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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

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AUDIOVISUAL

Em "Nósenãonós3Telas", Sérgio Bernardes enfoca questões urbanas e do campo, com trilha de Guilherme Vaz

Cineasta faz reflexão sobre o país em vídeo

DA REPORTAGEM LOCAL

Em três telas suspensas por cabos de aço, o cineasta Sérgio Bernardes imaginou projetar as reflexões de "um brasileiro que conhece o Brasil", na forma de imagens cobertas pela música do compositor Guilherme Vaz.
Consolidou o desejo na exposição "Nósenãonós3Telas", que tem vernissage hoje, no Rio.
O brasileiro pensador é o próprio Bernardes, que passou cinco anos recentes apontando a câmera para todas as regiões do país. Fez isso em missão oficial, encomendada pela presidência de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). As andanças resultaram no filme institucional "Via Brasil".
Mas Bernardes achou que, "com todas as milhares de horas de imagens captadas", havia ficado "devendo outro filme ao povo brasileiro". Pretende saldar a dívida com o longa "Uiraquitã".
"Nósenãonós3Telas" é um aperitivo e introdução do longa, que está em preparação. Nessa "videosinfonia", como se define o trabalho que ocupa uma sala do Centro Cultural Banco do Brasil, o cineasta divide seu foco em três grandes questões: as cidades, o campo e o meio ambiente.
Para cada aspecto, Bernardes tem diagnóstico cortante, e a forma de apresentá-los ambiciona tirar o espectador de sua inércia.
"Sofremos de acefalia urbana. Falta pensamento sobre as nossas cidades, onde vivem 80% dos brasileiros. Tudo o que se faz é eleitoreiro, é esparadrapo, não há análise de novos modelos", diz.
As cidades estão presentes com tomadas aéreas das favelas, incursões pedestres por suas vielas e o registro de um "bonde" (ação coletiva de roubo e agressões).
No quesito do meio ambiente, Bernardes acha que o Brasil vive "o descalabro". "A terra do meio do Pará já vai embora, com uma derrubada impiedosa, e parece que ninguém percebe."
Para tornar a questão menos abstrata ao espectador urbano, Bernardes decidiu "derrubar na motosserra um apartamento inteiro -o sofá, os móveis, os eletrodomésticos".
Quanto ao campo, o cineasta avalia que o país "ainda está nas sesmarias". Sobre esse assunto, Bernardes apresenta menos uma crítica e mais uma exaltação ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Eles querem terra para plantar. Acho legítimo."
O cineasta diz que usa "ao bel-prazer o documentário e a ficção simultaneamente". Entende que essa é a maneira mais adequada para tratar questões complexas. "Não existe um "explicador de Brasil'", afirma. (SA)


NÓSENÃONÓS3TELAS - videoinstalação de Sérgio Bernardes, com música de Guilherme Vaz. Onde: CCBB (r. Primeiro de Março, 66, região central, Rio de Janeiro, 0/xx/21/3808-2020). Quando: visitação de amanhã a 6 de abril (de terça a domingo, das 12h às 20h). Quanto: entrada franca.


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