São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Dr. Smith" e "Mister Magoo" querem a sua parte

especial para a Folha

A infância de milhões de brasileiros teria sido bem menos divertida se não existissem Borges de Barros e José Soares. Remanescentes da primeira geração de dubladores do Brasil, Barros e Soares dublaram personagens clássicos da TV.
O primeiro é a voz oficial de Moe, de "Os Três Patetas", e do Dr. Smith, da série "Perdidos no Espaço". Dublou também todos os filmes de Edward G. Robinson e Charles Laughton. José Soares dublou o gordo Oliver Hardy, o míope Mister Magoo, além de filmes com Walter Matthau e Boris Karloff.
Há mais de 40 anos no ramo, os dois continuam na batalha para receber pelos antigos trabalhos. "Dublar é uma arte que requer muita experiência e talento," gaba-se Borges de Barros. "Se os desenhos animados fossem legendados, ninguém assistiria. Acho que, se as emissoras e as distribuidoras continuam ganhando com os programas, nós também merecemos a nossa parte."
A dupla é uma fonte inesgotável de histórias curiosas. José Soares -que, além de dublador, é roteirista, tendo escrito cinco longas-metragens de Mazzaroppi- lembra de um episódio em que teve de dublar os filmes mudos do Gordo e o Magro, tamanho o sucesso da série. "Já não havia episódios sonoros para dublar, então pegamos cerca de 30 episódios mudos, tiramos os intertítulos, e inventamos os diálogos."
Borges de Barros se orgulha de ter inventado -junto com o tradutor Hélio Porto, que considera "um gênio"- alguns dos bordões e frases mais famosos da TV, como o xingamento "Cabeça de pudim!", proferido pelo pateta zangado Moe cada vez que Larry ou Curly faziam uma besteira, ou o imortal "Não tema, com Smith não há problema", do Dr. Smith.
Borges chegou a conhecer, nos anos 60, o ator que interpretava Smith, o americano Jonathan Harris. "Ele veio ao Brasil para receber um prêmio por "Perdidos no Espaço", e acabamos nos conhecendo no programa da Hebe Camargo. Ele me disse que considerava minha dublagem de Smith a melhor do mundo. Depois, me deu uma cantada e perguntou se eu não queria passar um tempinho na casa dele, na Califórnia. Fiquei orgulhoso com o elogio, mas achei melhor recusar o convite."
Apesar da adoração de alguns abnegados, que inclusive mantêm fã-clubes das séries, os dubladores se dizem magoados com a falta de reconhecimento. "Não assisto às séries na TV, fico até com raiva," reclama Borges. "Eles não tiveram a decência sequer de incluir nossos nomes nos créditos."
E ironizam as incursões de atores "globais", como Rodrigo Santoro, no mundo da dublagem. "Sei que ele andou dublando uns filmes por aí," diz Borges. "Para falar a verdade, nem ouvi. Não vai demorar muito e o Matteo (Thiago Lacerda) vai começar a dublar, só porque é galãzinho. Porque diabos não me chamam então para dar uns beijos na Ana Paula Arósio?" (AB)


Texto Anterior: Família de "Chaves" tem dificuldades
Próximo Texto: Cinema/Estréia - "A Casa da Colina": Fantasmas do dinheiro rondam novo Zemeckis
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.