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CRÍTICA
Longa distrai, mas falta originalidade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Até que Bin Laden e George
W. Bush tentaram dar uma
força: relançaram a Guerra Fria,
instituíram o "eixo do mal", revitalizaram a aliança EUA/Império
Britânico, tudo isso que por anos
alimentou a saga do agente 007,
mais ou menos explicitamente.
Os responsáveis pela série parecem não ter entendido a deixa, ou
preferiram servir-se dela do modo mais superficial: instalaram o
vilão do filme, logo no início, na
Coréia do Norte. Graças a um
transplante de DNA (seja isso o
que for) feito em Cuba, no entanto, ele se transforma em Gustav
Graves, milionário disposto a dominar o mundo, como mais ou
menos todos os vilões da série.
O velho James Bond deve enfrentá-lo. O faz com a fleuma habitual. Vence no final. Ponto. Acabou. Não haveria muito mais a dizer. Bond é uma relíquia do século
passado tentando sobreviver. Na
falta da terapia de DNA que, segundo o filme, rejuvenesce líderes
cubanos, ganhou a companhia de
Halle Berry, agente americana.
Teoricamente é o que de melhor
poderia acontecer a Bond: uma
estrela nova em folha, não só belíssima como boa atriz. Os roteiristas devem ter compreendido a
importância: Halle entra no filme
saindo do mar, como Ursula Andress em "O Satânico Dr. No", de
1962, o filme inaugural da série.
O diretor Lee Tamahori, porém,
parece discordar deles: fez da entrada de Halle uma das coisas
mais sem sal da história do cinema. Aliás, todo o seu personagem
destoa das melhores "bond girls",
garotas ambíguas por excelência:
aqui, em nenhum momento duvidamos de suas boas intenções.
Halle é o signo mais evidente do
desânimo que atravessa o filme
inteiro e do qual Tamahori se
mostra um entusiástico intérprete. Até os "gadgets", que eram dotados de imaginação -e manifestavam o desejo de progresso de
um mundo que acreditava na redenção industrial-, parecem expressão de um tempo passado.
Exemplo mais evidente: desta
vez Bond ganha um carro que, entre outras virtudes, pode ficar invisível. Admitamos, nos anos 20
coisa mais original já passava pela
cabeça do dr. Mabuse.
Se falta originalidade ao todo, se
o combate entre Bond e o vilão
implica pouquíssimo raciocínio, a
monotonia é quebrada pela chuva
de acontecimentos. Eles são a garantia -junto com alguns diálogos cortantes e bem-humorados- de que, ao menos para os
espectadores que chegaram mais
recentemente à série, a distração é
garantida. Nada mais do que isso.
007 - Um Novo Dia para Morrer
007 - Die Another Day
Direção: Lee Tamahori
Produção: Inglaterra/EUA, 2002
Com: Pierce Brosnan, Halle Berry, Toby
Stephens
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Pátio Higienópolis, SP
Market, Villa-Lobos e circuito
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