|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tom político marca festival alemão
PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
O Festival de Berlim sempre foi o mais político dos
grandes eventos cinematográficos europeus. Em 2004, esse aspecto parece mais forte, com reflexos na competição, na mostra
Panorama, nas homenagens (como o prêmio ao cineasta Fernando Solanas) e até nos debates.
A questão central de boa parte
dos filmes já não é tanto o horror
dos grandes conflitos, mas a possibilidade de superá-lo e avançar
histórica e individualmente. Nesse contexto, foi bom "Cold Mountain" ter iniciado o festival: nele, o
amor e o desejo sexual de um soldado o tornam um desertor.
O novo longa de John Boorman,
"Country of my Scull", passado
na África do Sul, chega no ano em
que se comemora o fim do apartheid. Mas Boorman tomou os caminhos mais fáceis: criou uma
história de amor que se tornou
mais importante que a política,
buscando a emoção fácil e reforçando certos estereótipos do continente africano. Foi, até agora, a
decepção do festival. Em compensação, o diretor croata Vinko
Bresan surpreendeu em "Svjedoci", visão do conflito sérvio-croata
mostrada do ponto de vista dos
croatas, mas sem condescendência que os tornem em vítimas.
A mostra Panorama também se
inaugurou com um filme fiel ao
caráter político. Em "Walking on
Water", de Eytan Fox, são traçados paralelos entre o sofrimento
dos judeus no passado e o dos palestinos no presente. A polêmica,
é claro, foi grande.
Todas essas questões se consolidaram no debate "Filmmaking
and Politics", em que se criticou
uma certa tendência politicamente correta do cinema político, sobretudo o americano.
A competição do festival segue
hoje com a projeção de "Samaria", de Kim Ki Duk (Coréia do
Sul), "Before Sunset", de Richard
Linklater (EUA) e "Feux Rouges",
de Cédric Kahn (França). Por enquanto, além do filme croata, surgiram também como candidatos
a prêmios o dinamarquês
"Forbrydelser", de Annette Olesen, que se apresenta como o último filme aprovado pela comissão
do Dogma 95; "Beautiful
Country", de Hans Peter Mollanda, saga de um migrante vietnamita para os EUA, e "El Abrazo
Partido", do argentino Daniel
Burman, que obteve ótima recepção na sessão para a imprensa,
ontem de manhã.
O crítico Pedro Butcher viajou a convite
da organização do festival
Texto Anterior: Solanas nas nuvens Próximo Texto: Frase Índice
|