colocar
os programas no ar já em março."
Num esforço de dar um tom de
referência ao trabalho, a Franmi
pretende manter registros da íntegra dessas sessões -que só poderão ir ao ar de forma resumida.
Isso será feito de duas maneiras.
A primeira, mais tradicional, é
uma versão em livro da entrevista,
ilustrada com fotos de Gal Oppido
(que a Ilustrada publica hoje).
A segunda é a realização de um
CD-ROM produzido por Goifman
e Muller, que ganharam o primeiro
lugar no Prix Mobius, na França,
por seu trabalho anterior "Valetes
em Slow Motion". Tanto livro
quanto CD-ROM devem ser lançados até o mês de maio.
"Queremos um CD-ROM que
navegue não-linearmente pela
obra de Lévy, com uma saída para
um site em que há um fórum constante de debate", afirmou Alvim.
Há, segundo os realizadores, a
intenção de continuar o projeto de
"As Formas do Saber". Seria, assim, uma série de programas com
vários nomes contemporâneos. De
acordo com Alvim, a idéia é abranger das ciências humanas às tecnologias, com depoimentos de brasileiros e estrangeiros.
Para começar, no entanto, eles
decidiram tocar na polêmica
quanto às novas tecnologias de informação, que divide intelectuais
entre otimistas e catastrofistas (como são chamados os críticos como
Jean Baudrillard e Paul Virilio).
"Por que escolhemos um otimista? Porque pensamos a questão
construtivamente. A crítica vem
das preposições que surgem. Ela
não pode ser, em si, o objeto de um
início", afirmou Alvim.
Agora, ele diz já estar preparando o segundo encontro da série.
"Convidamos um importante antropólogo brasileiro", disse.
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