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"Indicação ao Oscar foi um choque"
Diretor de
"Conduta de Risco",
que concorre em
sete categorias, diz
que filme só ganhou
recursos com a
entrada de George
Clooney
Tony Gilroy, também
roteirista do longa, dá "vivas"
ao ator e diz que Warner
entrou apenas quando
projeto já estava adiantado
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Surpresa no cenário de feroz
concorrência ao Oscar, "Conduta de Risco" (lançado no Brasil em dezembro, pela independente Imagem) foi um projeto complicado, que quase não saiu
do papel, como disse à Folha o
roteirista e diretor Tony Gilroy. O filme é a estréia de Gilroy na direção, depois de assinar dezenas de roteiros para Hollywood, incluindo "O Advogado do Diabo" (1997) e a bem-sucedida trilogia "Bourne".
Entre piquetes da greve de
roteiristas em Los Angeles e
preparativos para seu próximo
filme, Gilroy falou de suas expectativas em relação ao Oscar
e negou os boatos de que tenha
sido rancoroso ao reclamar da
ausência de George Clooney na
premiação do Sindicato dos Diretores: "Pelo contrário, eu
realmente lamentei a ausência
dele... George é meu amigo e,
no filme, foi meu salvador. Só
tenho "vivas" para George".
FOLHA - A corrida do Oscar deste
ano é das mais concorridas. Como
recebeu as sete indicações para
"Conduta de Risco"?
TONY GILROY - Até agora, eu só
havia observado esse processo
de fora, pois há dez anos faço
parte da Academia e voto no
Oscar. As pessoas se referem ao
processo como uma campanha,
e realmente é dessa forma que
funciona. Quando fizemos o filme, nós não tínhamos idéia do
que aconteceria com ele. Em
novembro, depois das exibições em Veneza e Toronto, as
pessoas não paravam de falar
em Oscar. Ao mesmo tempo, a
quantidade de bons títulos da
temporada anunciava que seria
uma competição dura. Acreditávamos ter alguma chance de
conseguir indicações nas categorias de melhor ator e roteiro,
mas conseguir sete, incluindo
as de melhor filme e direção, foi
um choque.
FOLHA - O Oscar é o único prêmio
que ainda tem relevância comercial.
Acredita que as indicações podem
dar uma segunda vida ao filme?
GILROY - "Conduta de Risco"
foi relançado pela Warner aqui
nos Estados Unidos e está em
cartaz em mais de mil cinemas.
Felizmente, temos uma distribuidora que acredita no filme e
que pode trabalhar com uma
campanha musculosa. Trabalhamos num sistema de pré-venda para mercados estrangeiros e, em alguns territórios, o filme ainda não estreou. Nesses casos, acho que as indicações serão ainda mais positivas.
FOLHA - Como o sr. avalia os seus
concorrentes?
GILROY - É um ano particularmente interessante. Gosto especialmente de "Sangue Negro", do Paul Thomas Anderson, que pode ser visto como
uma poderosa metáfora para as
questões da política e do uso
poder nos Estados Unidos; e de
"O Escafandro e a Borboleta",
com direção brilhante de Julian Schnabel.
FOLHA - À exceção do seu filme,
que nos Estados Unidos traz o selo
da Warner, todos os outros indicados na categoria principal foram viabilizados por produtoras independentes ou pelas divisões dos grandes estúdios voltadas ao "cinema de
arte". No entanto, "Conduta de Risco" também parece um filme independente.
GILROY - Mas, de fato, foi feito
de forma totalmente independente. A Warner entrou no projeto quando já estava adiantado. O filme foi uma aquisição do estúdio, que comprou os direitos de distribuição apenas para
os Estados Unidos, mas, na verdade, foi todo feito fora de suas
asas, com um orçamento de
US$ 20 milhões, bastante abaixo do padrão hollywoodiano.
Completamos o financiamento
com vendas para o mercado estrangeiro. Esse sistema, entre
outras coisas, permitiu que eu
mantivesse o direito sobre o
corte final.
FOLHA - O sr. aceitaria fazer um filme sem corte final?
GILROY - Sim, meu próximo filme, que começo a rodar daqui a
um mês, é o projeto de um
grande estúdio [Universal], em
que não tenho direito a corte final. Chama-se "Duplicity" e é
uma comédia romântica, com
Julia Roberts. É um estilo bem
diferente do de "Conduta de
Risco", apesar de também ter
como pano de fundo o mundo
das corporações e a espionagem. Vamos ver o que acontece,
vai ser a prova de fogo.
FOLHA - Como foi levantar o financiamento de "Conduta de Risco"?
GILROY - Escrevi o roteiro há
muitos anos, sob encomenda
da Castle Rock. Mas demorei
muito para entregar e, quando
ficou pronto, a Castle Rock não
era mais um estúdio. Gostava
bastante desse roteiro e queria
dirigi-lo. O projeto circulou durante anos. Sidney Pollack leu e
se interessou, mas não conseguiu levantar dinheiro; Steven
Soderbergh leu, mostrou para
George Clooney, mas ele estava
muito ocupado. Foram dois
anos e meio tentando levantar
dinheiro e procurando atores.
Estava quase desistindo quando George finalmente topou fazer. A partir daquele momento,
tudo ficou mais fácil.
FOLHA - Em alguns aspectos, "Conduta" traz um ponto de vista semelhante ao dos roteiros que você fez
para a trilogia "Bourne", que, no entanto, são adaptações de livros de
Robert Ludlum.
GILROY - Para ser sincero, eu
nunca usei os livros, nem sequer os li. "A Identidade Bourne" foi bastante problemático,
e ninguém apostou que poderia
fazer o sucesso que fez. Na verdade, fora o nome do personagem e a idéia central, os roteiros são obras totalmente originais. De alguma forma eles
guardam, sim, semelhanças
com "Conduta de Risco", porque quero falar de questões
pessoais. O verdadeiro perigo
não está lá fora, no "sistema",
no governo, nas religiões, no
exército, na corrupção, mas naquilo que está dentro de nós.
No fim das contas, tudo se resume a uma coisa só: a alguém
que pega o telefone e tem de tomar uma decisão.
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