São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

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Mal-humorado, Harrison Ford recebe jornalistas, fala de novo filme e diz que fará "Indiana Jones 4"

O eterno Indiana

Terry O'Neill/Getty Images
Harrison Ford, à época quase quarentão, em "Os Caçadores da Arca Perdida" (1981)


SÉRGIO RIZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A distância entre a suposta importância do que se diz e o modo indiferente de dizê-lo cria um estranho ruído. "Estamos muito perto de fazer "Indiana Jones 4". George [Lucas] e Steven [Spielberg] trabalham neste momento no roteiro", afirma ele, com voz quase inaudível, olhos vagando pelos cantos da sala, expressão de contrariado por estar ali e sem nenhuma preocupação em disfarçar o sentimento.
Harrison Ford, 63, não é assim apenas ao falar de Indiana Jones. Durante os 20 minutos de sua entrevista a um grupo de oito jornalistas estrangeiros do qual participou a Folha, por ocasião do lançamento de seu filme mais recente, "Firewall" (que estréia no dia 10 de março no Brasil), em um hotel de Beverly Hills, Califórnia, ele manteve o semblante carregado do momento em que entrou na sala até se despedir -o que, em seu caso, significa se levantar da mesa, agradecer e balbuciar algo como um "bye".
A fama precede o homem: o célebre mau humor de Ford nesses eventos de divulgação se confirma em menos de dois minutos de conversa -por assim dizer.
"Esta é a pior parte do seu trabalho?", pergunta a jornalista britânica à sua direita. "Sim", diz Ford. Silêncio. "Mas eu não odeio você, não tenho ressentimento." Constrangimento: a expressão é de quem tem algum, sim. Risos discretos na mesa. Apesar de tudo, ninguém quer irritar Han Solo. "Não gosto desta situação", começa ele a se explicar. "Sou uma pessoa normal e reservada. Não me acho interessante. Então, sinto-me aqui como se estivesse mentindo para vocês. E também há coisas que não posso dizer."
Muito razoável, sobretudo porque uma das omissões talvez diga respeito ao fato de que, apenas naquela manhã, ele atenderia a cinco grupos diferentes de jornalistas por quase duas horas. É provável que tenha ouvido perguntas idênticas e "estimulantes" a respeito de como cuida de seu físico para fazer cenas de ação sem dublê ("jogo um pouco de tênis"), de como foi o entrosamento com o elenco ("Paul Bettany tem muita noção de trabalho em conjunto") e de qual foi sua cena preferida ("não tenho nenhuma").
Dois dias antes, havia feito um périplo por Dallas para dar entrevistas à imprensa local. Não é uma agenda das mais agradáveis, e Ford afirma cumpri-la "em respeito ao público". "Encaro como uma obrigação, embora não seja contratual, para ajudar a despertar a atenção das pessoas para o filme." Ele diz se sentir mais à vontade em "talk shows", quando fala para a câmera, sem intermediários. "Ali, não estou pedindo para que ninguém acredite no que eu diga. É uma situação em que me deixo conhecer. O espectador tem a oportunidade de me ouvir."
Desde que os rumores sobre o quarto episódio da série Indiana Jones se tornaram mais fortes, há cerca de dois anos, circulam também dúvidas sobre qual seria o perfil do protagonista agora que Ford é um sexagenário - completa 64 anos em 13 de julho. "Ainda não estou me preparando para o papel porque o roteiro [cuja primeira versão foi escrita por Jeff Nathanson, de "Prenda-me se For Capaz'] não está pronto", resume. "Gostaria muito de fazer outra vez o personagem. Os três filmes são muito divertidos."
As cenas de ação de "Firewall" funcionam como uma espécie de demonstração do que ele ainda é capaz de fazer sem a ajuda de dublês. "Como ator, quero dar a chance de o público participar da história, e cenas de luta fazem parte. Há um monte de detalhes envolvidos. Não há por que não querer fazê-las. A preocupação é a de como fazê-las de maneira segura. Não sou um astro de ação. Sou um ator de cinema."
Como o personagem do filme é um especialista em informática, a curiosidade inevitável: gosta de computadores? "Eu os uso, apenas. Prefiro o telefone." Alguém arrisca, já com o ator em pé a caminho da saída, a perguntar se planeja fazer algo na linha de Harry Potter, "divertimento para famílias". "Não penso nisso. E a melhor coisa que famílias devem fazer é ficar em casa." A sério, sem meio sorriso.

O jornalista Sérgio Rizzo viajou a convite da Warner.

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