São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000 |
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Assassinatos em série
CASSIANO ELEK MACHADO da Reportagem Local No início, foram os pecados capitais. Agora tudo deve acabar em morte. Pode parecer uma descrição breve e confusa do apocalipse. Mas é apenas mais um capítulo do mercado editorial brasileiro. Em 1998, a editora Objetiva lançou o primeiro título da coleção "Plenos Pecados". Em cada livro, um escritor consagrado fazia ficção em torno de um dos sete vícios capitais. Os leitores responderam sem avareza e já compraram 300 mil exemplares de livros da série, que será completada em breve com um romance sobre a soberba. O final do ciclo dos pecados deve coincidir com o começo dos assassinatos em série, ou melhor, com uma série repleta de assassinatos. Em março, a editora Companhia das Letras lança a coleção "Literatura ou Morte", que também se serve da idéia de reunir autores tarimbados para romancearem um tema em comum. Desta vez, o eixo em torno do qual giram os livros da coleção é menos delimitado. "A filosofia da série é de que os livros envolvam um escritor importante e algum mistério", explica Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras. A gênese do projeto, segundo ele, não tem uma ligação "pelo menos não de modo consciente" com os "pecados" da editora Objetiva. Tudo começou quando ele recebeu os originais de "A Morte de Rimbaud", que o professor de filosofia da PUC-RJ Leandro Konder escreveu seguindo a seta de um antigo desejo. "Desde os tempos de faculdade, eu sou leitor de romances policiais e sempre tive vontade de escrever um. Mas não encontrava uma idéia adequada. De repente, ela surgiu", disse Konder à Folha. Outro estranho no ramo dos livros de suspense encontrou sua idéia com muito mais rapidez: José Saramago. "Ele não demorou nem um minuto para aceitar e definir o seu personagem, Alexandre Dumas", diz Schwarcz. Envolvido com a escritura de outro livro, "A Caverna", seu primeiro romance desde 1997, o Nobel de Literatura não quis adiantar os contornos do "Projeto Dumas". Revela apenas que nele haverá muitas mortes violentas, mas sem uma gota de sangue derramada, e que considera que já leu o melhor dos romances policiais: os livros de Dostoiévski (!). Ainda sem data para ser lançado, o livro do escritor português será precedido por, pelo menos, seis outros títulos. Os primeiros a serem lançados serão o inaugural "A Morte de Rimbaud", de Konder, e "O Doente Molière", mais uma incursão no gênero do mestre do policial Rubem Fonseca. Em seguida, devem vir "Stevenson sob as Palmeiras", de Alberto Manguel, e "Ratinho e os Leopardos de Kafka", de Moacyr Scliar. As dobradinhas Bernardo Carvalho/Sade e Ricardo Piglia/Tolstói fecham o primeiro semestre. Essa primeira fornada de "Literatura ou Morte" pode demorar mais de uma década para ser concluída. É a previsão do amazonense Milton Hatoum, que escreveu o elogiado "Relato de um Certo Oriente" em 1989 e demorou 11 anos para fazer "Dois Irmãos", seu segundo romance. "Combinei com a editora entregar meu livro sobre Euclides nos próximos 10 anos", brinca o escritor. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: "Morte" encomendada agrada a escritores Índice |
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