São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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A roupa nova do Conde

Clássico do francês Alexandre Dumas, "O Conde de Monte Cristo" volta em nova tradução na íntegra; também sai no Brasil o inédito "O Cavaleiro de Sainte-Hermine", último romance do autor de "Os Três Mosqueteiros"

Fotos Reprodução
Retrato do escritor francês Alexandre Dumas (1802-1870), autor de "Os Três Mosqueteiros", entre outros clássicos

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois lançamentos recentes permitem uma nova apreciação da obra do escritor francês Alexandre Dumas (1802-1870), autor do clássico "Os Três Mosqueteiros". Um deles é outro de seus clássicos, "O Conde de Monte Cristo", romance histórico que já ganhou várias adaptações para o cinema e volta em nova tradução na íntegra. O outro, a última grande obra de Dumas, "O Cavaleiro de Sainte-Hermine", romance inacabado, descoberto no fim dos anos 80 pelo pesquisador Claude Schopp, que concluiu a trama.
A nova edição de "O Conde de Monte Cristo" espelha, de certo modo, o espírito de trabalho colaborativo que caracterizou a produção de Dumas. Para erguer uma obra com mais de 600 títulos (identificados pelo biógrafo Daniel Zimmermann), o escritor contava com uma equipe de assistentes. Esta nova tradução na íntegra -a anterior é assinada por Nélia Silka, para a editora Juruá, de Curitiba- foi feita a quatro mãos por Rodrigo Lacerda e André Telles, fãs de longa data de Dumas, que tiveram a iniciativa acolhida pela Jorge Zahar. "Se tivéssemos dividido o material para a tradução, a chance de não ter um resultado homogêneo seria muito maior.
Então, o André Telles "tirou do chão", literalmente, a partir da edição em seis volumes da Calmann-Lévy. E eu ia fazendo um cotejo com outras edições francesas [Pléiade, Folio e Bouquins], com total liberdade", afirma Lacerda.

Notas e pesquisa histórica
Telles ressalta que "O Conde de Monte Cristo" tem muitos diálogos, o que impõe ao trabalho da tradução uma atenção redobrada para que as falas não soem falsas ou datadas. Por conta disso, os tradutores suprimiram soluções de tradução obsoletas, de edições anteriores, a exemplo de interjeições como "cáspite" e "homessa".
Outro importante trabalho da nova edição fica por conta das notas, 90% das quais Telles reputa a Lacerda. A filosofia geral, diz Lacerda, era ter rodapés somente quando essencialmente necessários à compreensão da obra, e "não meramente para enriquecer a cultura geral do leitor". Ele cita o exemplo das "savatas", chinelos usados na Turquia, com que prisioneiros ameaçam dar uma surra em um dos personagens. Dentro desta filosofia geral, as notas também tiveram de refletir a pesquisa histórica dos tradutores. Segundo Lacerda, as edições francesas partem do princípio de que alguns episódios da história do país são conhecidos da maioria dos leitores. Caso das chamadas Guerras Carlistas, que aconteceram na Espanha no século 19, e que são mencionadas na obra.
"As edições francesas tinham notas com referências lacunares. Davam de barato que o leitor entenderia, então precisamos acrescentar informações para não deixar o leitor brasileiro boiando", afirma Lacerda. Telles conta ainda que lançou mão da voz do próprio Dumas para dar "tempero" à tradução. Por exemplo: na passagem em que o escritor francês cita um molho denominado "Robert", ele usou um verbete de "Grande Dicionário de Culinária", "para não ficar maçante". Lacerda e Telles agora pensam em fazer uma nova tradução de "Os Três Mosqueteiros".

Dumas "vintage"
A outra novidade fica por conta de "O Cavaleiro de Sainte-Hermine", romance que Dumas escreveu entre 1869 e 1870, ano da sua morte, e que tem as batalhas de Napoleão no pano de fundo. Publicado originalmente em série num jornal, como "O Conde de Monte Cristo", o livro era dado como perdido, até ser encontrado no fim da década de 80, na Biblioteca Nacional da França, por Claude Schopp, pesquisador da vida e obra de Dumas. Schopp manteve a descoberta em segredo até 2005, quando o livro foi lançado na França, com um longo prefácio, notas e um desfecho assinados por ele. Sobre o romance, Schopp disse: "É um Dumas "vintage", do mesmo veio do herói vingativo de "O Conde de Monte Cristo'".


O CONDE DE MONTE CRISTO
Autor: Alexandre Dumas
Tradução: André Telles e Rodrigo Lacerda
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 129 (caixa com 2 volumes, 1.376 págs.)

O CAVALEIRO DE SAINTE- HERMINE
Autor: Alexandre Dumas
Prefácio e notas: Claude Schopp
Tradução: Dorothée de Bruchard
Editora: Martins
Quanto: R$ 98 (1.048 págs.)

Leia trecho de "O Cavaleiro de Sainte-Hermine"
www.folha.com.br/090091




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