PAULO VIEIRA
especial para a Folha

William Castle (1914-1977) ganhou o apelido de Hollywood Shock King por suas quatro décadas de filmes B com direito a truques de publicidade, como esqueletos de verdade atravessando a platéia e ambulâncias à porta dos cinemas. Não faria muito sentido hoje, e o remake de um de seus filmes do final dos anos 50, "House on Haunted Hill", não se submete a tais estratégias heterodoxas.
"A Casa da Colina", o remake, produzido pelo Zemeckis de "Forrest Gump" -o diretor não importa muito-, contudo, diz muito a respeito da indústria e suas estratégias, hoje.
Algo assim: há um filme já feito por um diretor que, ignorado pelas novas gerações, tornou-se -ou tornar-se-ia agora- cult; um elenco que mistura prestígio (Geoffrey Rush, Oscar de melhor ator por "Shine") com gente "cool" (Chris Kattan, do "Saturday Night Live"), algum dinheiro (US$ 20 milhões declarados) e 3.000 telas no fim-de-semana de estréia. Quanto ao roteiro, basta que não seja totalmente insano.
O argumento, usa-se o mesmo do original. Cinco infelizes são convidados para a festa de aniversário de um casal excêntrico, fora de suas relações, numa casa assombrada (OK, numa colina assombrada). Ganha US$ 1 milhão (100 vezes mais que no filme de Castle) quem sair daí vivo.
A casa foi um antigo hospital psiquiátrico dos anos 30, palco de carnificinas em nome da ciência -vemos cenas pesadas em flashback, na abertura. Daí surgem câmaras de hipnose e paus-de-arara requintados, com os quais os protagonistas irão se ter.
Com tamanho esforço cenográfico, falta terror psicológico neste terror "anos 90".
Nada de mãos que varam portas de um "Repulsa ao Sexo", de Polanski, por exemplo. Nada de silêncios e faces assustadas da maravilhosa armação de "A Bruxa de Blair".
Os fantasmas que sobram aqui, espreitando a platéia, são executivos em salas amplas, almoços caros, banheiros com bancadas de mármore, charutos e gastrites.

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