São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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Tom político marca festival alemão

PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O Festival de Berlim sempre foi o mais político dos grandes eventos cinematográficos europeus. Em 2004, esse aspecto parece mais forte, com reflexos na competição, na mostra Panorama, nas homenagens (como o prêmio ao cineasta Fernando Solanas) e até nos debates.
A questão central de boa parte dos filmes já não é tanto o horror dos grandes conflitos, mas a possibilidade de superá-lo e avançar histórica e individualmente. Nesse contexto, foi bom "Cold Mountain" ter iniciado o festival: nele, o amor e o desejo sexual de um soldado o tornam um desertor.
O novo longa de John Boorman, "Country of my Scull", passado na África do Sul, chega no ano em que se comemora o fim do apartheid. Mas Boorman tomou os caminhos mais fáceis: criou uma história de amor que se tornou mais importante que a política, buscando a emoção fácil e reforçando certos estereótipos do continente africano. Foi, até agora, a decepção do festival. Em compensação, o diretor croata Vinko Bresan surpreendeu em "Svjedoci", visão do conflito sérvio-croata mostrada do ponto de vista dos croatas, mas sem condescendência que os tornem em vítimas.
A mostra Panorama também se inaugurou com um filme fiel ao caráter político. Em "Walking on Water", de Eytan Fox, são traçados paralelos entre o sofrimento dos judeus no passado e o dos palestinos no presente. A polêmica, é claro, foi grande.
Todas essas questões se consolidaram no debate "Filmmaking and Politics", em que se criticou uma certa tendência politicamente correta do cinema político, sobretudo o americano.
A competição do festival segue hoje com a projeção de "Samaria", de Kim Ki Duk (Coréia do Sul), "Before Sunset", de Richard Linklater (EUA) e "Feux Rouges", de Cédric Kahn (França). Por enquanto, além do filme croata, surgiram também como candidatos a prêmios o dinamarquês "Forbrydelser", de Annette Olesen, que se apresenta como o último filme aprovado pela comissão do Dogma 95; "Beautiful Country", de Hans Peter Mollanda, saga de um migrante vietnamita para os EUA, e "El Abrazo Partido", do argentino Daniel Burman, que obteve ótima recepção na sessão para a imprensa, ontem de manhã.


O crítico Pedro Butcher viajou a convite da organização do festival


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