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Sessão de "O Ano" em Berlim seduz o júri e a imprensa
Filme do brasileiro Cao Hamburger recebe aplausos em sua primeira exibição, ontem, no festival de cinema alemão
Outro concorrente ao Urso de Ouro, "O Segredo de Berlim", com George Clooney e Cate Blanchett, divide platéia especializada
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
O filme brasileiro "O Ano em
que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, seduziu ontem o Festival de Berlim.
Terminou sob aplausos a primeira exibição do longa no festival, às 9h (6h, no horário de
Brasília), para a imprensa e para o júri da competição.
O segundo filme apresentado
ontem na disputa pelo Urso de
Ouro, "O Segredo de Berlim",
de Steven Soderbergh, teve
acolhida bem diferente -os
poucos aplausos ouvidos na
sessão de imprensa foram rebatidos por vaias. "O Segredo
de Berlim" é estrelado por
George Clooney, um correspondente de guerra, Tobey Maguire, um oficial americano, e
Cate Blanchett, a mulher disputada por ambos, na devastada Berlim de 1945. É filmado
em preto-e-branco, dirigido em
estilo noir e tem cenas abertamente decalcadas de "Casablanca", como o final numa pista chuvosa de aeroporto.
Hamburger comprovou a
aprovação de seu filme quando
chegou à sala de entrevistas coletivas e foi recebido por calorosas palmas dos jornalistas.
Acompanhado dos atores
Michel Joelsas (o garoto Mauro), Germano Hauit (Shlomo) e
do produtor Fabiano Gullane, o
diretor ouviu perguntas relacionadas sobretudo ao papel do
futebol na vida brasileira, à hipótese de a Copa de 70 ter sido
usada pela ditadura em seu favor e ao retrato que faz da comunidade judaica brasileira
nas cenas de seu longa.
O diretor afirmou que "a Copa de 70 foi uma arma para o
governo esconder o que estava
acontecendo, sim", mas ressalvou que "isso não foi um privilégio desse governo e dessa ditadura". Hamburger afirmou
discordar da idéia de que "o futebol é o ópio do povo", porque
acredita que "no Brasil, o futebol tem uma força maior do que
o governo e os regimes".
Depois de lembrar que a ditadura militar iniciada em 64 não
foi a única que o Brasil conheceu, o diretor disse que "é bom
lembrar as coisas que não foram boas, para não repeti-las".
Trilogia latina
Ao repórter estrangeiro que
mencionou a coincidência temática de "O Ano em que Meus
Pais Saíram de Férias" com o
chileno "Machuca", de Andrés
Wood, Hamburger, 44, disse
que seu filme forma "uma trilogia involuntária" com o de
Wood e "Kamchatka", do argentino Marcelo Piñeyro, por
tratarem os três da ditadura pela perspectiva de uma criança.
"Minha geração viveu a ditadura militar quando era criança. É natural que a abordássemos dessa forma", afirmou.
Joelsas teve de responder, se,
assim como seu personagem, é
um fanático por futebol. "Gosto
bastante de futebol, mas não
sou muito bom. Não (o suficiente) para ir para um time",
disse, sob o olhar atento de sua
mãe, na platéia.
O futebol foi o mote também
da última pergunta, feita pelo
moderador da entrevista, o italiano Vicenzo Bugno, que já havia mencionado no início suas
dolorosas lembranças da final
da Copa de 70, que a Itália perdeu para o Brasil. Bugno quis
saber se Hamburger ainda se
lembrava da escalação da seleção canarinho.
"Eu e quase todo mundo",
disse o diretor, emendando
com a citação dos 11 titulares do
Brasil, de Félix a Rivellino. Em
suma, a estréia de "O Ano em
que Meus Pais Saíram de Férias" no Festival de Berlim foi
um belo gol.
Leia na Folha Online a cobertura da sessão de gala do filme brasileiro em Berlim
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