São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Longa distrai, mas falta originalidade

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Até que Bin Laden e George W. Bush tentaram dar uma força: relançaram a Guerra Fria, instituíram o "eixo do mal", revitalizaram a aliança EUA/Império Britânico, tudo isso que por anos alimentou a saga do agente 007, mais ou menos explicitamente.
Os responsáveis pela série parecem não ter entendido a deixa, ou preferiram servir-se dela do modo mais superficial: instalaram o vilão do filme, logo no início, na Coréia do Norte. Graças a um transplante de DNA (seja isso o que for) feito em Cuba, no entanto, ele se transforma em Gustav Graves, milionário disposto a dominar o mundo, como mais ou menos todos os vilões da série.
O velho James Bond deve enfrentá-lo. O faz com a fleuma habitual. Vence no final. Ponto. Acabou. Não haveria muito mais a dizer. Bond é uma relíquia do século passado tentando sobreviver. Na falta da terapia de DNA que, segundo o filme, rejuvenesce líderes cubanos, ganhou a companhia de Halle Berry, agente americana.
Teoricamente é o que de melhor poderia acontecer a Bond: uma estrela nova em folha, não só belíssima como boa atriz. Os roteiristas devem ter compreendido a importância: Halle entra no filme saindo do mar, como Ursula Andress em "O Satânico Dr. No", de 1962, o filme inaugural da série.
O diretor Lee Tamahori, porém, parece discordar deles: fez da entrada de Halle uma das coisas mais sem sal da história do cinema. Aliás, todo o seu personagem destoa das melhores "bond girls", garotas ambíguas por excelência: aqui, em nenhum momento duvidamos de suas boas intenções.
Halle é o signo mais evidente do desânimo que atravessa o filme inteiro e do qual Tamahori se mostra um entusiástico intérprete. Até os "gadgets", que eram dotados de imaginação -e manifestavam o desejo de progresso de um mundo que acreditava na redenção industrial-, parecem expressão de um tempo passado.
Exemplo mais evidente: desta vez Bond ganha um carro que, entre outras virtudes, pode ficar invisível. Admitamos, nos anos 20 coisa mais original já passava pela cabeça do dr. Mabuse.
Se falta originalidade ao todo, se o combate entre Bond e o vilão implica pouquíssimo raciocínio, a monotonia é quebrada pela chuva de acontecimentos. Eles são a garantia -junto com alguns diálogos cortantes e bem-humorados- de que, ao menos para os espectadores que chegaram mais recentemente à série, a distração é garantida. Nada mais do que isso.


007 - Um Novo Dia para Morrer
007 - Die Another Day

  
Direção: Lee Tamahori
Produção: Inglaterra/EUA, 2002
Com: Pierce Brosnan, Halle Berry, Toby Stephens
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Pátio Higienópolis, SP Market, Villa-Lobos e circuito



Texto Anterior: Cinema/Estréias - "007 - Um novo dia para morrer": Novo James Bond gela na Islândia e ferve em Cuba
Próximo Texto: "Planeta do Tesouro": Aventura encanta pela beleza
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.