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ASSASSINATOS EM SÉRIE
"Morte" encomendada agrada a escritores
da Reportagem Local
Como diz uma brincadeira popular, Luis Fernando Verissimo
está com um olho no gato e o outro na frigideira.
É que, por enquanto, Verissimo
é o único autor confirmado nas
duas grandes séries de literatura
temática. A frigideira, no caso, já
está mais do que sob controle.
"Gula - O Clube dos Anjos" já se
consolidou como o campeão de
vendas da coleção "Plenos Pecados", da Objetiva, com cerca de 80
mil exemplares vendidos.
O gato ainda está distante. Verissimo ainda não sabe direito como será o livro que fará para a série "Literatura ou Morte".
"Imaginei uma convenção de
especialistas em Edgar Allan Poe,
reunidos em Buenos Aires. No
meio desse evento, acontece um
crime. Borges acaba sendo envolvido", disse à Folha o escritor.
O romance policial sobre Borges será a terceira narrativa longa
do escritor e jornalista gaúcho. E,
pela terceira vez, trata-se de uma
encomenda.
"Uma encomenda adequada
funciona como uma moldura
muito útil dentro da qual corre
com fluência a imaginação", diz
Alberto Manguel, outro autor da
série "Literatura ou Morte".
O escritor argentino-canadense
demonstra com convicção que
não tem nenhum preconceito em
fazer a criatividade atender pedidos. "Até o fim do Renascimento,
os pintores trabalhavam quase
que exclusivamente com encomendas", diz, de sua casa, em Calgary (Canadá), o autor de "Stevenson sob as Palmeiras", sobre
os últimos dias do autor de "O
Médico e o Monstro".
Moacyr Scliar vai adiante. É justamente de um monstro que ele se
vale para tal. "Mary Shelley escreveu "Frankenstein" em um desafio
como esse", brinca o autor de
"Ratinho e os Leopardos de Kafka". A trama "frankensteiniana"
do escritor gaúcho costura o líder
russo Trótski, Kafka e cenários
como Porto Alegre em 1965 e Praga em 1916.
Antes de decidir por escrever
sobre o autor de "A Metamorfose", Scliar trabalhou com a idéia
de criar um suspense envolvendo
Lewis Caroll.
"Caroll tem um mistério em sua
vida relativa ao desaparecimento
de uma página de seu diário, na
época em que ele era acusado de
pedofilia. O mistério seria o que
ele escreveu na página. Deixo essa
idéia de presente para quem quiser desenvolvê-la", diz Scliar.
Antes mesmo que ele fizesse a
oferta, a idéia de abordar o autor
de "Alice no País das Maravilhas"
já visitava Bernardo Carvalho.
"Pensei em Caroll e em Sade. A
editora preferiu o segundo", conta o escritor, para quem "Sade é,
de todos os escritores, o mais incompreensível para mim. Isso me
facilita fazer com que o livro não
tenha relação com uma pesquisa
histórica, mas que tenha mais a
ver com meu próprio trabalho,
com minhas fantasias".
É o oposto do que devem fazer
autores como Milton Hatoum e
Ruy Castro. O primeiro pretende
centrar seu livro nas idéias de Euclides da Cunha, tema de seu doutorado na USP. Olavo Bilac, nas
teclas de Castro, deve aparecer como um personagem que participou de situações pitorescas, como
ser o motorista de um dos primeiros acidentes de carros do Brasil.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
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