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"Dr. Smith" e "Mister Magoo" querem a sua parte
especial para a Folha
A infância de milhões de brasileiros teria sido bem menos divertida se não existissem Borges de
Barros e José Soares. Remanescentes da primeira geração de dubladores do Brasil, Barros e Soares dublaram personagens clássicos da TV.
O primeiro é a voz oficial de
Moe, de "Os Três Patetas", e do
Dr. Smith, da série "Perdidos no
Espaço". Dublou também todos
os filmes de Edward G. Robinson
e Charles Laughton. José Soares
dublou o gordo Oliver Hardy, o
míope Mister Magoo, além de filmes com Walter Matthau e Boris
Karloff.
Há mais de 40 anos no ramo, os
dois continuam na batalha para
receber pelos antigos trabalhos.
"Dublar é uma arte que requer
muita experiência e talento," gaba-se Borges de Barros. "Se os desenhos animados fossem legendados, ninguém assistiria. Acho
que, se as emissoras e as distribuidoras continuam ganhando com
os programas, nós também merecemos a nossa parte."
A dupla é uma fonte inesgotável
de histórias curiosas. José Soares
-que, além de dublador, é roteirista, tendo escrito cinco longas-metragens de Mazzaroppi- lembra de um episódio em que teve
de dublar os filmes mudos do
Gordo e o Magro, tamanho o sucesso da série. "Já não havia episódios sonoros para dublar, então
pegamos cerca de 30 episódios
mudos, tiramos os intertítulos, e
inventamos os diálogos."
Borges de Barros se orgulha de
ter inventado -junto com o tradutor Hélio Porto, que considera
"um gênio"- alguns dos bordões e frases mais famosos da TV,
como o xingamento "Cabeça de
pudim!", proferido pelo pateta
zangado Moe cada vez que Larry
ou Curly faziam uma besteira, ou
o imortal "Não tema, com Smith
não há problema", do Dr. Smith.
Borges chegou a conhecer, nos
anos 60, o ator que interpretava
Smith, o americano Jonathan
Harris. "Ele veio ao Brasil para receber um prêmio por "Perdidos
no Espaço", e acabamos nos conhecendo no programa da Hebe
Camargo. Ele me disse que considerava minha dublagem de Smith
a melhor do mundo. Depois, me
deu uma cantada e perguntou se
eu não queria passar um tempinho na casa dele, na Califórnia. Fiquei orgulhoso com o elogio, mas
achei melhor recusar o convite."
Apesar da adoração de alguns
abnegados, que inclusive mantêm
fã-clubes das séries, os dubladores se dizem magoados com a falta de reconhecimento. "Não assisto às séries na TV, fico até com
raiva," reclama Borges. "Eles não
tiveram a decência sequer de incluir nossos nomes nos créditos."
E ironizam as incursões de atores "globais", como Rodrigo Santoro, no mundo da dublagem.
"Sei que ele andou dublando uns
filmes por aí," diz Borges. "Para
falar a verdade, nem ouvi. Não vai
demorar muito e o Matteo (Thiago Lacerda) vai começar a dublar,
só porque é galãzinho. Porque
diabos não me chamam então para dar uns beijos na Ana Paula
Arósio?"
(AB)
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