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Crítica
Cantora fornece leveza do pop a um clima épico
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
A passagem pelo teatro
deixou marcas na música de Karina Buhr. A
cantora, no entanto, digeriu à
sua maneira o espírito antropofágico do Oficina. "Eu Menti
pra Você" é como se fosse Zé
Celso filtrado por Felipe
Hirsch, ou Glauber Rocha incorporado em Fernando Meirelles. A intensidade e o caos estão lá, mas num formato mais
pragmático.
Nas canções, Karina parece
sempre prestes a explodir. A
voz suave e doce serve como
contraponto e refúgio a letras
que remetem a imagens grandiosas, em que morte, ira e calor são temas frequentes.
É o formato pop que molda
canções como a faixa-título, em
que a guitarra de Edgard Scandurra e o trompete de Guizado
conferem um tom relaxado e
onírico. O choque entre forma e
conteúdo fica evidente na letra:
"Eu sou uma pessoa má/.../que
pena eu não sou o que você
quer de mim".
Há exceções. No empolgante
rock "Nassíria e Najaf", Karina
solta o freio e deixa vir o tom
épico. "Está chovendo fogo/ e
as ruas estão queimando/.../
Dorme logo antes que você
morra!"). "Soldat" é um thrash
metal moderno, sem vocal de
monstro. Mexer em gêneros
consagrados, aliás, é uma das
saudáveis ousadias do álbum.
Quando descreve a vontade
de dedicar a tarde ao ócio, em
"Plástico Bolha", funde reggae,
ska e marchinha de Carnaval.
Mas Karina não é daquelas
cantoras "intensas", ou seja,
mala. Seu humor não tenta ser
engraçado. Ela vê leveza até no
pesado. "A todo momento alguém vira pó", canta em "Vira
Pó". No funk "Ciranda do Incentivo", ela se mostra excelente cronista dos dilemas que artistas enfrentam para se beneficiarem de leis de incentivo à
cultura. "Eu Menti pra Você" é
o primeiro grande disco de música brasileira de 2010.
EU MENTI PRA VOCÊ
Artista: Karina Buhr
Lançamento: independente (distribuição Tratore)
Quanto: R$ 20, em média
Avaliação: bom
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