São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

Cantora fornece leveza do pop a um clima épico

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

A passagem pelo teatro deixou marcas na música de Karina Buhr. A cantora, no entanto, digeriu à sua maneira o espírito antropofágico do Oficina. "Eu Menti pra Você" é como se fosse Zé Celso filtrado por Felipe Hirsch, ou Glauber Rocha incorporado em Fernando Meirelles. A intensidade e o caos estão lá, mas num formato mais pragmático.
Nas canções, Karina parece sempre prestes a explodir. A voz suave e doce serve como contraponto e refúgio a letras que remetem a imagens grandiosas, em que morte, ira e calor são temas frequentes.
É o formato pop que molda canções como a faixa-título, em que a guitarra de Edgard Scandurra e o trompete de Guizado conferem um tom relaxado e onírico. O choque entre forma e conteúdo fica evidente na letra: "Eu sou uma pessoa má/.../que pena eu não sou o que você quer de mim".
Há exceções. No empolgante rock "Nassíria e Najaf", Karina solta o freio e deixa vir o tom épico. "Está chovendo fogo/ e as ruas estão queimando/.../ Dorme logo antes que você morra!"). "Soldat" é um thrash metal moderno, sem vocal de monstro. Mexer em gêneros consagrados, aliás, é uma das saudáveis ousadias do álbum. Quando descreve a vontade de dedicar a tarde ao ócio, em "Plástico Bolha", funde reggae, ska e marchinha de Carnaval.
Mas Karina não é daquelas cantoras "intensas", ou seja, mala. Seu humor não tenta ser engraçado. Ela vê leveza até no pesado. "A todo momento alguém vira pó", canta em "Vira Pó". No funk "Ciranda do Incentivo", ela se mostra excelente cronista dos dilemas que artistas enfrentam para se beneficiarem de leis de incentivo à cultura. "Eu Menti pra Você" é o primeiro grande disco de música brasileira de 2010.


EU MENTI PRA VOCÊ

Artista: Karina Buhr
Lançamento: independente (distribuição Tratore)
Quanto: R$ 20, em média
Avaliação: bom




Texto Anterior: A bacante
Próximo Texto: Comentário: Karina vem epifânica, agora Só(lo) e a PÉ
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.