São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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"Indicação ao Oscar foi um choque"

Diretor de "Conduta de Risco", que concorre em sete categorias, diz que filme só ganhou recursos com a entrada de George Clooney

Tony Gilroy, também roteirista do longa, dá "vivas" ao ator e diz que Warner entrou apenas quando projeto já estava adiantado

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Surpresa no cenário de feroz concorrência ao Oscar, "Conduta de Risco" (lançado no Brasil em dezembro, pela independente Imagem) foi um projeto complicado, que quase não saiu do papel, como disse à Folha o roteirista e diretor Tony Gilroy. O filme é a estréia de Gilroy na direção, depois de assinar dezenas de roteiros para Hollywood, incluindo "O Advogado do Diabo" (1997) e a bem-sucedida trilogia "Bourne".
Entre piquetes da greve de roteiristas em Los Angeles e preparativos para seu próximo filme, Gilroy falou de suas expectativas em relação ao Oscar e negou os boatos de que tenha sido rancoroso ao reclamar da ausência de George Clooney na premiação do Sindicato dos Diretores: "Pelo contrário, eu realmente lamentei a ausência dele... George é meu amigo e, no filme, foi meu salvador. Só tenho "vivas" para George".  

FOLHA - A corrida do Oscar deste ano é das mais concorridas. Como recebeu as sete indicações para "Conduta de Risco"?
TONY GILROY
- Até agora, eu só havia observado esse processo de fora, pois há dez anos faço parte da Academia e voto no Oscar. As pessoas se referem ao processo como uma campanha, e realmente é dessa forma que funciona. Quando fizemos o filme, nós não tínhamos idéia do que aconteceria com ele. Em novembro, depois das exibições em Veneza e Toronto, as pessoas não paravam de falar em Oscar. Ao mesmo tempo, a quantidade de bons títulos da temporada anunciava que seria uma competição dura. Acreditávamos ter alguma chance de conseguir indicações nas categorias de melhor ator e roteiro, mas conseguir sete, incluindo as de melhor filme e direção, foi um choque.

FOLHA - O Oscar é o único prêmio que ainda tem relevância comercial. Acredita que as indicações podem dar uma segunda vida ao filme?
GILROY
- "Conduta de Risco" foi relançado pela Warner aqui nos Estados Unidos e está em cartaz em mais de mil cinemas. Felizmente, temos uma distribuidora que acredita no filme e que pode trabalhar com uma campanha musculosa. Trabalhamos num sistema de pré-venda para mercados estrangeiros e, em alguns territórios, o filme ainda não estreou. Nesses casos, acho que as indicações serão ainda mais positivas.

FOLHA - Como o sr. avalia os seus concorrentes?
GILROY
- É um ano particularmente interessante. Gosto especialmente de "Sangue Negro", do Paul Thomas Anderson, que pode ser visto como uma poderosa metáfora para as questões da política e do uso poder nos Estados Unidos; e de "O Escafandro e a Borboleta", com direção brilhante de Julian Schnabel.

FOLHA - À exceção do seu filme, que nos Estados Unidos traz o selo da Warner, todos os outros indicados na categoria principal foram viabilizados por produtoras independentes ou pelas divisões dos grandes estúdios voltadas ao "cinema de arte". No entanto, "Conduta de Risco" também parece um filme independente.
GILROY
- Mas, de fato, foi feito de forma totalmente independente. A Warner entrou no projeto quando já estava adiantado. O filme foi uma aquisição do estúdio, que comprou os direitos de distribuição apenas para os Estados Unidos, mas, na verdade, foi todo feito fora de suas asas, com um orçamento de US$ 20 milhões, bastante abaixo do padrão hollywoodiano. Completamos o financiamento com vendas para o mercado estrangeiro. Esse sistema, entre outras coisas, permitiu que eu mantivesse o direito sobre o corte final.

FOLHA - O sr. aceitaria fazer um filme sem corte final?
GILROY
- Sim, meu próximo filme, que começo a rodar daqui a um mês, é o projeto de um grande estúdio [Universal], em que não tenho direito a corte final. Chama-se "Duplicity" e é uma comédia romântica, com Julia Roberts. É um estilo bem diferente do de "Conduta de Risco", apesar de também ter como pano de fundo o mundo das corporações e a espionagem. Vamos ver o que acontece, vai ser a prova de fogo.

FOLHA - Como foi levantar o financiamento de "Conduta de Risco"?
GILROY
- Escrevi o roteiro há muitos anos, sob encomenda da Castle Rock. Mas demorei muito para entregar e, quando ficou pronto, a Castle Rock não era mais um estúdio. Gostava bastante desse roteiro e queria dirigi-lo. O projeto circulou durante anos. Sidney Pollack leu e se interessou, mas não conseguiu levantar dinheiro; Steven Soderbergh leu, mostrou para George Clooney, mas ele estava muito ocupado. Foram dois anos e meio tentando levantar dinheiro e procurando atores. Estava quase desistindo quando George finalmente topou fazer. A partir daquele momento, tudo ficou mais fácil.

FOLHA - Em alguns aspectos, "Conduta" traz um ponto de vista semelhante ao dos roteiros que você fez para a trilogia "Bourne", que, no entanto, são adaptações de livros de Robert Ludlum.
GILROY
- Para ser sincero, eu nunca usei os livros, nem sequer os li. "A Identidade Bourne" foi bastante problemático, e ninguém apostou que poderia fazer o sucesso que fez. Na verdade, fora o nome do personagem e a idéia central, os roteiros são obras totalmente originais. De alguma forma eles guardam, sim, semelhanças com "Conduta de Risco", porque quero falar de questões pessoais. O verdadeiro perigo não está lá fora, no "sistema", no governo, nas religiões, no exército, na corrupção, mas naquilo que está dentro de nós. No fim das contas, tudo se resume a uma coisa só: a alguém que pega o telefone e tem de tomar uma decisão.


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