São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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LIVRO/LANÇAMENTO

TRIBUTO

Biógrafo do compositor dá palestra e faz tarde de autógrafos em São Paulo; Osesp interpreta "Missa em Si Menor"

Bach é homenageado em concerto e livro

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando o assunto é música, nada melhor do que música para ilustrar o papo. O suíço Franz Rueb lança hoje, na sala São Paulo, o livro "48 Variações sobre Bach", em palestra e tarde de autógrafos seguida de apresentação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
Rueb dá sua conferência às 14h30, em alemão ("não consigo falar de Bach em outra língua", justifica-se), com tradução realizada pelo Instituto Goethe.
Para participar, basta ter o ingresso para o concerto, às 16h30, que terá no programa a "Missa em Si Menor", com regência de John Neschling e a soprano francesa Véronique Gens.
Resultado de dois anos e meio de trabalho, o livro foi lançado em fevereiro de 2000, em meio às comemorações do 250º aniversário de morte do compositor.
Que não se esperem análises técnicas profundas, nem "musicologuês" do livro. "Não sou historiador da música nem musicista", afirma. "Na música, sou um autodidata, algo que Bach era."
Em linhas gerais, Rueb produziu uma obra apaixonada e glorificadora do compositor alemão (que ele chama de "Kunstgott", deus da arte). O contexto histórico e a posição social do compositor estão bem delimitados, e há discussões interessantes sobre a ideologia de Bach, como sua relação com o Iluminismo, com o anti-semitismo e sua religiosidade.
E, se falta profundidade na análise da música instrumental de Bach, Rueb compensa investigando entre texto musical e texto literário nas cantatas e oratórios, dedicando-se a mapear a vida e a produção de seus libretistas.
Este tipo de aproximação talvez se explique pela biografia de Rueb. Tendo atuado como dramaturgo em Berlim, o suíço passou ao jornalismo, trabalhando como crítico de teatro e cinema.
Posteriormente, virou um escritor especializado em história da cultura, com enfoque nos séculos 15, 16 e 17. "Há muito tempo queria escrever sobre Bach", diz. "Ocupei-me dele nos últimos dez anos, especialmente das obras vocais. Já tinha a palavra "variações" na cabeça, e desenvolvi lentamente o conceito a partir de meu método de pesquisa."
Variação era uma das formas musicais preferidas de Bach. Para cada tema abordado, Rueb organizou um pasta com notas e esboços. "Elas eram 50 ou 60. Optei pelo número de 48 porque são duas vezes os 24 prelúdios e fugas do "Cravo Bem-Temperado" (principal obra de Bach para teclado)."
Essas notas e esboços foram resultados de pesquisas feitas fundamentalmente nas bibliotecas da cidade de Rueb, Zurique. "Passei ainda quatro semanas em Leipzig (onde Bach morou de 1723 até sua morte, em 1750), pesquisando o Arquivo Bach", conta.
Que não se esperem do livro, contudo, informações inusitadas. "De novo, não há nada", admite o autor. Por que, então, fazer um novo livro? "Há grandes temas como Napoleão, Revolução Francesa, Mozart, Michelangelo, Bach, que são infindáveis", responde. "É sempre possível trazer novos pontos de vista."
Sua preocupação maior, no livro, é livrar Bach dos "clichês" dos quais o compositor é "vítima". "A história da recepção de sua música é condicionada pelas correntes da época, do espírito da época, das tendências, dos desejos que nele foram projetados etc.."



Evento: palestra e tarde de autógrafos com Franz Rueb, autor de "48 Variações sobre Bach", e concerto da Osesp
Quando: hoje, às 14h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, tel. 0/xx/11/3337-5414)
Quanto: de R$ 10 a R$ 30




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