São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ASSASSINATOS EM SÉRIE
"Morte" encomendada agrada a escritores

da Reportagem Local

Como diz uma brincadeira popular, Luis Fernando Verissimo está com um olho no gato e o outro na frigideira.
É que, por enquanto, Verissimo é o único autor confirmado nas duas grandes séries de literatura temática. A frigideira, no caso, já está mais do que sob controle. "Gula - O Clube dos Anjos" já se consolidou como o campeão de vendas da coleção "Plenos Pecados", da Objetiva, com cerca de 80 mil exemplares vendidos.
O gato ainda está distante. Verissimo ainda não sabe direito como será o livro que fará para a série "Literatura ou Morte".
"Imaginei uma convenção de especialistas em Edgar Allan Poe, reunidos em Buenos Aires. No meio desse evento, acontece um crime. Borges acaba sendo envolvido", disse à Folha o escritor.
O romance policial sobre Borges será a terceira narrativa longa do escritor e jornalista gaúcho. E, pela terceira vez, trata-se de uma encomenda.
"Uma encomenda adequada funciona como uma moldura muito útil dentro da qual corre com fluência a imaginação", diz Alberto Manguel, outro autor da série "Literatura ou Morte".
O escritor argentino-canadense demonstra com convicção que não tem nenhum preconceito em fazer a criatividade atender pedidos. "Até o fim do Renascimento, os pintores trabalhavam quase que exclusivamente com encomendas", diz, de sua casa, em Calgary (Canadá), o autor de "Stevenson sob as Palmeiras", sobre os últimos dias do autor de "O Médico e o Monstro".
Moacyr Scliar vai adiante. É justamente de um monstro que ele se vale para tal. "Mary Shelley escreveu "Frankenstein" em um desafio como esse", brinca o autor de "Ratinho e os Leopardos de Kafka". A trama "frankensteiniana" do escritor gaúcho costura o líder russo Trótski, Kafka e cenários como Porto Alegre em 1965 e Praga em 1916.
Antes de decidir por escrever sobre o autor de "A Metamorfose", Scliar trabalhou com a idéia de criar um suspense envolvendo Lewis Caroll.
"Caroll tem um mistério em sua vida relativa ao desaparecimento de uma página de seu diário, na época em que ele era acusado de pedofilia. O mistério seria o que ele escreveu na página. Deixo essa idéia de presente para quem quiser desenvolvê-la", diz Scliar.
Antes mesmo que ele fizesse a oferta, a idéia de abordar o autor de "Alice no País das Maravilhas" já visitava Bernardo Carvalho.
"Pensei em Caroll e em Sade. A editora preferiu o segundo", conta o escritor, para quem "Sade é, de todos os escritores, o mais incompreensível para mim. Isso me facilita fazer com que o livro não tenha relação com uma pesquisa histórica, mas que tenha mais a ver com meu próprio trabalho, com minhas fantasias".
É o oposto do que devem fazer autores como Milton Hatoum e Ruy Castro. O primeiro pretende centrar seu livro nas idéias de Euclides da Cunha, tema de seu doutorado na USP. Olavo Bilac, nas teclas de Castro, deve aparecer como um personagem que participou de situações pitorescas, como ser o motorista de um dos primeiros acidentes de carros do Brasil. (CASSIANO ELEK MACHADO)


Texto Anterior: Assassinatos em série
Próximo Texto: Próximas séries enfocam cidades
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.