São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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Três versões de Olimpo


Fim do século e sucesso de coletânea de contos da editora Objetiva dão impulso a trio de antologias que buscam definir o panteão da poesia brasileira dos últimos cem anos


CASSIANO ELEK MACHADO
FRANCESCA ANGIOLILLO

DA REPORTAGEM LOCAL
Três projetos sem nenhuma ligação entre si estão colocando a poesia brasileira em um momento antológico. Literalmente.

Impulsionadas pelo final do século 20, três antologias de versos nacionais chegam este ano às livrarias, cada uma com seu panteão de poetas.
A primeira já está nas prateleiras. "Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século" (Geração Editorial), com seleção do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto, foi publicada em fevereiro e já vendeu os 5.000 exemplares de sua primeira edição.
Com uma letra de diferença no título, "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século" será lançada pela Objetiva na Bienal do Livro do Rio, em maio.
O projeto usa o mesmo molde -do organizador, Italo Moriconi, ao projeto gráfico- de uma antologia de contos que chacoalhou o mercado no ano passado.
Desde maio, quando foi publicada, também pela Objetiva, "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século" vendeu 50 mil cópias, ficando entre os dez best sellers do ano, segundo a revista "Veja".
Uma terceira empreitada projeta um olimpo bem distinto dos predecessores. "100 Anos de Poesia - Panorama da Poesia Brasileira do Século 20" pretende ultrapassar o caráter de coletânea para ganhar ares de enciclopédia. Organizado em dois volumes pelos poetas Claufe Rodrigues e Alexandra Maia, o livro, que inclui 20 ensaios e um perfil de cada um dos poetas selecionados, deve ser lançado no segundo semestre.
Algumas unanimidades aproximam os três projetos. Seus nomes são Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto -a "santíssima trindade"-, além de um punhado de versejadores de talento indiscutível. O consenso não se estende aos critérios de seleção.
"Minha antologia é bem diferente da feita pela Geração. No meu caso, é uma antologia de poemas, e não de poetas. Além disso, esta minha antologia pretende ser, como um todo, um livro de poesia, agradável do começo ao fim", diz Italo Moriconi.
"Que ninguém tenha a ilusão de que está comprando um livro de um especialista, um crítico. Meu trabalho foi como o do editor de jornal, que decide qual texto sai e qual não", frisa Nêumanne. Ele ressalta que gosto e cultura pessoais foram seus parâmetros.
O editor da Geração, Luiz Fernando Emediato, explica como, a partir do sucesso da antologia de prosa da Objetiva, idealizou "Os Cem Melhores Poetas": "Conto, que não vendia, vendeu. E se eu fizesse uma antologia de poesia?".
O editor diz que chegou a pensar em convidar Moriconi. "Mas não teria paciência de esperar o Italo ler milhares de poemas para escolher cem melhores poemas de 20, 25 poetas. Sabia que Nêumanne faria em dois meses." Segundo as previsões de Emediato, a antologia da Objetiva será "mais complexa e elitizada".
"Creio que logrei uma sequenciação de poemas dotada de certa dramaticidade, que funciona como uma espécie de enredo, um guia constelado de temas e ênfases", conta Moriconi.
O professor de literatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro diz que usou um critério cronológico flexível, com "uma certa interpenetração de épocas". "É que em poesia, como bem lembrou gente como Octavio Paz e antes dele T. S. Eliot e, antes ainda, Baudelaire, existe um valor histórico e simultaneamente um valor ahistórico, puramente estético."
No trabalho, que fez tendo na retaguarda a diretora da Objetiva, Isa Pessoa, e a agente literária Lúcia Riff, Moriconi selecionou textos de 61 escritores.
A lista completa de poemas permanece no cofre da editora Objetiva. Moriconi revela apenas que os mais antigos são dois escritos por Olavo Bilac em 1902 e que, entre os mais recentes, estão alguns publicados nos últimos anos do século, feitos por nomes como Antonio Cicero, Carlito Azevedo, Rodrigo Garcia Lopes e Claudia Roquette-Pinto.
A relação de textos que estarão no projeto "100 Anos de Poesia" está igualmente invisível. Não por segredo, mas porque ela ainda está sendo elaborada. Os organizadores já trabalham, porém, com a lista dos poetas contemplados. São 105 autores, do "a" do mineiro Abgar Renault (1901-1995) ao "z" do cordelista paraibano Zé Limeira (1886-1954), escolhidos com a ajuda de 18 consultores.
"No nosso caso, os poemas não são o supra-sumo. Temos outros atrativos, como ensaios e uma cronologia da cultura brasileira do século", diz Claufe Rodrigues.
Para Emediato, o "supra-sumo" seria o formato em si. "Algo me diz que tem menos a ver com poesia que com curiosidade", arrisca, tentando explicar o sucesso comercial de sua coletânea. "Talvez seja uma mania do brasileiro de fazer coleção. Estou chegando à conclusão de que essa é uma maneira de vender livro no Brasil."


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