São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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A bacante

Ex-atriz do Oficina, Karina Buhr parte do regional para o urbano e desponta em CD solo

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Suponhamos que seja tudo mentira. Que, com a experiência de atriz estruturada em intensos anos de Teatro Oficina, a pernambucana Karina Buhr, 35, esteja dissimulando o drama que encena agora nas canções de "Eu Menti pra Você", álbum em que estreia solo.
Autora das letras e das músicas, ela desenvolve personagens por vezes dissonantes. Começa se assumindo "uma pessoa má". E termina por tornar-se a menina desencanada que não está "a fim de corre-corre", que quer "passar a tarde estourando plástico bolha".
Qual delas é Karina Buhr? "Adoro deixar dúvidas", diz. "Só quem me conhece muito bem sabe o que de mim existe em todas elas. Outras pessoas se confundem quando ouvem essas coisas ditas por mim."
De todas as personas de "Eu Menti...", apenas a impressa em "Ciranda do Incentivo" esbarra no que já se conhece de Karina. A canção dá voz a uma artista que tem intenção de "fazer uma ciranda pra botar o disco na lei de incentivo à cultura".
Isso porque, desde 1997, Karina integra o grupo Comadre Fulozinha, que faz música influenciado pelo canto de resposta das mulheres nos cocos, cirandas e maracatus.
"Fiz essa música quando me ocorreu que não conseguiria aprovar esse disco em canto nenhum por ele não ter esse tipo de apelo. Aí comecei a brincar que ia fazer uma ciranda", diz.
Fez. No arranjo, travestiu a ciranda de funk carioca. E bancou o disco do próprio bolso.
Para viabilizar o projeto, contou com a colaboração de amigos pernambucanos que, como ela, também moram por aqui. Mais que eles, cooperaram os novos amigos paulistas.
A ficha técnica enumera alguns nomes promissores da geração 2000, como Fernando Catatau (do Cidadão Instigado), Marcelo Jeneci e Guizado.

São Paulo
Foi em show do Comadre Fulozinha que Zé Celso Martinez Corrêa, de passagem por Recife com uma peça, viu Karina pela primeira vez, em 1998.
Depois da apresentação, convidou a cantora para integrar o elenco do Oficina. Ela seria uma das bacantes e, além de cantar e tocar, teria texto. Mas o maior desafio era outro: precisaria vir morar em São Paulo.
"Eu estava vivendo muita coisa em Recife e não queria sair", lembra. "A cidade vivia um burburinho gigante com as bandas. Ia para todos os shows do Mestre Ambrósio, Eddie, Mundo Livre e comecei a participar disso muito fortemente."
"Bacantes" estreou às vésperas do ano 2000 e Karina não estava no elenco. Entraria só no ano seguinte, quando o convite foi refeito. Fez a temporada, gravou o DVD da peça e voltou para Recife. Em 2002, tudo de novo -desta vez para outro espetáculo, "Os Sertões".
"Só tive coragem de vir morar aqui de vez em 2004 e por causa do Oficina", diz. "Fiz cinco peças, que somaram mais de 30 horas [de encenação]. E por quase cinco anos. Depois disso, só partindo para um trabalho em que estivesse sozinha, que botasse minha cara à tapa."
Essa função coube a "Eu Menti pra Você". E Karina vem exposta já no close solitário da foto da capa. Parece triste, há um tom de desespero melodramático na maneira como puxa os cabelos com as mãos, o olhar desesperançado.
Quem vir o trabalho nas lojas sem aviso prévio pode até achar que se trata de uma sucessora de Maysa. É tudo mentira.


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